Capítulo 3

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Tudo aconteceu num relance, naquela fração de segundo em que os acidentes sempre acontecem. Num momento ela estava petrificada de terror; no outro, segura com firmeza pelos braços de Kwon Hyuk, sentindo um choque ao se dar conta de que aquilo que viu pairando de maneira ameaçadora acima de sua cabeça era um gigantesco urso com mais de dois metros e meio de altura, em pé sobre as patas traseiras, a boca aberta, os dentes expostos, os olhos flamejantes fixos nela, como se estivesse prestes a devorá-la. Um urso polar. Numa jaula de vidro.

Aline deu um riso nervoso.

— Oh, desculpe... Por essa eu não esperava. Eu...

Todo o seu corpo tremia. Nunca se sentiu tão ridícula. Hyuk conservou os braços à sua volta e conduziu-a a um banco perto da janela, com vistas para as montanhas baixas e os hangares dos aviões. Mas o panorama em nada contribuía para animá-la. Ela pegou um lenço na bolsa e secou os olhos, meio rindo, meio chorando.

— Que idiotice a minha... eu sinto muito.

Hyuk sentou-se a seu lado.

— Psiu, amor. Apenas fique quieta.

Ainda a segurava. Ela sentia a força daquele braço, o rosto pressionado contra o tecido liso do terno. Por um momento não teve vontade nenhuma de se afastar; queria que aquele homem continuasse a abraçá-la, queria se sentir segura e protegida. Toda a antipatia que sentia se dissipava com a necessidade de se sentir bem nos braços dele.

Enxugou os olhos de novo e sentou-se, ereta. O que estava pensando? Era uma jovem e confiante profissional, e esse homem era seu patrão. Não faria nenhum bem a sua carreira se desfalecesse nos braços dele só por ter visto um urso empalhado.

— Olá, o que houve? Aline está se sentindo mal?

Sam estava em pé diante deles; Reinaldo um pouco atrás. Hyuk levantou-se.

— Olá, Samuel... Reinaldo. Aline está bem agora. Foi apenas um pouco de nervosismo de vôo. Fiquem e conversem com ela.

Ele se afastou pelo salão e Aline observou-lhe os passos, as costas eretas, enquanto abria caminho entre grupos de passageiros, rumando para o pequeno conjunto de lojas. Então conversou com seus companheiros de trabalho.

— Olá, Sam. Como vão as coisas?

— Bem. E você? Está muito pálida.

Ela sorriu.

— Estou me recobrando. Sou caloura em viagens de avião. — Não queria explicar sobre o urso.

— Eu também — admitiu Sam. — Mas dizem que voar é mais seguro do que atravessar uma rua, e assim procuro pensar nas estatísticas que provam isso. — Tirou uma folha de computador do bolso. — Veja, nós estamos no "melhor que a média mundial".

Aline estudou a longa fita de papel e riu.

— Oh, Sam, você acha que tudo pode ser solucionado por computadores, não é mesmo?

Ele guardou o impresso no bolso.

— A maioria das coisas o é, ou será. Logo poderemos contar nossos problemas íntimos aos computadores e recebermos respostas.

— Um computador-guia matrimonial... é uma bela ideia. — Aline manteve uma expressão séria.

— Está bem, pode zombar. Mas aposto que muitos casais prefeririam falar sobre sua vida sexual com um computador a fazê-lo com um assistente social.

— Mas isso não o afetaria, não é Sam? Já é casado... com um computador, quero dizer — brincou Aline, e ele levantou a mão num gesto de protesto.

Chemistry || Kwon Hyuk (Dean) ||Onde histórias criam vida. Descubra agora