7. A solidão de Charlie

75 6 0
                                    

Fevereiro de 1998

Querido amigo,
Hoje enquanto assistia TV na hora do almoço, vi num rápido comercial um aviso de o mal que o cigarro faz para as pessoas, e eu comecei a lembrar do tempo que usava. Você sabe que eu fumei por um tempo, só para distrair, sabe... a Candace quando estava grávida pediu que eu parasse de fumar seja cigarros ou maconha. Sei que a maconha mata, ela destrói a cabeça... parei de usar assim que parei de ver o Bob, foi um momento de diversão... afinal, tinha acabado de descobrir um mundo lá fora — o mesmo eu fiz com o cigarro, antes que ele me faça mal no futuro... eu quero ser pai um dia, quero ser livre e ter saúde. Então aconselho a você a nunca entrar nesse mundo de vícios, seja ele, do fumo ou da bebida também.

Eu preciso dizer uma coisa: eu não me senti bem ao ir à escola hoje, tive as tristes lembranças do suicídio de Michael... o tormento pequeno veio na hora da troca de aula assim que saí da sala. Michael devia ter deixado pelo menos um bilhete, não acha? Também me lembro de quando estudei e era invisível na classe, no refeitório e no intervalo... eu acho que ainda sofro um pouco disso — é horrível você não ter ninguém para conversar na classe, ter medo das outras pessoas por que elas te zoam... ficar no intervalo sozinho, e ninguém querer sentar perto para comer, eu sempre tive vontade de ter alguém me fazer companhia nessas horas para poder conversar... mas eu era invisível. Parece que as pessoas inclusive as meninas, exceto a Susan, me odiavam... Sabe o que eu fazia todos os dias? Eu queria chorar, fiquei triste nos intervalos, pegava minha bandeja com a comida e um livro ou um pedaço de papel e um lápis e sentava numa mesa vazia... ficava lá quietinho olhando para o refeitório e como as pessoas se comportavam, via eles felizes, e me senti cada vez mais sozinho e invisível. Com o tempo eu acostumei com a solidão, eu sempre fui sozinho só que ao conhecer o Michael ela diminuiu, quando ele se foi, ela voltou com força ao se juntar com os tormentos e a depressão. Confesso que foram dias de angústia, até que encontrei seu endereço na lista telefônica e comecei a escrever, para ter alguém para me ouvir — naquele momento não queria saber se conhecia ou não você, só queria ser ouvido por que estava muito ruim o silêncio... e na mesma época conheci a Sam e o Patrick, eles vieram na hora certa, fora que também conheci a Alice, a Mary, o Bob e não me senti mais sozinho, por que vocês me ajudaram e não tenho palavras para agradecer!

Assim que me recuperar, ser feliz ao lado da Sam, se eu um dia for namorado dela (se o destino quiser), eu vou tratá-la com todo carinho e atenção que puder dar, o mesmo vai acontecer se eu for papai um dia. Sempre vou incentivar meu filho a conviver com outras criancinhas desde o jardim de infância, para que elas não passem por isso.


Com amor, Charlie.

Querido Charlie (fanfic AVDSI)Onde histórias criam vida. Descubra agora