miss you

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1...2...3

Respiro fundo mais uma vez de olhos fechados tentando acalmar meus nervos.

4...5...6

Mais de mil pensamentos correm na velocidade da luz em meu cérebro, sinto minha cabeça girar mas eu não consigo controlar.

7...8...9

Minha perna balança sem parar, para cima e para baixo, num ritmado movimento porém agoniado.

10.

Abro os olhos e sinto a brisa balançar meus cabelos e bater forte e fria no meu rosto. Eu seco minhas lágrimas, fungo e ajeito os fios de cabelo que insistem em cair sobre minha testa. Mais um dia de crise, mais um dia no inferno que é ser eu.
Pego minha xícara de chá que está em cima da mesinha a minha frente, tomo um gole que queima a minha boca de início mas me acalma logo depois. Minhas mãos tremem de frio, mas gosto dessa sensação...me faz sentir que estou viva, em meio a tantos vazios que me sufocam por dentro.
Mais uma vez o vento bate forte e dessa vez traz consigo o cheiro doce das rosas plantadas no outro prédio. De vez em quando eu paro para olha-las, tão vermelhas e cheirosas, queria ter a paciência para cultivar. Porém tudo que eu toco, morre.
Eu pego meu celular e olho a hora mais uma vez, mas na verdade, eu só estou a espera de uma ligação ou uma mensagem dela
É inútil. Ela é a primeira pessoa que eu penso quando acordo, a última que penso antes de dormir, a única que penso quando vejo algum gatinho passando na tv e lembro das inúmeras vezes em que ela soltava a minha mão na rua para alisar um gato qualquer.

"Aprenda a ser mais amigável com os animais, Clarice" ela costumava me dizer, e acho que foi por isso que adote um hamster, apesar dele ter adoecido e morrido 3 meses depois.

Coloco a xícara de volta na mesinha e me levanto da cadeira que se move fazendo barulho, vou até o parapeito e me sento com as pernas para fora do prédio, caindo na imensidão de altura. Os pontos dos faróis lá embaixo na avenida são deveras chamativos, e minha cabeça gura quando olho para baixo por muito tempo, mas eu gosto de estar aqui. Me faz sentir que estou viva, de novo.

"Não deveria sentar ai, é coisa de gente suicida" ela me falou, em uma das vezes que me viu sentada do mesmo jeito que estou no momento

"Eu sou suicida babe" ela deu uma risada e veio para meu lado, se sentou de costas para a altura, com suas pernas seguras e seus pés no chão

"Já pensou se seu sapato sai do seu pé e acaba caindo na cabeça de alguém?" ela olha para mim, suas esmeraldas brilhando com a luz lunar e eu rio, rio tão alto que não consigo controlar os impulsos que meus pulmões dão em busca de ar. Ela ri também, e sua risada é o som mais lindo mundo.

"Você não tem ideia do quanto eu te amo" falo depois de rirmos, quando estamos sentadas juntas no chão, de mãos dadas e olhando para as estrelas. Foi a primeira vez que eu disse que te amava e eu lembro como se fosse ontem, seu sorriso era tão sincero e seus olhos tinham uma paixão tão grande que meu coração disparou. Sua boca se entreabre e eu não consigo lembrar imagem mais linda do que essa, e nem palavras mais lindas do que as que você me disse :

"Eu te amo como a imensidão do universo, Clarice"

Seco novamente minhas lágrimas que já estão ensopadas no meu rosto. Olho para baixo e sinto uma tontura enorme, então saio do parapeito e me sento no chão, no mesmo lugar em que estávamos quando nos declaramos pela primeira vez.

Sinto sua falta a todo minuto, e as dores em meu peito nunca vão cessar enquanto você não estiver aqui. As vezes me sinto tão sozinha, o apartamento tem um eco tão fodido e a minha cama fica tão fria de noite que eu choro sem parar só de ver o buraco que você deixou em mim e na minha vida.

Me levanto do chão e abro os braços, sentindo o vento forte balançar meus cabelos, meu vestido que você me deu de aniversário e consigo sorrir ao sentir, de longe, seu perfume. Uma ilusão criada pela minha cabeça, mas consigo, e meu coração se acelera tanto que sinto meu mundo despencar. Eu olho para o lado e vejo uma senhora agoando suas rosas, cuidando delas como se fossem suas filhas. Fico alguns minutos olhando todo o cuidado da mulher com suas flores, ela sorri para mim e dá tchau, mas eu não consigo sequer levantar o braço para retribuir então eu apenas sorrio

Desço as escadas até meu apartamento com minha xícara pendendo em meus dedos e passos apressados, pulando um ou outro degrau para chegar mais rápido ao meu destino. Abro a porta de meu apartamento e coloco a xícara na bancada da cozinha, ligo o som e coloco Ed Sheeran para tocar, só por que ele me lembra noites de chuva com bolo, beijos e sua voz tranquila entoando as canções do ruivo.

Me sento no sofá e olho para a tv desligada. Agora está tocando Kiss Me, e eu quero chorar por que na minha cabeça sua voz ainda ecoa, e logo em seguida a imagem de você sorrindo de olhos fechados pronunciando cada palavra com tanto amor, me invade em cheio.

Me deito no sofá, me deixo sofrer, e em meio a tantas lágrimas e dor eu acabo dormindo e sonhando com você mais uma vez.

O sonho era bom desta vez, e quando acordei, nem acreditei que estava de volta na droga do meu apartamento frio sem você.

A vida é uma droga, de fato, mas era uma droga suportável quando eu a compartilhava com você. A saudades me mata, e me sufoca, queria você aqui como nos velhos tempos, dizendo que eu era linda com o cabelo bagunçado e com a cara amassada. Queria você aqui dançando no meio da nossa cozinha, esperando alguma coisa que você estava preparando para nosso jantar, ficar pronto. Ou até mesmo suas cantorias no banheiro, seus sapatos debaixo da cama ou suas pernas jogadas em cima de mim enquanto dormiamos

Você está em todo lugar. No sala, no quarto, na cozinha, no banheiro e principalmente...em mim.

- Clarisse, 2019.

Tédio, Insônia e IdeiasOnde histórias criam vida. Descubra agora