Capítulo IX

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Rafael abaixou-se ao chão procurando por pistas de quem passara por ali. A terra fofa estava mexida, com folhas secas e úmidas espalhadas e gravetos quebrados eram notados em vários pontos na trilha que dava até a cidade. Seguiu o caminho a toda velocidade até chegar a beira da estrada. Olhou para os lados, desconfiado, o local parecia vazio, mas ele sentia alguém lhe observando.

Fechou os olhos e respirou fundo, se concentrando em tudo ao seu redor, por um momento ele pôde ouvir os sussurros do vento, o farfalhar das folhas das árvores que abrigavam ninhos de pássaros e diversos tipos diferentes de insetos, conseguiu vislumbrar a terra sob seus pés e toda a vida que ela sustentava e também o que não era considerado vivo, e sentiu a fraca aura de alguém que tentava se manter escondido. O garoto saltou com uma adaga já em punhos e no instante seguinte estava pressionando uma criatura de longos cabelos claros contra o tronco de uma árvore.

O elfo levantou os braços em rendimento, surpreso e assustado.

-Eu não fiz nada!

Rafael observou o elfo ainda o segurando firmemente e com a adaga em seu pescoço. Com medo, o outro estava ainda mais branco que o normal, a pele pálida parecia ter perdido até o calor do sangue.

-Há cerca de duas noites uma garota passou por aqui. Cabelos lisos e pretos, altura média e vestida toda de preto. Você a viu?

-Sim. -disse o elfo que já aparentava estar mais calmo, agora sua expressão demonstrava curiosidade. -Ela parecia estar com bastante pressa visto a velocidade com que passou. Pode me me soltar, por favor? Eu não irei lhe atacar.

O garoto hesitou por um momento, mas concordou. No entanto não guardou a arma nem baixou a guarda.

-Você viu para onde ela foi?

O elfo olhou para estrada que se bifurcava um pouco mais a frente.

-Para o leste. Ela parecia desolada e perdida. Os espíritos da floresta ficaram agitados com a presença dela, então eu pedi para que um deles lhe mostrasse um caminho.

-Por que? -Rafael estava confuso, não era do feitio dos elfos se envolverem nos assuntos alheios ou se preocupar com alguém, eles costumavam ser indiferentes aos outros seres pensantes.

O elfo voltou sua atenção para o garoto. Os olhos amarelos pareciam absorver cada detalhe seu, como se o estivesse escaneando e fazendo um mapa mental.

-As árvores são faladeiras, elas gostam de sussurrar boatos para o vento que os carregam para longe, então ninguém costuma prestar atenção no que elas falam. Mas as pedras são mais objetivas, quando elas começam a falar, então significa que algo está errado.

Rafael franziu os olhos, o elfo gostava de falar por enigmas assim como sua irmã, ele não tinha tanta paciência para aquilo.

-Então as pedras lhe disseram para ajudá-la?

O outro o olhou como se ele fosse louco por fazer uma pergunta tão estúpida.

-Não! Elas não ajudam ninguém. Eu disse que os espíritos tinham ficado agitados.

-Certo, e você pediu para um deles mostrar o caminho para ela. Para onde ele a mandou?

-Para onde ela deveria ir.

O mestiço começou a se irritar.

-Eu não tenho tempo para seu jogo de palavras, ela pode estar em perigo!

-Todos estamos. -o elfo baixou os olhos para a mão do outro que brincava com a adaga, considerando perigoso. -Existe um bar no fim da estrada. Se souber pedir, então talvez consiga alguma informação.

Quando a noite clamar por sangueWhere stories live. Discover now