Wherever you are is the place I belong

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Louise estava sentada no terceiro banco da igreja, esperando por Harriet. Fazia poucos dias desde que a Duquesa descobriu seu segredo e como tantos que mantinham, a jovem prometeu que nada revelaria ao padre durante sua confissão. Não havia pelo que se preocupar, era apenas mais um dia monótono de espera monótona, como todos os outros.

Ela olhava apática para os vitrais do templo com a mente vagando em meio ao nada, quando ao seu lado se sentou uma figura por ela muito conhecida da noite. Era Hannah, uma das prostitutas do cabaré mais frequentado na noite.

A moça encarou a outra com ligeiro espanto. Eram nove da manhã e nenhuma prostituta costumava ser vista naquela hora, tampouco dentro de uma igreja, local em que elas eram abominadas - a menos que fossem em busca de redenção - e a recíproca supostamente verdadeira.

— Hannah, o que faz aqui? — sussurrou Louise com tom de urgência e olhando a sua volta procurando quem pudesse condená-la — Queres acabar na berlinda como uma herege?

— Oh, minha amiga, vale o risco. — sussurrou de volta, cheia de aflição — Receio trazer-lhe terríveis notícias e não podia esperar até que aparecestes no cabaré. Cada dia é mais raro encontrar-te por lá.

— Pois diga depressa. Aquelas freiras podem surgir a qualquer momento.

— Acaso te lembras da mulher do padeiro e de quando vendeste para ela o teu veneno milagroso? — Louise assentiu — Pois o homem fez o favor de bater as botas na noite passada, porém a mulher é um asno, deixou o vidro do veneno as vistas dos que foram recolher o corpo e a acusaram-na de tê-lo matado. — revelou sempre em urgente sussurro

— Não!

— Ela está presa e se confirmarem que o conteúdo do vidro é o mesmo que tinha no corpo do marido, poderá ser considerada culpada pela morte de todos os homens nesses últimos anos e receberá a máxima condenação, da Igreja e de todo o reino.

— Ela jamais assumiria a culpa sozinha... — disse Louise em um devaneio, equilibrando-se entre o estupor e o desespero.

— Claro! O que aquela mulher tem de burra ela tem de covarde. Eu te disse que era uma má ideia ajudá-la! Eu te disse! — sussurrava alarmada.

— E o que eu deveria fazer? Deixa-la sofrer na mão do marido?

— Sim! Ela o traía com o vidraceiro de qualquer forma, todos sabiam daquilo.

— Porque ele era o verdadeiro amor dela e o marido dela era um porco! — Louise argumentou.

— Suas loucas ideias sobre esse tal amor verdadeiro matar-te-ão, querida. — Hannah elucidou — Aquela mulher te acusará na primeira oportunidade que tiver de salvar a própria pele. Estás condenada, minha amiga. É somente uma questão de tempo.

Desnorteada, Louise balançou a cabeça lentamente, tirando os olhos de Hannah para o vitral a sua frente. Pensava numa solução, mas a neblina do medo embaçou sua mente e tirou-lhe a razão. Acreditou durante aqueles anos que conseguira formar uma forte irmandade entre todas as mulheres da cidade e impossível de romper mesmo com a condenação de muitas. Mas a realidade a estapeou da pior maneira.

— Hannah, isso não pode acontecer! — sussurrou Louise apavorada despertando de seu devaneio — Não apenas por mim, pois não temo a morte se for por uma causa grandiosa, mas temo por minha senhora. Podem arrumar um jeito de acusa-la de ser minha cúmplice. Eu não me perdoaria nem nesta vida nem na outra por causar mais sofrimento do que ela já tem.

— Sabemos disso, minha amiga. — disse Hannah enfiando a mão no decote do vestido carmesim, o mais discreto que possuía, e de dentro dele tirou uma bolsinha preta de veludo que tilintava levemente — Eu e as meninas juntamos algumas moedas que fuja tu e tua senhora. — sem esperar resposta, ela pegou na mão de Louise e colocou ali a bolsinha — Tendes o bastante para pegardes o próximo navio que sairá do porto clandestino ao norte da cidade. Ele atravessa o mar do norte, o Canal da Mancha e faz uma parada na França antes de partir para o Novo Mundo. Aqui tem um pouco mais para sobreviverem e poderão escolher onde começarão suas novas vidas.

Ready to RunOnde histórias criam vida. Descubra agora