O Mistério do Senhor Armand

Capítulo 6

* Anaelle Esme

- O senhor Neville foi até a cidade. - disse Marlene enquanto trançava meus cabelos.

- Mas já fazem dois dias. - a minha voz era extremamente irritada.

Ele havia me largado em uma péssima condição no seu quarto, disse que voltaria para o jantar e não voltou. Marlene levou meu jantar no quarto naquela noite, manteve-me trancafiada por duas noites seguidas, dentro daquela mansão.

- O milorde não compartilha seus planos com seus subordinados, apenas nos diz o necessário. - disse Marlene finalizando a trança que começava no alto da minha cabeça e descia pelo meu ombro.

- Bem... - levantei da cadeira conferindo minha aparência no espelho do toucador. - Obrigada, pode me deixar sozinha.

Marlene se retirou do quarto, fiquei sozinha. Olhei para a janela, o sol estava se pondo, chegando o início da terceira noite que Neville tinha me deixado aqui.

Enrolei o tecido da saia do meus vestido nervosamente. Ele era azul turquesa, com decote em V e mangas justas até os cotovelos. Calçei sapatos de veludo da mesma cor do vestido.

Depois do jantar, quando toda a mansão se recolheu, saí do quarto para perambular pelos corredores. Estava sem sono e com medo.

Subi dois lances de escadas, passando por paredes repletas de  quadros. Cheguei em uma grande porta no último andar, girei a maçaneta e um estalo ecoou pelos corredores, seguido pelo rangido que a porta fez ao  abrir.

Entrei sem hesitar. - Olá?

Não ouvi nada, mas meus olhos foram surpreendidos com o que havia na imensa sala de dois andares.

Livros...

Prateleiras e mais prateleiras de livros, eu não sabia qual era o conteúdo, mas estava curiosa para descobrir.

As janelas eram cobertas por cortinas vermelhas, uma mesa de mogno estava localizada no canto da sala, atrás dela tinha uma poltrona preta com rodinhas. Papéis e anotações estavam organizados na mesa.

Do lado oposto da sala tinha um grande sofá de couro. Uma poltrona acolchoada no meio da sala me chamou atenção, pois ao lado dela tinha uma mesinha com três livros e um espaço para colocar uma bandeja de chá.

- Vou ficar aqui e devorar o máximo de livros que eu puder, já que eu não posso sair para o jardim e nem pretendo ficar presa no quarto esperando Neville voltar. - falei comigo mesma.

Fechei a porta e acendi as velas com o candelabro que tinha pegado no corredor.

Depois de explorar por horas as prateleiras, apanhei um livro que estava escondido entre dez volumes em uma prateleira do segundo andar, sua cor e o título me chamaram atenção. Ele possuía uma capa de veludo azul que estava escrito; " I Diário do senhor Armand."

Pensei ser algum escrito pessoal de Armand, sentei na poltrona que estava no meio da sala e comecei a folhear o livro.

Percebi que a história era sobre os segredos sombrios do primeiro dono da mansão. Segredos que envolviam desde paixões proibidas e extraconjugais, até assassinatos bem planejados.

A escrita era minuciosa, com detalhes de local escolhido para enterrar a vítima, meios de despistar as investigações policiais e manter o assassino livre.

No final do primeiro livro, descobri que o primeiro dono da mansão, era na verdade, o assassino que foi traído pela esposa e que se vingou do amante. Ele manteve a esposa cativa durante 12 anos, até que ela não aguentou viver daquele jeito e se suicidou.