Capítulo 7

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Depois de um encontro agradável na casa de António e Ana, voltamos para casa, acompanhados das crianças. Aproveitavam os últimos momentos das férias, e até Rafael, o novo amigo das crianças, veio conosco. Já em casa, eu o vi de mãos dadas com alguém que me parecia familiar, mas relevei. — Deve ser alguém que eu já vi antes — pensei, pois não conseguia ver o rosto da pessoa.

— Enquanto Fred tentava esquecer essa imagem, Rafael e sua companhia entraram rapidamente na casa ao lado. Ele não sabia, mas aquele detalhe despertaria nele um mistério inesperado.

Mais tarde, decidi sair e fui até a casa dos pais de Rafael. Toquei a campainha e esperei, mas ninguém veio atender. Após algum tempo, uma senhora apareceu e, com uma expressão vaga, pediu que eu voltasse no dia seguinte. — Bem, talvez seja melhor voltar amanhã — pensei, mesmo com a sensação de que alguém não queria me receber.

No caminho de volta, vejo as crianças brincando, e me junto à diversão. Mas era uma partida contra mim, e todos rimos juntos. O restante das férias foi de festas e alegria, com Rafael sempre presente. Seus pais, no entanto, nunca apareciam, e ele parecia esquivar-se de qualquer pergunta sobre eles.

— Fred nem percebeu, mas o mistério começava a enraizar-se em sua mente. Rafael, com seu jeito reservado, escondia algo que Fred ainda não compreendia totalmente.

Numa manhã de domingo, levantei, tomei banho e fui até a padaria comprar pão para o café da manhã. No caminho, cruzei com uma pessoa que me lembrava Márcia. Meu coração apertou de saudade, mas tentei não dar atenção aos sentimentos que vinham à tona. Na padaria, encontrei Rafael, que comprava o mesmo pão que eu.

— Bom dia, Rafael, estás bom? — perguntei.
— Sim, e com o senhor e as crianças? — ele respondeu, educado.
— Estão bem, graças a Deus. Vieste sozinho?
— Não, vim com a minha mãe. Ela está no carro à minha espera.

Esperei um pouco para conhecê-la e perguntei se ele me apresentaria, mas o menino respondeu, um tanto nervoso, que precisava ir. De repente, uma voz feminina chamou Rafael do carro. A voz me fez parar por um segundo; parecia familiar, mas insisti que era apenas coincidência. Rafael se despediu e entrou no carro, partindo rapidamente.

— Se Fred tivesse insistido em ver quem estava com Rafael, teria notado uma semelhança que até o deixaria em choque.

Depois, comprei meus pães e segui para casa, mas tive um imprevisto: um pneu furado me atrasou. Enquanto trocava o pneu, vi o carro em que Rafael tinha entrado passar, mas ele não parou na frente da casa. Comecei a pensar que algo não estava certo, mas deixei para lá.

Já em casa, tomamos café da manhã em família. Como era costume, as crianças iriam brincar na casa do Rafael mais tarde, mas, surpreendentemente, ele já estava em nossa casa, dizendo que não havia ninguém na dele. Ainda assim, ao olhar pela janela, vi o carro estacionado no mesmo lugar.

— Ele deve ter vindo de táxi — pensei, tentando não dar importância ao detalhe.

Todos foram brincar no jardim, e fiquei sozinho. Paula, minha esposa, havia saído sem dizer muito. Era um dos seus passeios misteriosos. Sempre que ela saía, dizia que iria ver os pais, mas quando eu ligava, eles sempre diziam que ela não havia passado por lá.

— Nesse instante, algo inquietava Fred. Ele estava cada vez mais desconfiado de Paula e Rafael, mesmo sem saber exatamente o porquê.

Comecei a investigar discretamente. A mãe do Rafael nunca estava presente, mas sua ausência tinha um ar de mistério. Decidi preparar o almoço, mas as crianças não estavam em casa, pois os pais de Rafael haviam convidado todos para almoçar com eles. Fiquei sozinho e intrigado, até que Abdinay voltou animada e disse:

— Conheci a mãe do Rafael!

— Só a mãe? — perguntei.
— Sim, ela não tem marido.

Isso me deixou curioso. A menina não sabia muitos detalhes, mas algo parecia oculto. Mais tarde, Paula voltou e perguntei, de brincadeira, onde tinha estado.

— Na casa dos meus pais — respondeu ela, mas algo em sua resposta soava diferente.

Minha investigação continuava, e eu observava que Rafael, sempre brincando com meus sobrinhos, tinha uma certa semelhança comigo e com Paula. Já havíamos comentado isso, mas agora essa coincidência me inquietava ainda mais. Com as férias quase no fim, decidi levar as crianças para casa e entrei em um quarto que só eu uso. Deixei a porta aberta sem querer, e Abdinay entrou curiosa, apontando para uma foto antiga.

— Tio, por que tens uma foto da mãe do Rafael na parede? — perguntou ela, me dando um susto.
— Essa não é a mãe dele... — respondi, surpreso.
— É sim, eu a vi! É ela!

Pedi a Abdinay que não contasse a ninguém, e enquanto levava as crianças de volta, tentei afastar essa ideia da cabeça. Chegando na casa, notei que a porta estava entreaberta. Entrei e vi uma mulher de costas. Reconheci o cheiro familiar e meu coração disparou.

— Márcia?! — exclamei.

A Dor de Um EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora