21 de maio de 2016
O sol preguiçoso da tarde entrava pelos vidros da janela do salão de treinamentos e fazia a pele pálida e suada de Osmond brilhar. Ele respirava arfando e estava claramente exausto, mas Kenna nem mesmo começara a suar de verdade até aquele momento. Apenas uma gota ou duas escorria em sua testa, porém ela poderia continuar o exercício por horas e horas ainda.
Osmond se desviou dos socos de Kenna com movimentos arrastados, quase em câmera lenta. Ela estava sendo condescendente com ele e desferindo golpes em baixa velocidade também, mas estava ficando entediada. O rapaz revidou com um chute circular do qual ela facilmente escapou, então desferiu dois jebs diretos bem óbvios e um cruzado, formando uma sequência boba de iniciante.
Cansada, ela segurou o braço de Osmond, torceu-o e lhe passou uma rasteira. Ele caiu no tatame com uma careta sem fôlego, mas já estava pronto para se esforçar e ficar de pé. Kenna pegou uma garrafinha de água e a borrifou no rosto dele.
- Vamos fazer uma pausa, campeão. - ela bebeu e lhe entregou a garrafa em seguida.
- Achei que... com o tempo isso fosse... eh... ficar mais fácil. - ele grunhiu, sem forças para se levantar.
Kenna se sentou ao seu lado no tatame e lhe deu um sorriso de troça.
- Você pega leve comigo - Osmond a olhou de um modo suave, ainda deitado. - Blake me detona!
- Talvez eu devesse ser mais dura. Que tal?
- Acho que não estou pronto para descobrir o que isso significa. - ele brincou.
Kenna tirou a gominha dos seus cabelos e os deixou cair em cascatas nos seus ombros. Enquanto isso, Osmond se sentou e tirou a camiseta encharcada, jogando-a de lado. Ele bebeu água, deixando-a escorrer por seu peito, depois passou a mão pelos cabelos, o que os fez respingar suor em Kenna.
- Ei! - ela o empurrou, rindo. - Que nojento, Osmond!
Ele sorriu e Kenna pensou em como era estranho vê-lo sorrir assim. Nos últimos meses, ele tinha alternado entre confusão e tristeza, seu rosto sempre sombrio e melancólico. Aquele sorriso de má vontade era como o sol da tarde que iluminava o salão de treinamentos: quente, manso, iluminado.
- Que cara é essa, McKenna? - Osmond riu e desviou o olhar dela.
- Cara? Que cara?
- Essa aí! Você gosta do meu sorriso, é isso? - ele voltou a olhá-la e os dois se fitaram por segundos com duração de eternos.
Kenna sentiu suas orelhas queimarem de um jeito bem idiota e voltou o olhar para as bandagens que protegiam suas mãos.
- Não... É que é bom vê-lo sorrir depois de tanto tempo, só isso.
- Hmmm...
Osmond fez um silêncio cheio de risinhos e ela ficou se sentindo mais boba ainda. Ele tinha esse efeito sobre ela: fazê-la se sentir ridícula, não importava como agisse. Isso era um golpe no orgulho de Kenna e ela nunca sabia como reagir a esses sentimentos. Nunca sabia como reagir a sentimento nenhum.
- Você se lembra de quando tomou a pílula da Cronos? - a voz dele ficou subitamente séria e escura. - Como foi...
Kenna franziu a testa, pensativa. Não se lembrava de quase nada além de aulas e mais aulas sobre o Tempo e treinamentos físicos para se tornar uma Agente do Tempo, como os que Osmond estava fazendo agora.
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Cronos
Science Fiction11 de novembro. A Viajante do Tempo olhou para o relógio enquanto o trem aumentava a velocidade, deixando a plataforma de embarque para trás. 11:10. As luzes do trem piscaram e o Tempo encheu o vagão com a estática das dimensões se abrindo para outr...