12 de fevereiro de 2019
Ela abriu os olhos bem devagar. Suas pálpebras pareciam cortinas de chumbo e um gosto amargo fazia sua língua parecer espessa. Tudo estava fora de foco, mas uma iluminação amarelada e morteira a acolheu de forma agradável.
Kenna levou o pulso na altura do seus olhos para checar as horas, a primeira coisa que sempre fazia ao acordar, e seu coração disparou num salto desesperado. Onde estava seu relógio?! Ela se sentou e olhou ao redor, mas uma vertigem intensa nublou sua visão.
Mãos vieram do nada ampará-la e a seguraram com cuidado antes que ela caísse para trás de volta na cama. Kenna tentou dizer alguma coisa, mas seu cérebro parecia pesado e a pulsação do sangue ecoava nas suas orelhas.
- Shhh... - uma voz grave a consolou. - Está tudo bem.
- Ja... Jar...
Jared? Ela se perguntou, mas não conseguiu dizer.
- Desculpa que tivesse que ter sido assim. Eu gostaria que pudéssemos nos encontrar de formas menos trágicas, de verdade.
Ela não estava entendendo nada. O que acontecera? Não conseguia se lembrar direito... Havia um shopping... O que ela estava fazendo lá mesmo?
- Beba isso aqui.
Um copo apareceu nos seus lábios, mas ela o empurrou de forma desastrada e talvez tenha derramado um pouco do líquido na cama.
- Sss.... Silas! - Kenna grunhiu.
Ela o empurrou também, porque ele a segurava para que ela conseguisse ficar sentada. Desfez-se das mãos dele e apoiou sua cabeça nas suas próprias mãos, respirando fundo.
- Rodando... Parece que estou na droga de um... de um carrossel em alta velocidade. - ela esfregou seus olhos.
Quando os abriu, sua visão finalmente voltou um pouco ao foco. Ela estava em um tipo de apartamento grunge no sótão de algum prédio. O teto era inclinado, com uma enorme janela de vidro que mostrava as estrelas do céu noturno exatamente sobre a cama. O chão era de tábuas rústicas, assim como o revestimento das paredes, e havia um saco de pancadas pendurado num canto, uma estante bem organizada com roupas dobradinhas em pilhas de tecido preto e pequenos enfeites, uma escrivaninha impecável com papéis em pilhas certinhas e um notebook. A parede de frente para a cama king size estava repleta de fotografias e a iluminação morteira do quarto vinha das luzinhas de LED ao redor delas.
- Pelo amor de Deus - Kenna esfregou o rosto de novo, mal acreditando em onde estava.
- Desculpe-me, Kenna. Eu não queria machucá-la. - disse Silas atrás dela.
- Pra merda!
Ela não queria nem olhá-lo. As coisas haviam saído um pouco do que ela planejara ao aceitar se encontrar com ele, mas ela ainda podia lidar com a situação. E acabar com aquilo tudo.
- Eu quero que você confie em mim, Kenna. - ele disse.
Ela respirou fundo.
- Quantas horas?
- Esqueça o Tempo agora.
- Eu preciso saber a merda das horas! Agora! Por favor.
Ele ficou de frente para ela. E Kenna finalmente olhou o rosto sem máscara do Viajante Misterioso. Ele era jovem, não muito mais velho do que ela, tinha cabelos escuros que caíam em cachos sobre seus olhos, sobrancelhas intensas e expressivas, um nariz reto e lábios finos bem desenhados. Sua barba estava por fazer e ele, claro, vestia roupas completamente pretas, jeans e camiseta simples. Kenna achou curioso vê-lo descalço.
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Cronos
Science Fiction11 de novembro. A Viajante do Tempo olhou para o relógio enquanto o trem aumentava a velocidade, deixando a plataforma de embarque para trás. 11:10. As luzes do trem piscaram e o Tempo encheu o vagão com a estática das dimensões se abrindo para outr...