Capítulo VI

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Yami observou os dois estranhos que vinham caminhando ao longo da areia, de longe era difícil discernir seus traços. Torceu para que fosse apenas mundanos comuns. Mas por precaução, agarrou instintivamente uma pedra ao lado, transformando-a em uma adaga, um pequeno feitiço de troca.

Sentiu uma aura pesada vindo da direção oposta, a atmosfera era pesada, sufocante. Recuou para trás da árvore, escondendo a arma nas costas. Mesmo que tentasse esconder sua presença, sabia que era inútil. Ambas as auras eram poderosas demais para ela sequer pensar em lutar. Por um momento desejou que Andy ainda estivesse ali com ela.

Um raio azul cortou o ar em direção a aura escura que ela tinha notado. O feitiço levantou a areia, criando uma cortina de poeira. Um dos estranhos veio correndo em sua direção, ao mesmo tempo em que um flash de luz vermelha ia em direção ao autor do raio azul. Yami tencionou-se com a adaga em mãos, pronta para o confronto.

-Yami?

Mikaely estava em sua frente com uma expressão um tanto desesperada.

-Mika? O que faz aqui?

-Ah, ainda bem. Por pouco não a perdemos.

Feitiços de ambos os lados se chocaram, gerando um estrondo. Mikaely abraçou a irmã mais nova, protegendo-a.

-O que está acontecendo? Quem são essas pessoas?

-Não temos tempo de explicar, vamos! -a vampira a puxou começando uma longa corrida para longe da batalha que ficava cada vez mais intensa. Uma névoa começava a se formar, embaçando a visão de qualquer um que estivesse por perto.

Mikaely, ainda segurando a mão de Yami, retirou uma espécie de bola azul do bolso e tacou com força no chão. Uma fumaça as envolveu e no instante seguinte, estavam em um lugar desconhecido para Yami que não escondeu a surpresa.

**

Bruno empenhava-se em manter Amanda ocupada enquanto Mikaely ia ao encontro da outra garota. Sabia que Amanda não estava lutando sério, pois os danos eram mínimos, ela parecia estar apenas brincando. Mas a expressão dela mudou quando viu a fumaça azul próximo ao lugar onde antes estava Yami. Aproveitando a distração e evitando a ira da garota, Bruno aproveitou para se teleportar também.

Mikaely já havia começado os preparativos dos feitiços de proteção, assim como ele havia ensinado. Mesmo cansado, ele se pôs a repetir os encantamentos para mantê-los escondidos do mundo e, principalmente, de Amanda.

Sentiu sua cabeça doer como se estivesse sendo atingido por uma faca, a garota estava tentando invadir. A dor foi se espalhando pelo corpo, enquanto ele colocava toda sua energia e determinação em detê-la.

As duas garotas assistiam tudo paralisadas, sem poder fazer nada.Yami tentava gravar as palavras que o feiticeiro entoava e, sem pensar no que estava fazendo, esticou sua mão e se juntou a ele. Sentia seu corpo queimar enquanto a energia espiritual despertava e tentava sair. A dor foi ficando mais intensa, ao mesmo tempo em que via o ar tremeluzindo em sua frente, criando uma barreira de bloqueio. Sua visão ficou embaçada e, então, ela caiu.

**

Andy hesitou em entrar na casa, mas sua mãe o viu antes que ele mudasse de ideia e se virasse. Ela correu até ele e o abraçou, ele retribuiu o abraço. Mio o fitou, acariciando seu cabelo. Os olhos dela estavam inchados e a cara vermelha de tanto chorar.

-Eu estava tão preocupada.

-Me desculpe...

-DESCULPA? VOCÊ ACHA QUE É SIMPLES ASSIM? VOCÊ DESAPARECE E DEPOIS VOLTA COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO. NÓS ESTAMOS NO MEIO DE UMA POSSÍVEL GUERRA!

Os presentes no velório se viraram para eles assustados e curiosos. Ela abaixou o tom.

-Onde você estava?

-Eu... -ele hesitou. Não podia em hipótese alguma deixar escapar que estava com a filha dos Morningstars.

-Nayara me disse que você foi até o bar dela.

O garoto não pôde conter a surpresa. Olhou ao redor procurando pela faerie e a viu ao lado de sua irmã, ela acenou para ele.

-Se você já sabia, então por que perguntou? -tentou parecer indiferente, enquanto tentava descobrir o quanto a faerie havia contado a sua mãe. Se ela tivesse aberto a boca sobre Yami... - Eu estou bem e é isso que importa. Me desculpe por não ter estado aqui quando... -ele olhou para baixo absorvendo as próprias palavras. Até então não tinha parado para pensar sobre o que acontecera, ele apenas guardara a informação sem sentir nada. Mas então o peso caiu sobre ele; seu pai, sua irmã e sobrinho estavam mortos. Todos em um intervalo pequeno de tempo. E ele não pode fazer nada para salvá-los.

Mio ainda o encarava. Assim como ele, ela tentava lê-lo. Ela não demonstrou nenhuma reação sobre saber ou não sobre a garota, o que deixava Andy ainda mais angustiado.

-Não se culpe, você não podia fazer nada... Mas eles pagarão pelo que fizeram, pode ter certeza. Todos eles! -ele sentiu o ódio em seu olhar e um calafrio percorreu seu corpo. As palavras dela ecoaram em sua mente. "Todos eles". Yami!

**

O vulto focou nos jovens faeries que nem mesmo notaram sua presença desde que começara a os seguir algumas quadras atrás. O casal ria de alguma coisa, visivelmente alterados. Olhou ao redor da rua escura, estava vazia como sempre. Ele sorriu, enquanto seu corpo ia se transformando e tomando a forma de um grande lobo cinzento. Ele uivou para a Lua e o casal se virou assustado.

Ele atacou antes que eles tivessem tempo de reagir. Os dentes penetraram a garganta da garota e uma das patas atravessou as garras no abdômen do garoto. O sangue espirrou por todo canto, cobrindo-o do liquido quente. O garoto tentou alcançá-lo num último esforço, mas o segundo golpe arrancou suas entranhas para fora.

O lobo voltou a sua forma humana olhando a cena, enojado. Então abaixou-se contra os corpos e arrancou o coração de cada um, mergulhando ainda mais suas mãos no líquido pegajoso.

Mas, quando se virou, deparou-se com algo que não previa. Uma pessoa havia assistido a cena. A mulher estava paralisada. Ele franziu os olhos amarelados. Uma humana?

Sentindo que sua morte se aproximava, a mulher se virou numa corrida desesperada. Ele saltou, transformando-se novamente.

A perseguição durou algumas ruas, a mulher aflita gritava por socorro, mas não havia ninguém para salvá-la. Poucos minutos depois, outro corpo se encontrava aberto no chão frio. O vulto sorriu, a noite havia sido produtiva. 

Quando a noite clamar por sangueWhere stories live. Discover now