always

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Entrei apressada em mais um corredor branco e iluminado do maldito hospital, estava perdida, tinha certeza. Meu coração batia a mil por hora, e eu já não sabia em que direção ir nem que quarto procurar, o mundo parecia estar parado e apenas o barulho do meu salto pisando no chão frio e da minha respiração poderiam ser escutados na imensidão do corredor.

Dobrei a esquerda em uma área menos iluminada, com bichinhos coloridos e pássaros com carinhas felizes, meio brega para um hospital. Parei de frente a uma recepção onde duas moças muito concentradas trabalhavam atendendo telefones, revirando papéis e suplicando as mães desesperadas que preenchessem a papelada do hospital

- Com licença..- falei para a moça mais perto de mim, que falava ao telefone com uma caneta pendendo de seus dedos e seus olhos profundos olhando diretamente para a parede atrás de mim, prestando atenção no que a outra pessoa dizia na linha

- Por favor, pode me ajudar? - pedi mais uma vez, até que uma enfermeira, mais alta e aparentemente menos cansada, me notou.

- Em que posso lhe ajudar, senhora? - ela deu um sorriso pequeno, evidentemente querendo resolver logo a situação para sair dali e ir tirar um cochilo na área de descanso

- Eu queria saber onde fica a ala B5, se não for incomodo - dou um sorrisinho tentando compensar o fato de ter interrompido o trabalho dela por ter me perdido

- É só você seguir aqui direto, virar a esquerda e depois pedir um elevador que fica ao lado da máquina de café, ele levara você a qualquer ala que você desejar

Eu agradeço e ela parece satisfeita quando dou meia volta e retorno ao mesmo corredor no qual eu andava desesperada, mas dessa vez com um rumo. Entro no elevador cinza e sem graça, aperto no botão da ala que desejo e espero calmamente ele começar a se mover, parando para respirar fundo e tentar me acalmar, estaria tudo bem...ele não iria me deixar assim desse jeito, eu entraria no quarto e ele estaria bem.

A porta do elevador se abriu e eu saí, andando devagar pelas portas procurando o número 309
307, tô chegando lá, 308, acho que é aquele, 309.
Paro diante da porta e fecho os olhos, sem coragem para abri-la até que fazem isso por mim, revelando um médico velho e cansado

- Com licença, por favor. - pede ele e eu me afasto, dando-lhe passagem
Ao sair ele deixa a porta aberta, então adentro o quarto e só ao vê-lo deitado na cama de olhos fechados, percebo que estava prendendo a respiração. Solto o ar com um pesar e me aproximo da cama devagar, tocando sua mão fria logo em seguida. Ele desperta e assim que me vê lança um sorriso fraco, como se estivesse se esforçando muito até para esse pequeno gesto

- Ei princesa! - sua voz rouca inundou o espaço, e meu coração se acelera, me mostrando que ainda estava lá

- Oi...! - tento parecer o mais animada possível, mas minha voz falha. - Como você está?

- Bem, já estive melhor, mas agora que está aqui com certeza estou bem. - ele aperta de leve minha mão, tentando me confortar mas percebo que não consegue fazer nem a si mesmo.

- Eu fiquei tão preocupada quando sua mãe me ligou, ela não pôde me contar muito, mas falou do acidente.

- Eu escapei por pouco, quase morri, e só queria ver você enquanto estava morrendo de dor precisando de conforto.

Ele mudara muito desde a última vez em que nos vimos, seus cabelos já estavam ficando grisalhos, seu rosto machucado estava mais fino e com aparência cansada, suas mãos mais magras que o normal e seus olhos negros perderam o brilho. Desde que nos afastamos, perdemos o contato, mas a marca de nossa história ficou no coração de ambos, que sofremos com a ausência um do outro.

Tédio, Insônia e IdeiasOnde histórias criam vida. Descubra agora