Capítulo XIV

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O homem a frente bateu no microfone para chamar atenção de todos, não que isso fosse necessário já que sua aura já fazia isso por si só. Percebendo o desconforto dos presentes, ele a suavizou. Os olhos puxados refletia a descendência asiática, enquanto os cabelos eram tingidos de loiro.

-Boa noite! -sua voz grave ecoou pelo salão. -Para aqueles que não me conhecem, eu sou Kim Namjoon. Como atual presidente do conselho do submundo, estarei conduzindo a reunião de hoje. -ele se voltou para os homens nas cadeiras do piso inferior, que se colocaram de pé. -O vice presidente Lee Jinki estará representando os vampiros. -outro homem com traços orientais acenou com a cabeça. - Choi Seunghyun representará os humanos e Kwon Ji-yong representará os feiticeiros. -um murmúrio percorreu o local após a menção do último. -Lembrando que -Namjoon aumentou o tom de voz cessando o barulho. -os representantes foram eleitos por votação e que os líderes de seus respectivos também têm direito a voz. -ele fez uma pausa. -Como tradição, peço que se levantem e façam o juramento de abertura.

As diferentes raças se levantaram em silêncio. Por um momento pareceram esquecer a rivalidade. Say estava completamente perdido e recebeu um puxão de Anne para se colocar em pé.

-De norte a sul, de leste a oeste, -começaram em coro- como nossos ancestrais que vieram de um só, nos reunimos novamente em pró do bem comum. Que a natureza abençoe nosso encontro e que as estrelas escrevam em suas histórias nossas decisões. Que a noite escura nos proteja de nossos inimigos e que o amanhecer nos traga esperança. Permaneceremos unidos, pois a união faz a força!

Após isso, todos retomaram seus assentos, enquanto Namjoon se posicionou novamente atrás do púlpito.

-Nas últimas noites, muitos acontecimentos infelizes aconteceram. Notícias de mortes de integrantes do submundo e até mesmo humanos encontrados com marcas de ataques. As investigações estão a todo vapor, no entanto os rastros parecem estar sendo encobertos. -novamente um murmúrio se espalhou pelo salão. Muitos já sabiam dos acontecimentos, mas para alguns aquilo era novidade. -A paz se manteve por 200 anos e agora a ordem está sendo perturbada por conservadores radicais. Há muito rumores se espalham, dizeres que a falsa paz não deveria permanecer, o que se aguardava era apenas um estopim para justificar as ações violentas. E por que não começar pela rivalidade entre duas famílias? -Namjoon lançou um olhar severo em direção aos Warriors e Morningstars que ficaram claramente desconfortáveis.

Mio olhava fixamente para o nada com uma mistura de melancolia e ódio no olhar. Seu peito doia como se alguém lhe tivesse arrancado seu coração e o esmagado em frente aos seus olhos, e ela se segurava para não deixar toda aquela tristeza transparecer. Ela sabia em seu ser que seu filho estava morto. Inconscientemente sua mão buscou a mão de Natalia e a apertou com força. A garota a encarou surpresa e um olhar foi suficiente para transmitir a mensagem. Mais um dos seus estava morto e ela nem sabia o porquê ou se ao menos conseguiria reaver o corpo do filho, enquanto os Morningstars permaneciam indiferentes. Em menos de uma semana todo seu mundo parecia desabar, uma piada de mau gosto feita pelo destino. Estaria pagando pelos seus pecados? Mesmo se estivesse, aquilo tudo era demais.

Juliana estava apreensiva. Os murmúrios perduravam em meio a reunião e não havia nem sinal de que Rafael voltaria com Yami e Mikaely. Toda a confusão já havia saído de seu controle há muito tempo, já não era só um problema entre famílias, agora envolvia todo o submundo. Alguém estava buscando por sangue e, pelo visto, estava conseguindo o que queria.

As luzes diminuíram chamando a atenção de todos para as imagens projetadas na parede do fundo. Os corpos dos mortos durante aquela semana e nas semanas anteriores, que poucos sabiam da relação com o que estava acontecendo. Humanos, faeries, vampiros e transmorfos, era uma guerra geral articulada por alguma mente sombria.

**

Amanda se controlava para não rir em meio a expressão de choque dos presentes na reunião enquanto as fotos eram projetadas para todos. Apesar disso, parte dela estava irritada por ter perdido o soldado vampiro, pois agora teriam que bolar um novo plano. Kira ao seu lado parecia entediado, ambos tinham se disfarçado para entrar no salão, o que não havia sido difícil. Se quisessem fazer um ataque, seria fácil pegá-los desprevenidos. O garoto olhou ao redor localizando os caçadores infiltrados na multidão, uma garota com uma máscara que mostrava apenas os olhos o encarou de volta e ele sustentou o olhar, supôs que ela sorriu por baixo da máscara antes de desviar a atenção para o projetor novamente.

-A gente vai ter que ficar até o final mesmo? Isso já tá chato! -ele resmungou.

-Você que disse que seria interessante saber o que ele estavam discutindo. -rebateu ela.

-Sim, mas poderíamos capturar um deles no final da reunião.

-Ah, claro. Muito sutil. Além do mais, Yami pode aparecer por aqui, o que pode deixar as coisas mais divertidas.

**

Yami encarava as chamas azuis que envolviam o transmorfo morto. Mais um em tão pouco tempo. Amanda conseguira semear a discórdia que queria e com elas vieram sangue e dor, e isso era só o começo. A imagem dos olhos negros de Andy enquanto estendia o braço pra ela ainda estava fresca em sua memória, apertando seu coração em seu peito. Ela podia tê-lo salvado, mas não o fez, apenas o assistiu morrer, enquanto os outros a condenavam por isso.

"Por quê?" Era o que Rafael e Mikaely gritavam em suas mentes, mesmo que não transformassem seus pensamentos em palavras. E como poderiam? Talvez aquela que estivesse ao lado deles não fosse mais Yami, talvez Amanda tivesse alguma chance de levá-la para o lado dela, e o mundo todo cairia no caos, sem que pudessem fazer nada para impedir. A escuridão era a consequência do poder?

Eles estavam certos em partes, mas Yami não o salvara porque Andy não o queria. Ele estava cansado, ele queria partir e aquilo apenas veio a calhar como uma boa desculpa. Mesmo que se sentisse com o coração partido, as lágrimas não se permitiam cair de seus olhos e sua expressão permanecia séria e indiferente, o que preocupava ainda mais os outros que estavam perdidos nos próprios pensamentos. Bruno conseguira despertar o poder dela, e os livros antigos que lera quando criança a ajudaram na hora de controlar seus poderes, a língua morta dos antigos elfos era usada como canal para transformá-lo em feitiços. Era como se as histórias fantásticas que ouvira e lera quando criança estivessem se tornando realidade, mas essa realidade era problemática e com muitas consequências.

-Nós precisamos voltar. -Rafael quebrou o silêncio. -A Sra. Juliana me mandou atrás de vocês, precisam ir ao conselho.

Mikaely se voltou para Yami que continuava sem expressão, tentava decifrar o que se passava na mente da outra sem sucesso.

-Yami? -chamou.

-Vamos voltar. -respondeu a outra garota. 

Quando a noite clamar por sangueWhere stories live. Discover now