— Isso aqui lembra muito a mansão dos X-Men, tem certeza que não é Instituto Charles Xavier? — Lenore perguntou enquanto o pai estacionava nos portões principais do Instituto Monteiro, ao longe podia se ver uma enorme mansão branca. Até aquele momento, ela só sabia, que era um lugar para pessoas cegas.
— Ao invés de brincar, você deveria agradecer, por estar aqui, viva, bem e andando com as próprias pernas. E não faça eu me arrepender de ter convencido Munhoz a te mandar para cá. — Apesar da agressividade de suas palavras, o tom de Marco era inexpressivo.
Ele mal conseguia olhá-la nos olhos, sem sentir a bílis se agitando em seu estômago. Não reconhecia mais sua garotinha, nem acreditava que ela ainda existisse, não depois do que fizera. O que o revoltava mais, é que ela não demonstrava qualquer emoção com aquilo. Pensou que depois de passados alguns dias ela entenderia e desabaria, como fazia quando era criança, pois as coisas sempre demoravam para lhe atingir. Mas agora mesmo, estava ali fazendo piada. Será que ela não entendia a gravidade do que tinha acontecido ou simplesmente não ligava? Aquilo o deixava com raiva, principalmente dele mesmo, por pensar na filha daquela forma.
Lenore também não era o quadro da felicidade, seu corpo todo ainda doía, e sentia sua cabeça martelar, mais vezes do que conseguia contar. Mas, ela estava tentando seguir em frente, depois do acidente. Pois não estava pronta para olhar para trás.
O Instituto era uma imponente construção de dois andares, estilo vitoriano, toda branca, com telhados pontiagudos, duas torres circulares e pilares com flores entalhadas. Fazia Lenore lembrar de um hospital assombrado que vira em um filme. Passou pela grande varanda da entrada, que tinha vários sofás e cadeiras dispostas, notou um senhor idoso sentado na mais distante delas. Depois, respirou fundo, e entrou pela grande porta de vidro, que estava aberta.
Por dentro a mansão também era branca, com alguns tons pastéis. Do hall de entrada Lenore podia ver a ampla sala de estar, com um sofá bege em formato de L e uma grande televisão. Uma estante repleta de livros escondia uma das paredes da sala, em frente a ela havia uma grande mesa oval. Fora isso não havia mais móveis. Seguindo pelo hall havia uma escada, que depois se dividia em mais duas. No chão, lembrando o caminho de um mapa de tesouro, havia uma faixa azul com relevos, como aquelas no metrô e em paradas de ônibus, a faixa seguia indicando inúmeros caminhos a partir da entrada.
Lenore sempre foi muito curiosa, seus olhos atentos varriam todo o ambiente, mas sua curiosidade geralmente a deixava dispersa, tanto que nem percebeu o homem parado atrás dela, só notou quando escutou sua voz grave perto de seu ouvido.
— Piso tátil. — Ela deu um pulo para a frente. — Seja bem-vinda ao Instituto Monteiro. Sou Nicholas, mas me chame de Nic. Serei o responsável por você aqui. — Era um jovem de 27 anos, de braços fortes e sorriso caloroso.
— Lenore. — Ela apertou a mão que ele estendia em sua direção.
— Já conhecia o Instituto? — Lenore balançou a cabeça em negativa. — Bem, então vou lhe contar a história brevemente. Ele foi construído por Cora Monteiro, logo após a morte de seu marido, Andrei Monteiro, que como você deve imaginar era cego. Ela criou esse lugar para que todas as pessoas com qualquer grau de deficiência visual, tivessem um espaço, onde pudessem ser quem eram, sem temer qualquer coisa ou pessoas, e onde estivessem seguras. Aqui oferecemos tudo, escola, médicos especializados, os mais diversos cursos, e principalmente um lar. Aceitamos pessoas de todas as gerações, o que engrandece qualquer relação aqui estabelecida.
— Uau! Alguém decorou um grande texto. — Pois aquilo era ensaiado demais, Lenore concluiu. — É tipo um internato?
— Não, é claro que as crianças e adolescentes têm obrigação de estudar, fora isso qualquer residente é livre para fazer o que quiser. Eles podem sair a qualquer momento. Mas a maioria prefere ficar aqui, eles se sentem melhor.
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Nebulosa Caio
Storie d'amoreA forma como Lenore via o mundo mudou após o acidente de carro, ou será que foi depois de conhecer Caio? Um jovem cego, engraçado e com um sorriso de tiranossauro, que a fazia se sentir inteira novamente.