Capítulo 3

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Revirei os olhos e segurei o riso, precisava manter a pose, afinal.

-Eu não acredito que você fez de conta que não me conhecia, Thomás!

-Ah, claro, porque você estava muito ansiosa pra contar pros dois de onde nos conhecemos, não é mesmo?

-E o que foi aquilo no carro? Você pode me explicar?

-Eu só queria ter certeza de que você não tinha me esquecido.

"Eu tentei muito", tive vontade de responder.

- Você sabia?

-O quê? Que o meu filho ia se casar com uma Bragança? Claro que não, Alice! Daria qualquer coisa pra ver a reação do seu pai no casamento dos dois.

Meus olhos se encheram de lágrimas naquele instante, pra ele, eu ainda era só o meu sobrenome.

-Como se a da sua mãe fosse ser melhor, não é mesmo? Imagine que horror? Uma Bragança pra destruir a honra da família...

-Ou um Nunes pra destruir a honra da sua...

Respirei fundo e segurei as lágrimas que queriam descer.

-A minha filha está feliz, Thomás, eu não estou nem aí pro sobrenome do seu filho e não vou deixar ninguém destruir a felicidade dela, certo?

-Ótimo, Alice, porque é exatamente o que eu penso sobre o meu filho.

-Então, na frente deles, a gente não tem ideia de quem o outro é?

-Na frente deles, a gente só descobre o que as famílias Nunes e Bragança podem ser juntas.

Eu consenti e fechei a porta. Queria que aquela descoberta tivesse acontecido alguns anos antes.

                                                                                ****************

Eu juro que tentei passar a tarde dormindo, o voo fora longo, eu estava no sul do continente africano antes, mas, apesar do cansaço do meu corpo, eu não conseguia fechar os olhos.

Porque quando eu fechava os olhos, as lembranças invadiam a minha mente e eu não podia me dar o luxo de lembrar.

Bufei irritada e levantei, liguei o computador e decidi planejar a minha próxima viagem.

Fora ideia do Otávio essas viagens pelo mundo, me lembro claramente da voz dele dizendo: "Lice, você não nasceu pra ficar presa. O espírito aventureiro da Amélia veio de você, boneca, então viaje, conheça e aproveite.". Quando ele morreu, senti como se fosse a coisa certa a fazer.

Eu tinha uma clínica de psicologia com psicólogos muito bons para me substituir e decidi que era hora de um ano sabático, abriria meus horizontes e até melhoraria meu trabalho, me convenci.

E então, virou um vício, viajar, conhecer, aproveitar... Lugares, costumes e pessoas me encantavam, o mundo parecia ainda maior e menor ao mesmo tempo.

Eu ia voltar a trabalhar, isso era certo, eu amava a minha profissão, mas agora não, agora eu ia buscar o que o mundo tinha a me oferecer.

Decidi ir pra Itália quando saísse da Inglaterra e tentei ao máximo me concentrar nos planos. Foi um fracasso.

Voltei para a cama, liguei a tv e fingi pra mim mesma que o filme estava ajudando... 

Por Nossos FilhosWhere stories live. Discover now