Capítulo 14 - Provação.

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A noite caiu na pequena e agora, aparentemente, pacata Dejima. Mikadzuki continuou o restante do dia recuperando-se na casa de Valerie aos cuidados meticulosos da médica e de Eidorian. Já Jun, estava inquieto desde que regressara ao dojô juntamente aos amigos, o samurai tentava de todas as maneiras desvendar o porquê de Zéfiro o ter roubado a memória. Apanhou uma garrafa de saquê e dirigiu-se calado ao dormitório após despedir-se de Haru e Taresu.

— Sei que não posso lhe pedir para me contar e nem se eu lhe rogasse de joelhos contaria, mas, por que Jun tem de sofrer essa provação? — Taresu questionou Haru enquanto os olhos acompanhavam a silhueta do samurai sumir no corredor.

— Você está certo, poderia rastejar no chão que eu não lhe falaria absolutamente nenhuma palavra, mas há algo nessa história muito além da flauta e do seu poder de manipulação. Pelo silencio do mestre, acredito que seja sobre as penumbras e os deuses, algo que não somos competentes para resolver ou sequer saber. — Haru respondeu com o olhar absorto no horizonte.

— Tudo bem, então neste caso, tudo que eu posso fazer é pedir aos deuses que se apiedem do meu amigo... Ou, podemos investigar mais afundo e ajudá-lo! — O guerreiro sugeriu torcendo para que Haru aceitasse a proposta.

A samurai suspirou pesadamente, o encarou por um momento e refletiu. Por mais que as intenções de Taresu fossem boas, para a provação ter um propósito, Jun teria de enfrenta-la sozinho por mais dura que fosse.

— Taresu, entendo que pretende ajuda-lo, e por mais que eu insista que ele tenha de passar por isso sozinho, irá interferir em algum momento de dificuldade. Por isso, irei conceder a você uma leitura rara, mas terá de guarda-la com sua própria vida! Entendeu?! — Ela respondeu mais séria que o comum e Taresu limitou-se a assentir entusiasmado.

Haru fez um sinal para que o guerreiro a acompanhasse e seguiu para o quarto, silenciosamente arrastou a porta devagar enquanto olhava para os lados com atenção e entrou juntamente a Taresu o mais rápido que pôde.

— Caramba! — O guerreiro exclamou ao observar as pilhas de livros que Haru dispunha dentro do cômodo que mais aparentava uma biblioteca, enquanto a samurai passava os olhos por alguns títulos que estavam empilhados em uma mesinha.

— Taresu, precisa me prometer que ninguém saberá que pegou o livro! — Ela se virou séria com o objeto nas mãos, o segurava com firmeza.

— Tem minha palavra, Haru. O protegerei com a minha vida! — Ele a respondeu também sério, ela assentiu e após um suspiro pesado entregou o livro. — Obrigado por me ajudar, Haru! — Ele a abraçou abrindo um sorriso.

— Acomode-se, o ensinarei a manuseá-lo, afinal, por ser valioso o selei com minha própria magia e por isso precisa de que eu desfaça o feitiço para quando for ler os manuscritos os mesmo não se destruam. — Haru afastou-se e apontou para que ele se sentasse no futon. — Se minha aura começar a mudar, me pare imediatamente! — Ela ordenou antes de começar o ritual, Taresu assentiu concentrando-se.

A samurai respirou fundo, fez um sinal com uma das mãos e fechou os olhos, tudo estava silencioso e muito calmo até uma aura clara e brilhante começar a exalar do livro em direção as mãos de Haru, tornando-se mais intensa a medida que avançava até a mesma. Taresu abruptamente levantou-se quando aquela magia até pouco tão branda transformou-se em uma aura pesada e soturna, ele rapidamente aproximou-se de Haru erguendo a palma de sua mão.

Suspendat Aequilibrare! — O samurai exclamou usando o selo mais poderoso que o mestre o havia ensinado para trazer a consciência de Haru de volta, entretanto, para aquela quantidade de poder teria de forçar os seus limites para conter o montante de magia corrompida e que esta não chegasse até a penumbra da guerreira.

The Flaming Woman - A guerreira CarmesimOnde histórias criam vida. Descubra agora