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11 de fevereiro de 2019

A noite espreitava no horizonte, brotando devagar nos primeiros pedacinhos do céu. Kena desceu do carro e um vento frio lhe recebeu com beijos gelados, revolvendo seus cabelos. Ela respirou fundou e vestiu sua jaqueta preta de couro. Estava furiosa! Se ele aparecesse na sua frente naquele instante, era provável que ela simplesmente sacasse sua arma e o matasse bem ali. Não com um tiro no peito ou na cabeça, ela lhe daria um tiro na coxa e o deixaria morrendo de dor bem lentamente.

19:11

O que ela poderia fazer além de esperar? Ficou lá no estacionamento, vendo a morte do sol colorir o horizonte de escarlate vivo e os faróis dos carros começarem a se acender na avenida. Kenna não se achava uma garota muito sentimental - ela era durona e fria, sabia disso -, mas havia um tipo de mágica nos pôres do sol que fazia algo dentro dela se aquecer e a deixava em um estado de contemplação sagrada e sublime. 

Aquele pôr do sol frio estaria ainda mais maravilhoso, se ela não estivesse com tanta raiva. A arma na cintura às vezes tocava sua pele quando a camiseta subia um pouco e arrepios lhe mordiam os músculos, o que aumentava seu nervosismo.

19:17

Enfim o celular de Kenna tocou e ela atendeu prontamente:

- Muito engraçadinho da sua parte me passar o endereço da merda de um shopping. - disse de uma vez, observando o enorme prédio envidraçado todo aceso e cheio de pessoas entrando e saindo.

A voz dele estava fraca do outro lado, fiapos de som:

- Ah, Kenna, que graça teria te trazer direto assim para a minha casa, te contar onde me encontrar para você me prender e fazer lavagens cerebrais em mim na Cronos?

- Não fazemos lavagem cerebral nas pessoas. - ela retrucou. 

- Tanto faz. Você vai querer me encontrar ou não? - ele disse do outro lado.

- De verdade ou essa é mais uma brincadeirinha irritante? Porque juro que te fragmento eu mesma se você estiver zoando comigo.

19:18

- Entre no shopping. 

- Ah, sério que vamos fazer isso? Só me fale onde você vai estar! 

- Não, Kenna, eu preciso ter certeza de que você está completamente sozinha. - ele disse com calma. Por algum motivo, sua voz estava ecoando do outro lado. - Ao contrário do que você sempre espera de mim, eu não sou tão idiota e com certeza não planejo ir preso.

- Silas. - ela trincou os dentes, o vento a deixando mais inquieta ainda. - Estou ficando impaciente

- Siga as minhas instruções. Por favor. Você vai cooperar? 

Ela não respondeu, olhando de forma pensativa para o shopping iluminado.

19:19

- Vai cooperar, Kenna? 

- Estou caminhando. 

Kenna andou segurando o celular no ouvido. Ela não podia negar que estava bem curiosa para ver finalmente o Viajante Misterioso diante de si, sem máscara alguma! Ela vira fotos dele na sua ficha criminal da Cronos, mas pessoalmente era sempre outra história. 

- Estou entrando no shopping. 

Ela se misturou às outras pessoas que circulavam pelas portas de fechamento automático, uma bela mulher toda vestida de couro preto, com os cabelos revolvidos pelo vento e um olhar esmaecido com delineador mais cortante do que vidro de garrafa. Muitos olhavam fixo para ela, homens principalmente, mas nenhum deles era Silas Blackwood.

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