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12 de fevereiro de 2019

Blake desceu do carro com o coração palpitando. O céu havia amanhecido azul e límpido com promessas de temperaturas agradáveis, porém uma ventania inesperada, que começara durante a manhã e seguia até aquele momento, trouxera nuvens ranzinzas para a cidade. 

Ele puxou o zíper da sua jaqueta e observou o fluxo intenso de pessoas se encolhendo contra o vento para perto das vitrines das lojas da avenida, como se cogitassem entrar em algumas delas e esperar o tempo se acalmar. 

11:57

O vento se agarrou com força ao redor de Blake, quase o arrastando, como se fosse a materialização dos dedos do próprio Tempo tentando impedi-lo de cometer aquela loucura, reclamando-o para si, querendo devorá-lo.

Os sentimentos dele gritavam dentro do seu coração obscenidades confusas e aqueles sons disconectos se embaralhavam com as vozes de alertas e de regras e, acima de tudo, com as vozes que lhe jogavam na cara as consequências de tudo que ele estava prestes a fazer. Mas Blake decidira não ouvir nada disso. Apenas uma voz, mais concreta e forte vibrando abaixo de tudo aquilo, uma força misteriosa e magnética, chamava-o para prosseguir. 

Ele estranhamente sentia que precisava fazer aquilo, assim simplesmente. Além do mais, agora também era demasiado tarde para desistir. 

A garota lumner estava recostada na parede de um café do outro lado da rua como se fosse uma modelo de perfumes franceses caros, toda de preto usando um sobretudo imponente que ela deixara aberto como se não se importasse nem um pouco que o vento assediasse sua pele o quanto quisesse. Mesmo do outro lado da rua, Blake podia ver a tatuagem na clavícula dela o chamando e seus cabelos curtos e escuros sendo revolvidos pela ventania. 

Ele se aproximou e ela curvou o canto dos lábios num cumprimento silencioso. Não disse uma palavra, desencostou-se da parede calmamente e começou a andar em direção ao metrô. Parecia feita de vento, feita do escuro das tempestades, ela parecia o próprio Tempo caminhando pelas ruas tormentosas.

12:01

Blake seguiu atrás dela, o vento ganindo nas suas orelhas e revolvendo papéis caídos nas ruas, panfletos, jornais. Parecia que o mundo todo estava se preparando para uma viagem no tempo.

Eles adentraram a garganta do metrô pelas escadas, empurrando algumas pessoas que saíam em multidão àquela hora. A agonia do mau humor do céu parecia deixá-las com mais pressa ainda. Será que molhar-se na chuva era tão horrível assim, ora?

12:06

Nos túneis do metrô, não havia Tempo. Apenas os furacões das carrancas das pessoas. Blake e a garota caminharam em silêncio, dois jovens completamente vestidos em couro preto pelos corredores cinzas da estação. Poderiam estar estrelando Matrix. E não era em um tipo de realidade alternativa que viviam? 

Eles se dirigiram à plataforma de embarque e pararam com os olhos fixos nos trilhos à espera do próximo trem. 

12:09

- Isso é loucura, eu não deveria estar aqui. - Blake disse de repente e fez como que fosse ir embora, mas a garota o segurou pelo braço.

Um relance dentro dos olhos felinos e escuros dela calaram as vontades de Blake. Seus olhos estavam armados com um mundo de sombra e delineador e o faziam pensar em uma esfinge quando ele a mirava. Decifra-me ou devoro-te, diziam a ele.

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