Capítulo 4

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Durante o trajeto até em casa, o pai de Lenore não havia dito uma palavra, isso a incomodava demais. Ela sabia que o tinha decepcionado de um jeito inimaginável, que o modo como tinha agido, naquela noite, a um mês atrás, nada tinha a ver com a maneira que fora criada. Ela tinha tomado decisões idiotas e irresponsáveis, mas não havia como mudar o que acontecera.

O problema era que os pais não falavam nada, desde o dia que voltaram do hospital. Eles continuavam fazendo suas coisas rotineiras e mal falavam com ela, evitavam até olhá-la. E quando lhe dirigiam a palavra, estas eram carregadas de fúria, desapontamento e muitas vezes sarcasmo. No fundo, ela só queria, que eles gritassem até ficarem roucos, que dissessem o quanto ela havia sido estúpida. Queria poder chorar desesperadamente, pedir perdão por algo imperdoável, e depois abraçá-los. Queria mais do que tudo, que eles demonstrassem que ainda a amavam. Como quando era criança, e quebrou o vaso preferido de sua mãe, Ana havia ficado furiosa, deu bronca por horas, mas quando acabou, lhe deu um beijo na testa e disse que a amava.

Talvez fosse egoísmo dela, mas ela se sentia tão sozinha. Lucas não havia procurado por ela ainda, mas ele era um babaca, então era meio que previsível. Ainda assim, doía, ela lembrava das vezes que ele dizia que a amava. E em seguida, lembrava da noite do acidente, ele nem tentou negar que tinha chamado uma prostituta, ele era homem, como havia justificado. Maldito babaca, ela pensava, e se sentia ainda mais idiota, por sentir falta dele. Seus amigos, para falar a verdade, já tinham se afastado, quando ela começou a namorar Lucas, e se mantinham afastados agora.

Durante o jantar Ana perguntou como tinha sido o dia no Instituto, mais para se sentir melhor por conversar com a filha, do que realmente saber.

— Foi bem divertido, para ser sincera. — Havia um tom de empolgação na voz de Lenore. — Um dos garotos, Caio, ele é ótimo em saltos mortais, o que incrível, já que ele é cego. Então ele meio que passou a tarde toda tentando me ajudar, mas eu sou péssima.

— Achei que você tinha ido para lá, como forma de pensar melhor suas atitudes, e não fazer mais coisas idiotas. — Marco falou de forma ríspida, batendo o punho na mesa. — Mas já que parece um lugar de recreação, acho que eu devia falar com o Munhoz, ver se ele tem outro lugar para te mandar, um que realmente ajude.

— Faz o que você quiser! — A empolgação desapareceu, dando lugar a fúria. — Eu não pedi para você falar com ele para início de conversa mesmo.

— Lenore! Não fale assim com seu pai. — Ana interveio.

— Menina mal-agradecida, se não fosse por mim você estaria presa. Entende isso? Será que você consegue entender? Ou se chapou tanto que não tem mais nenhum neurônio? — Ele falou se levantando, o rosto vermelho de raiva.

— Talvez fosse melhor eu ser presa mesmo, não é o que você queria? Um lugar que me ajude a pensar, a ser a filhinha perfeita. — Lenore também se levantou encarando o pai.

— Nós nunca iríamos querer isso filha. — Ana chorava, odiava brigas, odiava como sua vida em família estava sendo depois que Lenore havia voltado do hospital.

— Então o que vocês querem de mim? — As lágrimas começaram a escorrer, e Lenore desabou na cadeira. — Por favor, me digam. — Falou entre soluços, escondendo o rosto nas mãos.

Naquele momento o coração de Ana e Marco pesou, era horrível ver a filha naquele estado. Mas não podiam ceder ao impulso de confortá-la. Ela tinha feito algo muito grave, precisava entender isso. E se eles lhe passassem a mão na cabeça, ela nunca entenderia.

— Vá para o seu quarto Lenore, e a partir de amanhã você vai para o Instituto de ônibus depois da escola. Ou de bicicleta se quiser. — Disse Marco, voltando a se sentar.

Nebulosa CaioOnde histórias criam vida. Descubra agora