Capítulo 6

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Depois de alguns quilômetros, observava sua bela salvadora, sentindo o aroma de seus cabelos lisos, que tinham rebeldes fios escapando, tentando seus sentidos, presos em um como a web disse, em um rabo de cavalo. Nos últimos dias, tinha visto muitos cavalos e não se parecia com o rabo de nenhum deles, pelo contrário seu cabelo era brilhante e cheiroso. Na verdade, era toda linda e cheia de curvas, não que em sua vida tivesse alguma assim em seus braços, nada que pudesse comparar.

A compreensão de liberdade o bateu, finalmente era livre para sentir, se emocionar com pequenos gestos, ter um proposito próprio, ao invés de seguir ordens, a serviço de impiedosos. Não é isso que se difere as criaturas sencientes, de seres inanimados, isso nos faz vivos.

Nada em sua longa vida, o preparou para o assalto de suas emoções, quando a sustentou em seus braços. Precisou de todo esforço para solta-la, a sensação impactante de seu corpo sob o seu foi demais para seu sistema, poderia passar o resto de sua vida ali, sentindo a maciez de sua pele e aroma de seu corpo, se embriagando com seu...

Limpou a garganta, vendo se tem como limpar a sua mente.

— Então, Dhália o que estava fazendo tão longe de casa, além de atropelar fugitivos?

Ela sorria, abandonando sua expressão grave, assim tão mais bonita.

— Eu sou veterinária, estava fazendo um parto na fazenda "Oito de Copas", fica uns cinco quilômetros de onde ter encontrei.

— Há tanta beleza em uma vida nova, a procriação e o nascimento são coisas imortais em um ser mortal. Deve estar tão orgulhosa do trabalho que faz. — Seu sorriso é verdadeiro, prende a atenção em seu perfil, lembra-se de um vídeo de bebês e filhotes, que assistiu quando chegou, crias são tão lindas.

— Citando Platão, estou surpresa. Sim, desde criança gosto de animais e trato deles. Minha mão ficava horrorizada toda vez que trazia um gatinho doente. — Responde sonhadora, divertida com a lembrança. — Ela foi minha enfermeira por muitos anos e você de onde vem?

Ele se diverte com a imagem mental que fez, de uma menininha de olhos verdes, suplicando a sua mãe com um gatinho, que demorou alguns segundos para perceber que ela tinha feito uma pergunta.

— Eu não sou daqui, sou de muito longe. — Respondeu vago sem emoções.

— Isso não ajuda sua causa. — Ela riu, mas em seu tom havia uma ameaça, como se dissesse que não ia ajudá-lo, agora o barco já partiu, tem que continuar.

— Certo, — Respondeu cauteloso. — Eu nasci em outro país, sou de Angola. — Ou um pouco mais longe, bem próximo da verdade.

Dhália dá um sorriso nervoso, não deseja ofende-lo.

— Me desculpe, não quero bancar a preconceituosa, mas sempre imaginei que todo mundo lá fosse negro, você tem o cabelo castanho claro e a pele clara levemente dourada, se fosse te classificar eu diria que é um surfista de uma das praias do Sul e como fala sem sotaque de português? Nesse país o sotaque é forte e anasalado. — Intrigante, ela teve uma amiga angolana na faculdade, definitivamente não falava como ele.

Leon estava preparado para essa pergunta, sorriu calculadamente responde.

— Vim para cá muito jovem e tenho facilidade com línguas, não tenho sotaque em nenhuma das línguas que falo. — Fala uma enfileirada de palavras em diversos idiomas, deve ter falado pelo menos uns nove, Dhália percebe pelo som das palavras a mudança de cada idioma, embora não possa dizer qual é qual, está impressionada.

— O que disse?

Ele sorriu.

— Que você é muito linda, mas deve voltar para a escola de motoristas.

Ela estava divertida, é tão charmoso, quase magnético.

— Não seja bobo, é você quem deveria voltar para uma escola de pedestres. — Ambos riem.

— Então Leon. — Fala saboreando as silabas. — Além de falar em vários idiomas, o que pode fazer? Temos que lhe arrumar um emprego.

Vitória, poderia dançar sua alegria se soubesse fazer isso ou puxá-la e beijar em agradecimento, não se move apesar de toda euforia. Será útil, não vai largá-lo na polícia ou hospital, já estava planejando sua fuga em qualquer dos casos. Então é melhor não a assustar, agora é só ajustar seus talentos, palavras escolhidas no tempo certo, vai funcionar, de uma coisa tem certeza, sua veterinária é muito altruísta, seria muito útil à sua causa e poderia cuidar que nada acontecesse a ela.

— Bom, também gosto muito de animais e sou muito bom com eles, posso por exemplo, dar banho neles — Pelo menos Leon esperava por isso, afinal não era fissão nuclear, poderia lidar com isso. — Posso fazer qualquer coisa, posso sei lá, trabalhar servindo mesas ou cuidar de jardins, também sou muito bom com computadores, sou um ótimo digitador, bem rápido na verdade. — É tudo verdade.

— Em que trabalhava? Onde foi feito escravo? — Um homem intrigante, instruído, mas age como se não conhecesse o lugar, as coisas. Talvez tivesse sido encarcerado por muito tempo. Olha tudo com uma curiosidade infantil ou fosse um desnível mental, por isso se aproveitaram dele, sente em sua própria carne imaginar as pessoas o escravizando.

— Em minas de diamante e também em uma carvoaria. — É uma quase verdade.

— Há quanto tempo estava preso? — Imagine isso, ficar preso impotente, trabalhar de sol a sol, longe do seu lugar de origem, é muito triste isso, seu coração quebra pelo pobre rapaz, ninguém deveria ser tratado dessa forma.

— Sinto como se fosse minha vida toda. — Ele abaixa a cabeça como se a lembrança doesse. O eufemismo do século. Ela viu seus olhos se encherem de lágrimas não derramadas, resolve não pressionar por mais, em outro momento poderia extrair mais detalhes. Provavelmente choraria junto com ele, os detalhes não falados são sempre os piores.

Isso a fez lembrar de quando trabalhou em umaOng que resgatava animais abusado, quando estava fazendo o estágio. Algunsatacavam, mordiam, lutavam contra os seus salvadores, no entanto o que mais aentristecia era aqueles que foram muito abusados, por anos acorrentados, quetinham aquele mesmo olhar de Leon, uma resignação triste, como se tudo quetinham dentro fosse arrancado, ficavam pelos cantos aguardando o próximotapa, sem latir só aguardavam o próximo evento, tinham sido quebrados noespirito. A crueldade do ser humano não tem limites. Não teve coragem decontinuar perguntando, ficaram em um silêncio amável.    

Nosso Amor nas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora