Capítulo 1

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— Tudo pronto para a partida amanhã, Aline? Está ansiosa para ver o Oriente misterioso? — O rapaz magro, sentado à mesa do computador, sorriu por trás dos grandes óculos, sem desviar os olhos azuis da tela.

Aline Miranda, sentada na beirada de sua mesa, balançava com impaciência as pernas longas e bem torneadas, olhando pela janela do escritório no primeiro andar. O extenso gramado que enfeitava a frente da velha mansão senhorial agora ocupada pelo departamento de sistemas e pesquisas de uma enorme corporação de engenharia com sede em Curitiba. Mais ao longe, fora de seu campo de visão, ficava o estacionamento. Os funcionários estavam saindo e dirigiam os carros para os portões, atrás de um denso arvoredo. Será que o Volvo vermelho de Adriano ainda se encontrava ali?

"Ande logo, Sam", pensou, olhando para o rapaz de óculos. "Acabe depressa com isso. Arrume suas coisas e vamos embora."

Se não saísse rapidamente, perderia a carona até Ponta Grossa, no carro de Adriano. Havia deixado o seu na oficina, seria revisado e pintado durante sua viagem a Tóquio.

Tóquio! Sentia-se empolgada cada vez que pensava na cidade. Havia três semanas que soube ter sido a escolhida para participar da equipe que iria ao Japão numa missão de verificação de fatos para a companhia.

Sempre sonhou em viajar, e agora a simples menção da palavra Tóquio trazia um brilho intenso aos seus grandes olhos verdes. Imagine só estar na capital fantástica onde Oriente e Ocidente se unem num maravilhoso caleidoscópio colorido! Se Adriano também estivesse lá, para desfrutar todas as maravilhas com ela, seria o céu!

— Claro que estou ansiosa, Sam, e você sabe. Mas... — Olhou em volta do escritório, outrora um gracioso quarto de dormir e agora entulhado de computadores e aparelhos modernos. Então acrescentou: — Mas ainda tenho que fazer as malas e cuidar de muitos outros detalhes.

Como lavar os cabelos e experimentar o novo condicionador, que, supunha, aumentaria o brilho das mechas douradas. Ou deixar seu quarto limpo e arrumado, para que enquanto estivesse fora a sra. Silva não tivesse nada para fazer lá. Ou terminar o relatório no qual trabalhava havia uma semana e com o qual pretendia surpreender e agradar Adriano. Ou... oh, dúzias de outras coisas!

— Está certo, meu bem. — Samuel Albuquerque olhou para a pequena tela e pressionou algumas teclas do computador. — Dê-me mais cinco minutos.

Aline suspirou e consultou o relógio.

— Nem mais um segundo — proclamou.

Continuou olhando pela janela. Mais carros saíam agora, mas ela julgou ver o de Adriano parado no estacionamento. Talvez ainda o alcançasse. Se não... bem, teria que tomar um ônibus, o que seria inconveniente, pois começava a chover e os ônibus que vinham de São José dos Pinhais geralmente passavam lotados nesse horário.

Esse era um dos problemas de trabalhar no campo. Precisava de transporte, mas as despesas mensais com o carro consumiam seu salário. No entanto, ela adorava o que fazia e sabia que vinha obtendo sucesso. Sam a encorajava muito ultimamente. Mesmo assim, Aline ainda precisava se beliscar para acreditar que iria realmente ao Japão no dia seguinte.

O próprio Adriano lhe deu essa notícia, havia duas semanas.

—  Apareça em meu escritório esta tarde, por volta das três — pediu.

Aline, de saída para o almoço, encontrou-o no imponente vestíbulo. O sol, que entrava pelos vitrais coloridos, refletia nos cabelos loiros e no rosto trigueiro de Adriano, fazendo com que ela o achasse ainda mais bonito e atraente. Só o viu duas ou três vezes desde que ele passou a trabalhar naquele setor da firma, e na verdade nunca tinham conversado. De modo que Aline mal acreditou em seus ouvidos quando o ouviu dizer:

Chemistry || Kwon Hyuk (Dean) ||Onde histórias criam vida. Descubra agora