Capítulo 11

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-Você sabe que a história não é bem essa, Thomás... - tentei manter a calma

-Não? Você foi embora, se isso não é fugir, o que é?

Mandei o auto controle embora e respondi no mesmo tom que ele usava:

-Você não tem o direito de me acusar, Thomás! Pode fingir o quanto quiser, mas em algum momento vai precisar encarar a realidade, você fugiu tanto quanto eu.

-E você queria que eu fizesse o quê, Alice? Você estava de casamento marcado, menos de um mês depois da nossa separação, o que você queria que EU fizesse?

-Que você não tivesse desistido, Thomás! Você não foi atrás de mim! Eu me casei porque VOCÊ nunca foi atrás de mim!

-E se eu tivesse ido, Alice? Você teria coragem de enfrentar o seu pai?

Dei uma risada irônica.

-Não tem "e se", Thomás, você não foi! Pode acusar os meus medos o quanto quiser, mas você também nunca teve coragem de enfrentar a sua mãe!

-Você ia casar, Alice, eu pensei que você tinha me esquecido!

-Em um mês? Eu não te esqueceria em uma vida, Thomás!

Eu. Não. Tinha. Dito. Aquilo.

Mas já que tinha, continuei.

-Eu passei anos do meu casamento esperando que você fosse atrás de mim, até o Otávio sabia disso! Mas você nunca teve coragem de ir, Thomás! Como queria que eu largasse tudo se você também não largou?

-Eu não tive escolha, Alice!

-Isso é canalhice, Thomás, sempre tem uma escolha! Eu avisei pra você quando parti aquele dia, eu avisei da última vez que nos vimos: "eu vou te esperar, Thom, mas eu não vou fazer isso pra sempre". Você só precisava ir até mim e eu largaria tudo!

-E o seu pai? E as nossas famílias? Você largaria isso também?

Respirei fundo, ele não estava entendendo.

-Não há nada que eu não largaria por você! Eu te amei, Thomás, como eu nunca amei homem nenhum!

-Mãe?

-Pai?

Nós nos viramos, a Amélia abriu a porta do meu quarto e o Heitor a do Thomás, eles deviam estar esperando pra saber como tinha sido o jantar. Agora eles sabiam até mais do que deveriam.

-Vocês se conhecem? - a Meli perguntou

-Não mais... - respondi, olhando para ele

O Thomás parecia ter levado um soco, eu apenas passei pela Amélia e entrei no meu quarto.

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-O que está acontecendo, mãe?

Cruzei os braços na frente do corpo, queria muito contar as coisas pra ela de outro jeito.

-Meli, eu vou pra Itália amanhã... Quando você for me encontrar, a gente conversa sobre isso.

-Você vai pra Itália amanhã? Por quê?

-Eu já estava pensando nisso antes, filha, eu te avisei que ia, no máximo, em dois dias. Agora, faz ainda mais sentido.

-O Thomás vai pensar que você está fugindo dele.

Dei de ombros.

-Eu não ligo pro que ela vá pensar, Meli...

A verdade é que eu ligava sim, mas eu não queria outra briga daquelas quando nossos filhos estavam prestes a se casar. Não fazia sentido, então a Itália era minha melhor opção.

-O que aconteceu entre vocês, mãe? De verdade.

Eu me sentei e suspirei.

-Você tem o direito de saber, filha, eu só não sei se quero contar.

Ela veio até onde eu estava, sentou ao meu lado e me abraçou. Tentei segurar as lágrimas, mas uma ou duas foram teimosas e insistiram em descer.

-Eu devo desistir do meu casamento?

Eu a olhei assustada e me desvencilhei do seu abraço.

-Amélia Bragança Albuquerque, nunca mais repita isso! O que aconteceu comigo e com o Thomás é nosso e, se não contamos antes, foi pra não afetar você e o Heitor. Tem muitas coisas sobre as quais nós discordamos, filha, mas essa não é uma delas. O Thomás e eu podemos ver o quanto vocês se amam e tudo o que queremos é que sejam felizes.

-Eu sei que eu não deveria insistir, mãe, mas o que houve com vocês?

Suspirei novamente.

-Essa talvez seja a pergunta da minha vida, Meli...

Eu sabia que ela não ia ceder, então pedi que ela esperasse, fui até o meu quarto, troquei de roupa e depois peguei a garrafa de vinho que o Thomás deixara ali e duas taças. Eu não ia contar aquela história completamente sóbria. 

Por Nossos FilhosWhere stories live. Discover now