Dhália acordou com a sensação de areia em seus olhos, daria tudo para dormir até as dez, mas o dever lhe chamava. Tendo uma noite quase insone, quando dormiu foi afligida por pesadelos onde seu hóspede a imobilizava sob seu corpo e a sufocava com suas próprias mãos. Despertou com muito medo, assim resolveu tomar seu banho matinal, frio e clarear seus pensamentos, que tentavam minar suas resoluções.
Procurou por seu hospede e encontrou a cama vazia, se desesperou.
Será que ele a roubou e partiu? Droga!
Teria que ir à polícia e lhe dariam um sermão de como podia ser tão crédula.
Quando saiu de casa, o encontrou sentado no chão, em posição de lótus, a sombra de uma árvore no meio de seu gramado. Tinha os olhos fechados parecia meditar. Sentiu uma mescla de alivio, curiosidade e apreensão ao se aproximar dele.
Ele abriu os olhos.
— Bom dia.
— Bom dia, o que está fazendo?
— Estou saudando o sol.
— Saudando o sol?
— Sim, uma forma de agradecer a vida. Às vezes, não temos tempo de apreciar as pequenas coisas da vida, não sei se esse vai ser a última vez que vejo o sol, por isso agradeço, por esse dia de vida.
Ela sentia um aperto em sua garganta, a resignação dele é tocante. Ela voltou para dentro de casa, surgindo depois com um tapetinho embaixo do braço e sentou-se ao lado dele, imitando sua posição. A muito tempo tinha feito Ioga, lembrou-se de como achou chato toda aquela história de meditação, mas agora era diferente, ele exudava paz, poderia dispensar alguns minutos para agradecer a vida.
Alguns minutos mais tarde, estavam sentados a uma mesa no bar de Edna, que vem saudá-los.
— Olha só, não é que nossa pequena tem um grande acompanhante? — Dhália levantou-se e devolve o sorriso a amiga o apresentando.
— Este é meu primo Leon que estará me ajudando na clínica. — Edna deu um olhar apreciativo.
— Por que não me trouxe seus parentes antes? — Pegou em sua mão — Qualquer parente de Dhália é meu amigo. O que vai ser?
— O de sempre. — E assim as duas mulheres seguiram tagarelando sobre as novidades que viram na TV e nos canais de notícias, trivialidades da cidade.
Leon não pronunciou uma palavra, apenas observou a cena familiar, ela e outra moça se provocando, como era aquela palavra? Amizade. Brincando, elas demonstram profundo carinho, com provocação e risos, claro que gostaria de participar de algo assim, amizade. Nunca em sua vida foi digno de um gesto assim, que alguém estivesse feliz apenas por que estava lá, simplesmente por existir.
Talvez nunca fosse parte de algo assim, família, amigos. Viu vários vídeos sobre o tema e como as pessoas gostam de se tocar e conversar, intimidade que nunca teve com ninguém, Leondrix filho de ninguém, amigo de ninguém. Mas se envolvesse outras pessoas na sua existência, colocaria todos em perigo. Hora de endurecer Leon, respirou forte enchendo os pulmões e endireitou a postura. Sozinho é bom, deve apenas existir para o bem de todos, tentou se convencer que não se importava.
Sentiu-se um pouco deprimido e puxou para baixo a emoção, deveria sentir-se grato, pois estava vivo e essa era sua chance de se reinventar, afinal essa é uma oportunidade única em sua vida em muito tempo.
Observou que um homem se aproximou e beijou ambas as mulheres, sentiu algo queimar em suas entranhas, queria aquela liberdade de abraçar e beijar alguém, buscou em seus arquivos aquela reação, encontrou um nome, ciúme e não gostou nada disso.
Dhália puxa o homem para apresentar-lhe.
— Jonathan, quero que conheça meu primo Leon.
Ele esticou a mão e se cumprimentaram.
— Muito prazer.
Ela continuou.
— Leon este é um escritor de ficção científica e terror, muito talentoso e meu amigo.
O homem responde.
— Seu amigo sim, mas o muito talentoso é ela quem diz, se quiser, passo alguns de meus arquivos para que leia, aí você decide.
Não tem ideia do seria aceitável responder.
— Gostaria muito de ler.
— Junte-se a nós para o café da manhã? — Dhália aponta a cadeira, com o sorriso amável.
— Não posso hoje, vou pegar o café e correr para academia tenho aula cedo. — Ele aperta seu ombro, afetuosamente.
— Oh, que pena... Eu preciso de um favor seu.
— Diga. — Jonathan já estava saindo, isso tomou sua atenção.
— Estou treinando Leon para cuidar dos pets, pode levar o Crush para um banho, não vou cobrar o banho e tosa.
— Isso vai ser ótimo, meu bebê vai adorar. Vou ligar para Lipe, para levá-lo até a clínica, para que horas?
— Me dê meia hora estaremos lá.
— Vou espalhar para as meninas e ver se querem dar banho em seus bichinhos. — O grande homem dá um olhar em todo Leon, que o deixa desconfortável. — No momento em que virem seu ajudante, as meninas vão cair matando. — Olha em seus olhos. — Se cuida bonitão.
— Obrigada. — Dhália responde seca. Tudo que precisa é um bando de "amapoas" revoando em torno de seu funcionário, se bem que será uma ótima estratégia de negócios, mais mulheres mais pets, Jonathan pode sair com essa.
Edna entregou-lhe o café e este se despediu de todos, saindo em seguida. A dona do café serve a mesa com os quitutes, mais duas xícaras e um bule de café e uma caneca de creme. Dhália serve-se e entrega outra a ele.
Aponta para os itens.
— Temos bolo de fubá, pão de queijo e pão fresquinho, está aqui — Pega um par de frascos e põe ao alcance das mãos. — São dois tipos de geleias, que Edna faz e seu café expresso especial, temos leite se preferir.
O cheiro de tudo está tão bom, que Leon não sabe por onde começar, nunca tinha visto tanta comida a sua disposição, normalmente só subsistia de suas barras de nutrição e líquidos nutricionais, que não tinham sabor algum, eram feitos apenas para manter seu corpo funcionando, em outros momentos comia coisas tão revoltantes, dependendo do humor do seu senhor. Ele viu que ela pegou a xícara assoprou e tomou um gole, gemendo em prazer. Olhou-o com um sorriso.
— Digno dos deuses. Prove.
Quando o liquido escuro tocou a sua boca, foi uma explosão de sabor que tomou conta, quente, encorpado, amargo, enérgico, suspirou em prazer também, nunca em sua vida teve uma experiência como aquela, os líquidos energéticos tinham gosto de nada ou mofo, jamais algo saboroso assim. Saboreou fechando os olhos, contendo-se para não pular de alegria. Decidiu que é a melhor coisa que provou até agora. Está sem palavras para agradecer, Dhália sorriu, ficou emocionado em ser alvo daquele sorriso, ela indica o pão.
— Coma, temos um cliente daqui a pouco.
Como ela pode permanecer assim, enquantoestá em êxtase gastronômico? Ah, sim ela está acostumada com isso, enquantoestiver por aqui irá aproveitar cada bocado que a vida lhe der, afinal quemsabe o dia de amanhã?
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Nosso Amor nas Estrelas
Science FictionDhália é uma veterinária de vinte oito anos, que fez uma promessa a si mesma. Nunca mais se aproximar de homens, muito menos namorá-los, intimidades nem pensar. Isso não parecia um problema, quando se estabeleceu em uma nova cidade, com novos amigos...