gabriel.

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Entro receosa no jardim colorido e iluminado do campus, com o salto batendo nas pedras do calçamento e as mãos suando de ansiedade. Viro a direita no corredor da sala de literatura americana, minha aula preferida, e entro na sala minúscula e pouco iluminada da Senhora Tate

- Bom dia senhora Tate, como está hoje?
Pego uma florzinha que colhi antes de entrar e entrego em suas mãos trêmulas, que levam a flor ao nariz pequeno e pálido dela.

- Oh querida, muito obrigada. É linda!
Sorrio e olho em volta, para as pessoas sentadas no canto da sala, segurando papéis que definirão suas vidas acadêmicas

- Como está o papai hoje? - ela suspira e olha pro computador, com o óculos quase caindo do rosto fino e enrugado

- Está estressado, como todos os dias - bufo, e olho para o relógio

- São 8 horas da manhã pelo amor de Deus ! Vou entrar.
Ela sibila um "boa sorte" baixinho e eu sorrio, antes de abrir a porta e dar de cara com meu pai debruçado na mesa, escrevendo em um papel com sua caneta preferida a mão

- Bom dia pai - Sento na cadeira a frente de sua mesa e o olho.

- Bom dia filha - ele ergue o olhar para mim e sorri

- Chegou cedo hoje, conseguiu pelo menos dormir?

- O senhor sabe que não - me levanto e começo a andar pela sua sala extremamente marrom.

- Aqui está, tome cuidado, por favor. - ele me entrega a chave do seu precioso Porsche e eu sorrio, feliz.

- Quem é o melhor pai do mundo? - ando até sua cadeira e deposito um beijo em sua bochecha

- Eu sou, agora pare de me bajular e vá logo, quero essa chave em minhas mãos antes das 20 horas, me ouviu? - olha sério pra mim

- Ouvi pai! Fica calmo, não vou sequestrar seu filho - reviro os olhos e me direciono até a porta

- Filha? - viro para ele

- Sim, pai? - ele sorri

- Eu amo você

- Também amo você

Saio da sala animada e solto um beijinho rápido para a Senhora Tate, que carimba mais uma matrícula.
Ando até o estacionamento do campus, devagar e calma, quem precisa de pressa quando vai dirigir um Porsche não é mesmo? Avisto o veículo preto e brilhante do outro lado do vasto espaço lotado de carros e vou com todo cuidado para não cair dos meus saltos que a cada passo fica preso nas pedrinhas minúsculas do maldito asfalto.
Ao chegar no carro, abro a porta e me sento no banco de couro com cheiro de perfume do meu pai, francês.
Ligo o carro e escuto o barulho tranquilizante do motor pronto pra ser usado, saio do campus e começo a dirigir em direção a San Diego.

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- Amigaaaaaaaa - ela se lança sobre mim, me derrubando no chão recém encerado

- Aí! Sua louca, me solta.- ela sai de cima de mim e enquanto me levanto, fico observando a mesma dar vários pulinhos de excitação

- Eu tava com tantas saudades! Tenho tanta coisa pra te mostrar...- me abraça de novo e deposita um beijo molhado em minha bochecha

- Também estava com saudades, cadê o Mark?

- Ele foi pra uma conferência em Connecticut então nós temos a casa só pra nós!

Mark é o irmão super inteligente e bonito da Katie, os dois sempre foram meus amigos desde que me entendo por gente mas a nossa convivência ficou cada vez menor a medida em que crescemos e arrumamos nossos empregos longe uns dos outros.

Tédio, Insônia e IdeiasOnde histórias criam vida. Descubra agora