Izume era parte da guarda especial que acompanhava a Xogum por onde quer que ela fosse. Porem, muito antes que mero serviço institucional e do título, era amiga de Masaki e ao seu lado lutou pelo direito de mulheres batalharem e protegerem sua nação. Era também a pessoa que acompanhava a incessante peregrinação que buscava por uma remissão de seus pecados. Izume acompanhou desde o princípio as buscas por Aka e a proveniente aflição nutrida dentro de Masaki após cada falha.
Estar ali agora era seu dever, não apenas como samurai, mas como uma pessoa que sempre se importou com os sentimentos dos amigos pelos quais amava. Era zelo, pois era essa a sua percepção sobre o que um amigo faz, ele cuida e defende, sem que isso necessariamente lhe traga algum retorno posteriormente e Izume levava sua lealdade muito a sério, não era de seu feitio ser complacente com a injustiça.
Mikadzuki ajudava Aka a se recompor, passou seus braços sujos e machucados por cima de seus ombros e a ergueu levantando-a. A jovem ruiva levantou-se com dificuldade, agora com a ajuda da luz da lua cheia ao cortar as correntes que a prendiam pôde enxergar as extensas feridas dispostas sobre a pele de Aka, os olhos fundos eram a evidente prova do cansaço proveniente do afinco em se libertar, mesmo que tenha sido um esforço em vão ela não se entregou nem por um minuto sequer.
— Obrigada... — Aka encarou Mikadzuki, desta vez sem rancor, sem amargura e nenhuma ironia, apenas a pura e simples gratidão.
A guerreira voltou seu olhar para os orbes brilhantes e negrumes da garota em seus ombros e pela primeira vez se compadeceu de um Hoyashiro, ali enxergou não uma guerreira, tampouco pôde sentir o ardor do fogo. A figura de Aka naquele instante não transpassava nada além de uma pessoa assustada e afugentada pelo medo.
— Não foi nada. — Replicou desviando o olhar, mas seus sentidos apontaram para uma direção, ela podia sentir o cheiro de uma presença estranha.
Benten, a penumbra dentro de si, manifestava-se inquieta como se antevisse uma tragédia, tal como Harpas outrora, libertou-se como um mecanismo de defesa reagindo a um corpo estranho muito próximo de si.
— É melhor sair daqui com a garota. Rápido! — Ordenou Izume ajudando as garotas a saírem do lugar o mais rápido possível.
— Espere Izume-San! Há outra pessoa sendo feita refém além de mim! — Alertou Aka inquieta virando-se para a samurai e apontando para o canto negrume onde avistou Hakui pela última vez.
Benten virou seu olhar para a mesma direção onde Aka apontava, mas não via ninguém. Izume encarou Aka dividida e virou seu olhar para a penumbra, limitando-se à assentir, e com uma força incomum colocou-a nas costas, pondo-se a correr o mais rápido que conseguia. A última visão que Aka presenciara fora a silhueta de Izume adentrando a masmorra e desaparecendo a luz dos primeiros lânguidos raios de sol que marcavam o inicio do que seria um longo e moroso dia.
A tensão de Izume se intensificava a cada movimento dentro daquele lugar, os ecos de seus passos podiam ser ouvidos em meio ao silêncio terrificante e observando as paredes e o chão dos cômodos deparou-se com ossos humanos já deteriorados pelo tempo, mensagens deixadas nas paredes, escritas até mesmo com o sangue das pessoas que lá eram encarceradas.
Uma visão tão nauseante quanto o odor emanado das celas, uma mistura de carne pútrida e enxofre. Entretanto, não permitiu que o terror daquela atmosfera interferisse em sua atenção. Já presenciara coisas e situações piores que aquelas em sua vida.
Sentiu algo a empurrar sentido à saída, mas antes que pudesse cair enfincou sua espada no solo e segurou firme na bainha de modo a permanecer de pé. Suportou o atrito entre seus calçados e o chão enquanto a lâmina cortava o solo como uma folha de papel, o rachando posteriormente tamanha fora a força do ataque que recebera.
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The Flaming Woman - A guerreira Carmesim
Ficción históricaAka, uma mulher a frente de seu tempo vivendo em um Japão feudal que sofre com o declínio dos samurais. Ela lutará contando com a ajuda de sua meia vida, a feroz guardiã das chamas Harpas, cuja companhia não se limita ás lutas. Como resignada samura...