Yami observou o garoto de longe. Ele chutava a água da margem do lago enquanto falava ao telefone, a mão livre se fechando ao lado do corpo. Desviou o olhar para a paisagem do lugar, tinham chegado ali devido ao cartão que a faerie lhes dera. Talvez tenha sido um pouco sem noção da parte deles confiar em alguém que nem conheciam, mas Yami não se arrependia. O lugar era lindo, ainda mais em um dia branco. A areia era cinza azulada, um pouco mais clara que as águas de azul profundo do enorme lago. Ambos os lados eram cercados por árvores grossas, verdes e intocadas. E no horizonte era possível visualizar só as sombras dos montes que fechava a área. Acima de tudo era calmo, um lugar indiferente aos problemas do mundo.
Andy caminhou em sua direção livrando-a de seu devaneio. Ele a fitou com um olhar frio, ela não pôde evitar encolher-se sobre si. O garoto sentou ao seu lado com um longo suspiro.
-Pela sua cara eu suponho que sejam mais más notícias. -comentou a garota um tanto relutante. Ela não sabia como se expressar com ele, visto que era tão fechado. Era como se tivesse o tempo todo que escolher as palavras cuidadosamente para não irritá-lo. Não que alguma vez ele tenha sido grosso com ela, mas ainda assim ela preferia evitar algum desentendimento.
-Meu pai e Thomas foram mortos.
-Eu... sinto muito!
-Minha mãe está paranóica. Ela jura que foi ataque de vampiros. -ele a fitou como se esperasse respostas por parte dela.
-Isso é muito recente. Elas não atacariam de um dia para outro, é preciso de organizar...
-Ambos os lados tiveram perdas. Elas capturaram seu irmão Gabriel e... bem, minha mãe e irmã têm gostos peculiares... Eu sinto muito!
Yami absorveu a nova informação em silêncio. Ambos os lados tiveram perdas e aquilo mal tinha começado. Seria aquilo a faísca para outra Grande Guerra? Aconteceria como nas histórias que a anciã e Mãe Juh contava? Tanto sangue derramado, tanta dor...
-Você deveria ir. -ela disse por fim. -Sua família precisa de você.
Andy pareceu surpreso com a sugestão repentina.
-Além do mais, se você for visto comigo, te tratarão como um traidor. -continuou antes que ele falasse algo contra.
-Você também deveria voltar. Devem estar preocupados.
A garota balançou a cabeça com um semblante triste.
-Eu nunca fui como elas. Nunca pertenci aquele lugar. Elas acham que eu não sei, mas... Eu sei que fui adotada, que me salvaram por pena. Sou grata a isso, mas eu não quero me envolver nisso! Eu só queria poder levar uma vida normal.
Adotada? Por um momento Andy se lembrou de sua irmã. As idades batiam em uma infeliz coincidência. Mas ambas eram tão diferentes. Desde criança Amanda demonstrava devoção pela escuridão. Quando uma vez ela enfeitiçou Natália para tentar matá-lo, enquanto ele fugia desesperado e ela ria.
-Você não pode fugir do seu destino.
-Novamente com esse papo. Nem você, por isso precisa ir confortá-las e descobrir o que realmente aconteceu.
-Eu não posso deixá-la à própria sorte.
-Eu sempre estive a minha própria sorte! Eu ficarei bem, não se preocupe.
O garoto estava indeciso tentando decidir o que era certo. De certa forma a garota estava certa, talvez sua família precisasse dele, mas, assim como ela, ele não queria se envolver naquela loucura.
-Certo! Talvez seja a hora de ser responsável.
**
Natiele se voltou para a bolsa de sangue ligada a sua veia, a cada gota que pingava, mais seu ódio aumentava. Seu corpo, mente e alma clamavam por vingança. Os Warriors pagariam caro pelo que fizeram.
Fervs adentrou o quarto sem expressão.
-O que foi? -indagou Naty.
-Sr. Warrior foi encontrado morto e o neto também. Dizem ter sido ataque de vampiros. Ninguém sabe onde estão Mikaely e Yami, e a Mãe já está faz tempo numa reunião com a anciã.
Naty bufou.
-Era pra eu mesma ter matado aquele desgraçado. Mas tudo bem, meu foco é outra pessoa.
**
-Está tudo pronto? -perguntou Mika.
-Quase. -Bruno terminava de desenhar as runas sobre a mesa de madeira. Então se sentou na cadeira em frente a Mikaely. -Certo. Eu vou precisar que você se concentre em focar apenas em Yami, você precisa querer encontrá-la. -ele esticou os braços estendendo as mãos para a garota.
-Ok. -ela segurou soltando o ar profundamente. o feiticeiro arqueou as sobrancelhas, mas não disse nada. -Isso me ajuda a acalmar.
-Ok. Quando estiver pronta.
Mika fechou os olhos trazendo a imagem da irmã mais nova na cabeça. Ela correndo, rindo em um de seus raros momentos, lendo na clareira da floresta... Então o rosto dela apareceu nitidamente na sua mente, ela estava encostada ao tronco de uma árvore a parecia observar alguém, mas não conseguiu discernir quem.
-Yami?
A garota se virou em direção da voz como se tentasse vê-la. Mas então a cena mudou. Uma outra pessoa adentrou na cabeça deles, de certa forma era parecida com Yami, mas tão diferente. Os olhos vermelhos brilhavam na escuridão e o sorriso era gélido e cortante como o próprio inverno.
-Olá, sensei.
-Amanda?
Bruno soltou a mão de Mikaely instantaneamente. Recuando para trás arfante.
-Droga! Ela estava esperando por isso.
-Que merda foi essa? O que aconteceu?
-Amanda está atrás de Yami, e ela conseguiu pegar as imagens de sua mente.
-Mas não deu para ver muita coisa... Você conhece o lugar?
-Sim. E Amanda também!
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Quando a noite clamar por sangue
Teen Fiction*Sinopse temporária* A paz entre raças rivais não pode durar para sempre. E uma falsa paz não pode ser mantida por apenas um dos lados. Transmorfos e vampiros se odeiam desde os tempos primórdios e não seria diferente 200 anos depois da Grande Guer...