Prólogo

242 13 1
                                    

Faz dois dias desde que assinei os papéis que o Rei Luís me enviou, agora sou oficialmente proprietário das terras que eu cuidei desde a minha mocidade.

O Duque Edmond queria roubar esse direito que eu conquistei com tamanho esforço. Bem... ele terá de aceitar.

Assim que cheguei em casa, depois de passar o dia inteiro trancado no escritório do meu advogado para decidir o futuro das novas terras, um par de olhos azuis e cabelos loiros encaracolados me recebe no deque.

- Finalmente! - reclama suspendendo a saia do vestido azul mararinho. - Pensei que tinha esquecido que tinha esposa.

Ela colocou as mãos na cintura e seu sorriso me contagiou, dei um beijo na testa dela e segurei sua mão.

- Você é meu descanso Clara. - ergui as sobrancelhas vendo uma expressão irritada se formar no rosto dela. - Estava com saudades.

Caminhamos até a entrada da nossa casa, o casarão que herdei dos meus falecidos pais, cheio de quartos e salas e que faziam eu me sentir em paz.

A governanta nos recebe com duas xícaras de chá, sentamos no sofá da sala e bebericamos juntos o chá.

- Você sempre me chama de Clara. - reclamou fazendo a mesma expressão de irritação que eu tinha acabado de ver.

- Isso não é verdade... - sorri acariciando a bochecha dela. - ...amor.

Ela sorriu me roubando um beijo, depois deitou no meu braço e começamos a conversar como grandes amigos, porque éramos amigos mesmo, nunca quis subjugar Clara, montar a personalidade dela para ser a perfeita esposa, me apaixonei por ela do jeito que ela era, me encantei pela sua peculiaridade.

Ela tinha a sutileza de uma jovem francesa, mas a energia de uma criança que acaba de aprender à andar.

Naquela noite eu não quis saber de trabalho, terras ou reuniões, só queria apreciar minha esposa, a respiração dela ficava ofegante todas às vezes que eu beijava o nódulo de sua orelha. O sorriso brincalhão dela se erguia quando nossas bocas se encaixavam e nossos corpos emanavam amor. Amor que cresceu na infância e permanece até hoje.

Tudo foi tão rápido que ainda não acredito que Clara está morta. Eu deveria saber que Edmond era um ladino dissimulado, mas a minha melhor metade está dentro de um caixão, deitada como uma boneca, com os cabelos loiros  encaracolados, usando um vestido azul turquesa.

Eu sabia que ele tinha envenenado Clara, mas não tinha como provar isso. Apertei os punhos e baixei a cabeça, várias pessoas rodeavam o caixão, entre conhecidos e não conhecidos. Os nobres vieram por minha causa e a família de Clara estava tão abatida quanto eu. A mãe dela tinha os olhos azuis que me lembravam tanto ela, mas os cabelos eram escuros. O meu sogro tinha os cabelos loiros e encaracolados, iguais os dela.

Eles me abraçaram e assim que o padre terminou de velar e o caixão foi enterrado, um pedaço de mim também foi enterrado.

O Duque Edmond estava lá, com suas três filhas e sua esposa, olhei com ódio para ele que me mostrou uma falsa solidariedade. Eu queria ir até lá, bater na cara dele até sangrar, mas algo mais insano e cruel tomou conta de mim.

Eu iria me vingar, iria fazer ele chorar todos os dias da vida miserável dele.

Olhei para as filhas dele e percebi que Edmond gostava de conversar mais com a mais nova, ele falava com todas, mas não lhes dava total atenção. Sua esposa ficava de lado, conversando com as outras senhoras nobres.

Naquela hora eu soube que eu atingiria ele se a filha mais nova desaparecesse. Era óbvio que ele não amava a esposa.

Analisei a moça de cabelos castanhos escuros, pele pálida e olhos verdes e felizes, ela usava um vestido cinza, todos no velório usavam roupas neutras ou pretas.

Ela me olhou por um segundo, os lábios se comprimiram e uma expressão de tristeza brotou em seus olhos. Continuei encarando com a mandíbula trincada, ela olhou para seu pai que estava saindo do cemitério.

Anaelle Esme era o nome dela, bebi um copo com água e arquitetei um plano pra matá-la de uma maneira tão sutil quanto a maneira que o Duque matou minha amada Clara.

Eu não tardaria. Não descansaria até ver Edmond prostrado, com os olhos vermelhos e morto por dentro, ele viveria sem a melhor parte dele, a amada filha.

Meu coração estava em pedaços, uma parte minha estava eternamente presa com Clara.

Voltei para casa, depois daquele fatídico dia, resolvido e decidido.

O Mistério do Senhor Armand Onde histórias criam vida. Descubra agora