Capítulo 10: Perfídia.

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Mamotto estava rendido, sentia o gosto amargo do sangue correr por seus lábios e por um momento agradeceu não estar mais na presença de Masaki. Nada era pior e mais assustador que o poder de uma penumbra mitológica, estas, de modo especial, eram criadas a partir da junção de magias poderosas e personalidades reais que se sacrificavam voluntariamente. Ao todo dividiam-se em sete e uma delas era parte do corpo do Masaki, a Xogum de Dejima e herdeira de um império cujo território era isolado não só pelo frio, mas comumente pelos mistérios que cercavam o clã Shimazu.

A visão já começava a falhar, contudo, ainda que de maneira um tanto turva, conseguia identificar o rosto de seu irmão bem como sentir suas mãos ensanguentadas socando suas bochechas ininterruptamente. 

O suor escorria pela testa de Aisu que com o corpo vacilando pelo cansaço, ainda mantinha forças que se alimentavam dos rancores do passado guardados em seu peito. O samurai mantinha-se em cima de Mamotto desferindo-o golpes.

O braço parecia pesar mais que o normal, estava cada vez mais lento, levantou-o novamente para um ultimo golpe, mas sentiu o pulso firme de Hinotori o segurar e tornou a encarara-la.

— Não vale a pena Aisu-San... Acalme-se! — Recomendou a moça encarando-o com seriedade. Aisu ainda pretendia finalizar aquele golpe, nada respondeu, apenas virou seu rosto encarando o irmão.

— É o bastante Aisu! Assumirei daqui para frente! — Exclamou Eidorian enquanto assentia encarando Hinotori, que soltou o braço do samurai.

Benten deu lugar à Mikadzuki, naquele momento não seria competente. A garota se abaixou pegando as mãos de Aisu delicadamente convencendo-o a se levantar. Ele a fitou por um instante e acatou o pedido silencioso. Ela sorriu e o ajudou a se erguer enquanto Eidorian e Hinotori lidavam com o novo prisioneiro.

Eidorian possuía a habilidade de selar usando a magia de sua penumbra, assim como Akamatsu, mas para Mamotto reservara algo especial. Abaixou-se com Hinotori em sua retaguarda e colocou uma de suas mãos segurando o rosto de Mamotto com força. Fazendo-o encarar enquanto uma serpente saía da gola de seu kimono, a criatura rastejou-se pelo braço de Eidorian e enrolou-se no torço do inimigo, fazendo-o esmaecer pela dor insuportável do quebrar de seus ossos. E após deixa-lo totalmente inconsciente a serpente desapareceu brilhando em um símbolo na pele de Mamotto.

Jun e Taresu foram encarregados de completar o selo, mais que a arte do combate e suas regras eles aprendiam, sobretudo, o valor do companheirismo e da amizade. Ajudavam-se dando suporte e proteção em todas as batalhas e missões que recebiam e esta era uma característica própria daquela equipe de samurais, mesmo não conhecendo a todos os segredos e limitações do interior dos companheiros, tinham como lema a colaboração e o amparo até que o último guerreiro tivesse a salvo.

Trabalho feito, inimigo rendido e questionamentos devidamente formulados era chegada finalmente a hora do descanso. O sol já dava lugar às estrelas e os samurais agora todos reunidos comiam e bebiam em volta de uma grande fogueira, enquanto Mamotto permanecia vigiado por Hinotori, que recusou-se a juntar ao restante do pelotão.

Aka observava calada as chamas dançantes que reduziam a lenha da fogueira, estava quieta com os joelhos envolvidos em seus braços e não havia pronunciado uma só palavra desde seu resgate, senão um curto obrigada a Valerie.

Você está bem? — Perguntou Taresu aproximando-se. Fixou os olhos verdes nos orbes caliginosos da moça, que outrora encolhida e calada agora o encarava.

— Estou melhor, obrigada... — Replicou-o de maneira breve, o samurai desviou o olhar e estendeu o braço oferecendo uma fruta.

— Precisa comer algo, beber algo... Ou até mesmo falar algo. Talvez lhe faça bem. — Taresu falou sorrindo. 

The Flaming Woman - A guerreira CarmesimOnde histórias criam vida. Descubra agora