Capítulo 6

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-EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ VAI ENTRAR NA IGREJA COM A MINHA FILHA, THOMÁS! COM A MINHA FILHA! - eu gritei assim que ficamos sozinhos no elevador.

-Você fica linda quando tá brava, Alice.

-Não desconversa, Thomás, eu tô falando sério. Você não vê a ironia disso tudo?

-Não, Alice, eu não to nem aí pra ironia disso tudo. - ele disse, dando um passo na minha direção e eu dei um passo para trás - Sabe por quê? Porque eles estão felizes! A gente prometeu que não tava nem aí pro resto, que íamos lutar pela felicidade dos dois. - repetimos a dança com os passos e as minhas costas encontraram a parede.

Eu podia sentir a respiração dele no meu rosto pela proximidade e não tinha como dar outro passo pra trás. DROGA! Meu coração estava um pouco mais acelerado que o normal.

-Thomás...

Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

-Eles são mais corajosos do que jamais fomos, Lice, eles merecem ser felizes... Não é porque nós não fomos que eles não podem ser.

-Nós fomos felizes, Thomás...

-A gente estragou tudo, não foi?

Ele baixou o rosto, seus lábios bem próximos dos meus.

-A gente fez o melhor que pôde...

-É isso que você diz pra si mesma pra conseguir dormir a noite?

-Eu nã...

E então seus lábios chegaram aos meus, por um único segundo, antes da porta abrir e eu o empurrar para longe, indo em direção ao meu quarto. Sem olhar pra trás.

                                                                                  ****************

Você não pode se dar ao luxo de ficar nessa coisa de reviver o passado com o Thomás, Alice! Lembrei a mim mesma.

Eu já teria problemas suficientes quando meu pai e a mãe dele chegassem para o casamento dali há dois meses, bagunçar ainda mais as coisas pensando do passado não daria certo.

Eu me convenci disso, encarando minha imagem no espelho.

Já tinha tirado toda a roupa e produção, vestia uma camisola e estava prestes a me deitar quando ouvi duas leves batidas.

-Alice, a gente pode conversar?

Peguei o robe, vesti e abri apenas uma fresta da porta, me encostando ao batente.

Ele tinha uma garrafa de vinho tinto e duas taças nas mãos, também estava de pijama e com um robe, os cabelos molhados como se tivesse acabado de sair do banho.

-Thomás, eu não acho que essa seja uma boa ideia... Eu já estava indo dormir.

-Você sabe tão bem quanto eu que não vai conseguir dormir... O vinho pelo menos pode ajudar...

-Thomás...

-Eu prometo manter minhas mãos longe de você, Lice...

-Não me chama de Lice.

-Quer que eu te chame de quê? Doutora Alice? Aliás, doutora por quê? Você não é psicóloga?

-Doutora porque eu tenho doutorado, mas isso não vem ao caso, não me chama de Lice porque vai nos fazer voltar ao passado, Thomás. Isso não é certo.

-Tudo bem, Alice, eu posso entrar?

Abri espaço e ele passou por mim, colocou as taças na mesa de centro, abriu o vinho e as encheu.

Nós nos sentamos no chão, um de frente pro outro, encarando sua respectiva taça.

-O que você queria falar? - perguntei

Ele tomou um gole de vinho antes de responder:

-Eu queria dizer que sim, eu acho irônico tudo isso, desde o primeiro momento, quando eu te vi no aeroporto, eu achei irônico. Nossos filhos vão se casar, Alice...

-Eu sei...

-O que será que os nossos pais vão achar disso?

-Eu não sei...

-Quando eles chegarem pro casamento, a gente não vai conseguir fazer de conta que não nos conhecemos... Os meninos deveriam saber pela gente da nossa história...

Levantei os olhos e olhei no profundo dos dele, ergui a mão e acariciei a lateral de seu rosto.

-O que foi a nossa história, Thomás? O que a gente deveria dizer a eles?

-A gente deveria contar que fomos apaixonados um dia...

Só isso? Parecia pouco. Silenciei.

-O quê? Seria mentira? - perguntou diante do meu silêncio.

-Eu acho que seria omissão. - eu me levantei, dando as costas a ele e fui até a janela, encarando a vista, completei - Eu amei você.

Tomei um gole do meu vinho e ouvi quando ele se aproximou, parou ao meu lado e também observou a vista.

O silêncio estava carregado de lembranças do passado, depois de uma eternidade, ele respondeu:

-Eu também te amei, Alice.

Virei o restante da taça em um gole só, buscando um pouco de coragem pra perguntar o que queria. Voltei-me em direção a ele, que acariciou meu braço.

-O que a gente diz a eles?

-Eu não sei, Alice, eu não faço ideia...

Nem eu... Fazia tanto tempo que eu não me permitia voltar aquele passado que era estranho encará-lo agora.

Dei as costas a ele e fui em direção ao segundo espaço do quarto onde ficava a cama. O vinho começava a fazer efeito, as memórias também, então apenas disse:

-Bata a porta quando sair. 

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Eu me deitei e encarei o teto, sabia que ele ainda não havia saído porque não ouvira o barulho da porta, então não me assustei quando ouvi o barulho da porta que dividia os ambientes se abrir.

Também não disse nada, não perguntei o que ele estava fazendo ali, tampouco o mandei sair. Apenas o observei se deitar do meu lado. Meu coração batia forte.

Ele estendeu o braço e eu me aproximei, me enroscando em seu abraço, respirando seu perfume. Seus lábios beijaram meus cabelos e o ouvi dizer:

-Nós vamos dar um jeito, Lice, eu prometo.

Eu já ouvira aquilo antes e as coisas não acabaram bem, mas não mencionei isso, apenas quis acreditar que daríamos o tal jeito e o apertei um pouco mais.

-Feche seus olhos, ruiva, e durma em paz... - ele pediu delicadamente, como outrora.

Seus dedos acariciavam meu braço de forma leve, seu rosto escondido no topo de minha cabeça, seu corpo me servindo de travesseiro... Ele não precisava insistir, dormi em paz naquela noite, como não dormia há anos. 

Por Nossos FilhosWhere stories live. Discover now