Capítulo 5

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Na segunda-feira, às 8:30, quando Lenore entrou no Instituto, as crianças estavam em aula, o restante dos residentes, estavam divididos entre Yoga, pilates, dança e hidroterapia, pelo que ela pode observar. Nic estava sentado no sofá assistindo ao desenho do Tom e Jerry, pela sua expressão estava se divertindo, exatamente como qualquer criança. O único detalhe era que ele já tinha 27 anos.

— Bom dia Nic. — Lenore falou, sentando-se ao seu lado.

— Bom dia Lenore, você precisa me avisar quando quiser trocar o turno. Não que tenha problema, mas é uma questão de organização mesmo. — Falou demonstrando que pouco se importava com aquilo.

— Ah, não é isso. — Pensou por um momento se contava que tinha matado aula e achou que isso não seria um problema, Nic não parecia um fiscal da frequência escolar — Eu fui para a escola, mas estava me sentindo tão sufocada que saí de lá, só que eu também não queria ir para casa.

— E você decidiu vir para o lugar no qual, está sendo obrigada a trabalhar de graça. — Apertou os olhos desconfiado.

— Para você ver, como minha vida está indo ladeira a baixo. — Ela riu sem humor.

— Tem sido muito difícil depois do acidente? — Perguntou a encarando, sua testa vincada. Nic sabia que apesar da atitude de Lenore, ela não estava exatamente bem. Ele era muito perceptivo quando se tratava de sentimentos.

Ela, por sua vez, queria dizer como estava sendo insuportável, como era acordar cada dia lembrando o que tinha feito. E como era pior o jeito com que seus pais a olhavam. Mas o que Nic tinha a ver com isso? Nada. Ela havia feito suas escolhas, e deveria aguentar as consequências. Sozinha. Por isso respondeu:

— Não. Só estou sendo melodramática e aproveitando o meu direito de faltar a aula.

— Quem sou eu para ir contra seus direitos. — Mas Nic notava que suas palavras saiam com força e que não pareciam sinceras.

— Você trabalha aqui a muito tempo? — Falou mudando de assunto, fazia isso com frequência, quando sentia que estava indo por um caminho sentimental.

— Desde que o Instituto abriu as portas. Meu pai era cego, eu passei a vida toda tentando entendê-lo, nunca consegui, é claro. Quando terminei a faculdade de medicina me especializei em oftalmologia, mas estudar algo é muito diferente de viver. Mas sinto que o que fazemos aqui ajuda sabe, é realmente importante.

— Seu pai é um dos residentes? — Tentava enxergar o rosto dos idosos que dançavam no gramado em frente à casa, para ver se deduzia quem poderia ser o pai dele.

— Não, ele ficou aqui por alguns meses, mas já se foi. — Falou tranquilamente.

— Sinto muito. — Porque ela sempre fazia perguntas que levavam a coisas tristes e desconfortáveis. Era um dom cruel que a natureza lhe dera.

— Ah não, ele não morreu, ele e minha mãe se mudaram para o Hawaii, os visito a cada seis meses, ele está ótimo.

— E eu aqui comovida com a sua história, que palhaçada.

Não disseram mais nada, ficaram ali, olhando aquele episódio em que Tom e Jerry se juntam para esperar pela morte nos trilhos do trem, devido as suas decepções amorosas. Vendo agora Lenore achou que não era nem um pouco infantil aquele desenho. Sério, eles estavam se suicidando, como isso poderia ser desenho para uma criança. Se bem que as crianças são tão puras e felizes. Aquele desenho nem deve fazer sentido para elas. Mas depois que a vida nos decepciona faz, até demais. Chega de dor e tristeza, antes que eu procure um trilho, pensou.

Nebulosa CaioOnde histórias criam vida. Descubra agora