Capítulo 16

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Cora finalmente conseguiu fazer Lenore se mover, caminhavam em direção a saída, quando escutaram uma tosse fraca. Era Caio. Os médicos as tiraram rapidamente da sala, e ficaram em volta dele e das máquinas, caminhando de um lado para o outro.

— Ele voltou. — Lenore disse num misto de alegria demente e incredulidade.


Um mês depois de acordar para sua "segunda vida", como o próprio Caio chamou, ele saiu do hospital. Ainda estava magro, caminhava e se alimentava com dificuldade. Mas a certeza era que ficaria bem. Não sabia dizer exatamente o que tinha acontecido, os médicos diziam que tinha sido um tipo de parada cardiorrespiratória. Ele acreditava que tinha morrido e que de alguma forma, o amor de Lenore e sua mãe o trouxe de volta. Amor, medicina, Deus, sorte, as duas não se importavam, Caio estava vivo e ficaria bem, isso era tudo.


— O que você está fazendo aqui? — Disse Lenore surpresa.

— Quem é? — Perguntou Caio ao seu lado.

— Lucas.

— Ele trabalha aqui agora. — Disse Cora que vinha de seu escritório, parando ao lado de Lucas e colocando a mão em seu ombro. — Se não fosse por ele, talvez Caio não estivesse aqui.

Caio soltou a mão de Lenore e se aproximou de Lucas, lhe dando um abraço desajeitado, por não saber exatamente onde ele estava. Quando Lenore contou o que Lucas fizera, Caio não sabia o que pensar, odiava ele, pelo que tinha feito a Lenore, mas a ajudara a salvar sua vida. Por fim só conseguiu sentir gratidão, de alguma forma, foi por causa de Lucas que tinha conhecido Lenore, e por causa dele podia estar ali com ela agora.

— Não sei como agradecer. — Disse com sinceridade.

— Não precisa. — Respondeu Lucas, sem jeito depois do abraço. — Eu sou muitas coisas, mas assassino não é uma delas. E eu causei muito mal a Lenore, fico feliz que você esteja bem e que ela esteja feliz.

— Se não fosse por você Lucas...eu nem quero pensar. Muito obrigado. — Lenore falou o abraçando também. Ainda era estranho para ela, como em tão pouco tempo, seus sentimentos por Lucas oscilaram tantas vezes, conclui que a bondade que via nele quando namoravam, existia de fato, não havia sido ilusão de sua mente apaixonada. E ficava feliz por isso.

Já ele não gostava de toda aquela emoção. Tinha ajudado Lenore e Caio, porque não ia deixar alguém morrer, não era um ato heroico, nem nada, era apenas humano, e as pessoas se esqueciam que ele roubou um carro para isso. Bem o delegado não havia esquecido, se não fosse por Cora, ainda estaria preso. Mas ela o tirou da cadeia, lhe deu um emprego e uma casa. Assim como Caio, ele recebeu uma nova chance, e tentaria fazer as coisas certas, por mais que fosse bom em fazer as erradas.

— É sério, parem de me agradecer. Eu vou fazer as coisas que você me pediu Cora. Até mais. — Lucas se despediu e foi em direção ao jardim.

— Eu vim procurar vocês, porque o delegado me ligou. — Disse cora se dirigindo à Caio e Lenore.

— É sobre o Daniel? — Perguntou Lenore tensa.

Não conseguia mais se sentir segura. Depois daquele dia no parque, Daniel havia desaparecido. Ninguém tinha notícias dele, e ela estava aterrorizada com a possibilidade de ele ir atrás de Caio de novo, estava sempre paranoica, andava com um spray de pimenta e um canivete no bolso, e sempre checava todo cômodo antes de Caio entrar.

— Ele se suicidou. — Cora falou com certo alívio. — Deixou um bilhete para a esposa e para a filha, dizendo que se arrependia pelo que fez e não conseguia mais conviver consigo mesmo.

Lenore ficou estarrecida, podia finalmente se sentir segura, pois ele nunca mais viria atrás de Caio. Mas, ainda assim, se sentia culpada, por tudo que acontecera a Daniel.

Entendendo a reação dela, Cora e Caio a abraçaram, dizendo que não era sua culpa. Cora argumentou:

— Coisas ruins acontecem Lenore, coisas que nem sempre temos controle. Mas o que fazemos depois, é escolha nossa. Você o machucou e ele te machucou de volta, mas agora acabou. — Disse beijando a testa de Lenore e voltando para seu escritório.

— Ela tem razão. — Caio falou no ouvido de Lenore.

— Eu sei. Racionalmente eu sei. Mas sei lá, ainda vai demorar um tempo, talvez com um pouco de terapia. Mas eu vou superar isso, porque essa é a minha escolha.

— Eu vou estar aqui, para o que você precisar.

— Eu sei cegueta. Mas me conta, como foi morrer? O que tem do outro lado? — Perguntou Lenore, mudando de assunto.

— Um dia, daqui a muito, muito tempo, você vai descobrir. — Respondeu em tom místico.

— Fala sério! Ou não tem nada e você está me poupando de uma crise existencial?

— Eu não sei, os médicos dizem que eu não morri de verdade. Mas eu senti que eu estava sendo tragado para longe, só que eu conseguia sentir sua mão na minha, só lembro de ter segurado com mais força e então eu voltei.

Os olhos de Lenore brilharam com a emoção.

— Eu fiz isso, eu segurei sua mão com toda a minha força, eu não queria deixar você partir.

— E você não deixou. — Disse acariciando o nariz de Lenore. — Vai ficar tudo bem, nós vamos ficar bem.

Lenore o beijou com o fogo e a ternura de um grande amor, dali, foram direto para o quarto de Caio.


Nebulosa CaioOnde histórias criam vida. Descubra agora