Por Nossos Filhos

Capítulo 9

Quando voltamos para o hotel, o Thomás seguiu em direção ao meu quarto. Ergui uma sobrancelha, perguntando silenciosamente o que ele pensava que estava fazendo.

-Fala sério, Alice, a gente tem muito o que conversar...

-Acho que é pra isso que nós dois temos um jantar amanhã...

-Não. - ele sorriu - O jantar é pra eu te conhecer melhor, não esquece isso.

Revirei os olhos e abri a porta. Ele entrou atrás de mim.

Larguei as bolsas em cima do sofá e fui ao frigobar pegar uma água.

-O que é isso?

Ele havia pego o vestido que a Amélia havia escolhido e o encarava, eu poderia reclamar por ele mexer nas minhas coisas, mas pelo seu olhar embasbacado, não o fiz.

-A Amélia me fez comprar pra usar amanhã. -dei de ombros

Ele olhou doo vestido para mim e disse:

-Por favor... Não me tortura desse jeito...

Com o olhar angustiado, ele saiu do quarto rapidamente.

Olhei para o vestido que ele deixara em cima do sofá: nem em um milhão de anos, pensei. Mas, de repente, um milhão de anos parecia muito próximo.

                                                                                ****************

Passei a maior parte do dia na cama, relendo um livro sobre Freud. Não queria ir aquele jantar, mas a Meli tinha razão, o Thomás e eu tínhamos assuntos pendentes.

Às quatro da tarde, a Amélia invadiu o meu quarto e anunciou:

-Eu vim me certificar que você não saísse daqui com outra roupa a não ser aquele vestido.

-Você é louca, Amélia! Eu não vou sair com aquilo, pode pegar pra você.

-Mãe, você ficou linda com ele, deixa de ser boba.

-Filha, o Thomás e eu como um casal, não vai acontecer.

-Certo, certo! Mas usa assim mesmo, você ficou linda de verdade!

-Amélia... - pedi

-Mãe...

Lembrei o pedido do Thomás: "Por favor... Não me tortura desse jeito...". Droga! Ela ia me convencer a vestir aquilo.

-Você sabe que eu só comprei aquele vestido porque você insistiu muito.

-Ótimo, então vou insistir muito para que você o use.

Revirei os olhos.

-Você e essa sua mania, mãe...

-Claro, como se você mesma não tivesse puxado essa mania...

Ela revirou os olhos.

-Viu?

Nós rimos.

-Eu não me importo muito se você vai estar ou não com o Thomás, mãe. Mas é Londres, a cidade merece uma produção especial.

Essa ia ser a jogada dela? Ótimo!

-Particularmente, nunca fui muito fã de Londres. - dei de ombros

-Mãe!

-Certo. - ergui as mãos em sinal de rendição - Eu uso o tal vestido. Mas o quê ganho em troca?

Ela sorriu, pensativa.

-Eu passo dois dias com você no país que você escolher pra sua próxima viagem antes do casamento. Uma pequena viagem mãe e filha.

O prêmio era bom: uma viagem com a minha filha.

-Certo! - eu disse e ela bateu palmas comemorando - Vamos pra Itália!

-Quando?

-Eu vou em, no máximo, dois dias. Você pode me encontrar quando quiser.

-Ótimo, ótimo, ótimo!

O Thomás não ia gostar muito, mas era uma viagem com a minha filha no fim das contas... Valeria a pena.