Capítulo XII

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 A caçadora caminhou pelo corredor indiferente aos olhares que lhe lançavam. Ao seu lado, o garoto estava visivelmente nervoso, suas mãos se fechavam duramente ao lado do corpo. Era a primeira vez que ele ia a uma reunião do Conselho como um dos representantes dos caçadores, o chefe achou que seria uma boa experiência para o garoto que já demonstrava tanto talento.

-Relaxa! -ela tentou tranquilizá-lo. -Tudo dará certo.

-Mas e se tiver alguma confusão?

Ela lançou um olhar de lado para ele, apenas os olhos negros e penetrantes eram visíveis no rosto dela, o nariz e a boca eram tapados por uma máscara negra que se estendia pela cabeça, deixando pouco das ondas do cabelo castanho a mostra. O garoto supôs que ela estivesse sorrindo por baixo da máscara, era um tanto perturbador.

O salão já estava quase cheio quando eles adentraram. Grupos de cadeiras se encontravam em um piso mais alto separados por pequenos corredores e no piso mais baixo bem à frente havia uma longa fila de cadeiras separada para os líderes, onde um telão se encontrava acima. Ao canto uma mesa isolada onde eles interrogavam as testemunhas. As luzes brancas tinham um brilho reduzido, o suficiente para se enxergar bem. As diferentes raças se encontravam espalhadas pelo local vampiros, faeries e seus subgrupos de fadas, duendes, elfos; transmorfos e humanos.

A caçadora olhou a multidão localizando os seguranças, eles estavam misturados aos outros como cidadãos comuns, mas ela sabia muito bem que não eram. Um deles pareceu sentir seus olhos sobre si e a fitou por um momento, mas não aguentou os olhos que tentavam lê-lo e desviou o olhar. Ela deu uma risadinha antes de se encaminhar para o local reservado para eles. Havia dez seguranças no local, contando com mais os três caçadores que estavam esperando, eram quinze lutadores. Talvez fosse o suficiente para manter a ordem.

-Anne! Say! Onde vocês estavam? Já deviam ter chegado há alguns minutos.

A garota deu de ombros.

-Eu estava com fome. -ela lançou outro olhar para o garoto que o fez apenas concordar.

Anne havia aproveitado o momento para invadir o necrotério e ver os corpos dos faeries e da humana morta. Se ela descobrira alguma coisa, ela não compartilhou com o garoto que ficou vigiando a porta e que teve de colocar um guarda para dormir. Os caçadores lhe disseram que ela não era muito mais velha que ele, mesmo assim era respeitada por todos, ou pela grande maioria. Havia alguns que não aceitavam o fato de uma mulher ser melhor que eles, mas a própria parecia ignorar os comentários maldosos.

Anne o cutucou, tirando-o de seu devaneio.

-Aquela é Morgana, líder geral do clã de vampiros de Runcity. -ela apontou com a cabeça. Uma mulher com longos cabelos vermelhos, estava sentada ao lado de uma mulher um pouco mais baixa que estava com uma cara fechada. -Aquela ao lado é Juliana, sua única filha. -ela fez uma pausa -óh, que curioso, a família não está reunida, isso é muito suspeito. Eles precisavam da caçula aqui, Yami, eu acho. Isso pode ser mais interessante do que eu imaginava. -ela deu de ombros. Parecia mais estar falando consigo mesma do que com Say em questão.

-E quem são aqueles lhes lançando um olhar mortal?

-Ahh, os Warriors, a família também diminuiu. -Anne deu uma risada. -A de cabelo verde é a mãe, Aline, ao seu lado está sua filha Natalia e... Olha só, está faltando um lobinho, haha.

Say ficava cada vez menos disposto a ficar ao lado dela, mas não era como se pudesse trocar de lugar, o salão já estava praticamente lotado. De repente, uma mulher de pele morena e cabelos tão negros quanto a noite adentrou o recinto. Ao seu lado estavam dois fadas com cabelos longos amarrados em um rabo de cavalo. Cada um deles carregava um par de cimitarras incrustadas com pedras preciosas presas a cintura.

O barulho cessou e as cabeças se viraram para admirá-la. Ela não estava exatamente sorrindo, mas sua expressão era gentil. A delicadeza e elegância lhe eram completamente natural. Seus olhos castanhos percorreram o salão e os faeries baixaram suas cabeças em reverência, até mesmo os outros clãs a respeitavam. Say estava impressionado, não conseguia desviar os olhos da mulher que caminhava graciosamente. O longo vestido parecia tremeluzir alternando entre tons de azul.

-Parece que alguém está apaixonado. -Anne zombou. -E eu te entendo, cara. Mas pode ir tirando o cavalinho da chuva, nem em mil anos você conseguiria alcançá-la. Aquela é Hanna, a rainha das fadas.

Foi como se a rainha tivesse ouvido o comentário ou talvez fosse apenas coincidência, mas ela se virou em direção a eles e abriu um sorriso. Foi como se o garoto tivesse sido atingido por um golpe mortal e estivesse assistindo seus últimos segundos de vida. Porém a sensação de ascendência não durou muito tempo, pois uma aura sombria tão poderosa quanto a da rainha (ou mesmo mais) tomou a frente chamando atenção de todos. Mais três homens com ar sério se sentaram nas cadeiras do piso inferior. A reunião do conselho estava para começar. 

Quando a noite clamar por sangueWhere stories live. Discover now