Ao chegar no ponto onde estaria o cavalo, Louise encontrou um grupo de mulheres, dentre prostitutas e viúvas que ajudou e libertar de seus maus casamentos, esperando por ela. Devia supor que sua partida não seria a ermo e a presença de tantas pessoas ali provou que não esteve sozinha sua luta contra a tirania daquele mundo vil. Desabou naqueles braços e chorou até não haver mais lagrimas para seu corpo produzir. A gratidão é como um carinho na alma, poderia servir com balsamo para dor da despedida, mas a única coisa que ela mais pensava era no amor que deixaria para trás.
Pouco a pouco o grupo foi diminuindo, cada mulher voltava para suas vidas e rotinas, ficando apenas Elle na companhia de Louise. Elas se mantiveram abraçadas e em silencio, olhando para o céu até as primeiras luzes do crepúsculo tingirem o céu. Despediram-se com um beijo quente e molhado de lágrimas e a prostituta partiu, desaparecendo ao virar a esquina.
Louise soltou a rédea do cabelo da tora em que estava marrado, sua mala já estava presa bem firme junto a sela, para que o animal pudesse cavalgar em grande velocidade sem perde-la. Pretendia soltar o bicho pouco antes de chegar ao porto e seguir o restante do caminho a pé e assim poupa-lo de ser maltratado por algum mercador sem coração.
— Lou, não vai!
A dama estremeceu ao ouvir aquela voz rouca romper o silencio da madrugada que partia. A princípio acho que tudo não se passava de um delírio, mas ao ouvir passos se aproximarem ela virou o rosto e viu Harriet com uma pequena mala na mão - onde mesmo na penumbra ela podia ver a fita cor de rosa amarrada em sua alça -, usando uma de suas capas que usava para sair na noite e o vestido que ela tinha conseguido para a Duquesa poder montar como um homem.
— Não pode partir sem mim! — a jovem continuava insegura, mas havia nela uma chama diferente no olhar — Digo... — ela desceu as duas mãos para o próprio ventre e Louise acompanhou o movimento — Sem nós.
Louise ficou boquiaberta. Talvez tenha notado as alterações de praxe a uma gestante, mas após tantas gravidezes perdidas, aprendeu a esperar pelo pior.
— E eu tenho certeza que Deus nos dê a chance de fazer esse milagre se tornar real. — ela continuou — Mas eu não quero que o meu filho nasça em um lugar tão hostil, nem que o Duque tenha conhecimento dele. Se for um menino quero que cresça como um bom homem, como dizes que os Tomlinson são. E se for uma menina eu não quero que ela passe pelo que eu passei. Quero dar a ela a melhor vida que eu nunca imaginei ter e sei que somente com você posso fazer isso. — ela chegava cada vez mais perto conforme falava, até estar há poucos centímetros da dama — Leve-nos contigo, por f...
A dama cortou sua fala com um beijo profundo ao puxa-la pela nuca com sua mão livre. Harriet envolveu sua cintura, obrigando sua dama a se esticar um pouco na ponta dos pés.
— Eu sabia que tu virias, minha senhora. — Louise sussurrou com um grande sorriso tocando o nariz da duquesa com a ponta do seu - No fundo eu sabia.
— Eu também amo você, Louise. — confessou após anos. — E a partir de agora, me chame de Harriet.
— Posso chamá-la de minha Harry?
— Claro. Porque eu a chamarei de minha Lou.
Elas trocaram mais um beijo caloroso e subiram no cavalo. A agora ex duquesa subiu primeiro, auxiliada pela dama que montou logo depois. Juntas, cavalgaram até a saída da cidade, encontrando aberto um dos portões por onde passaram, rumo a uma nova vida juntas.
...
Em Paris, meses mais tarde, no trailer de uma comunidade de artistas itinerantes, nasceu Rose Marie, filha da barda Harriet e da poetisa Louise. A mãe menestrel, às vezes vestia-se de homem para se apresentar, usando o nome de Harry, já a mãe poetisa, assinava suas obras como Louis T para conseguir vendê-las. A pequena Rose cresceu cercada de amor e bem acolhida por todos na comunidade, mesmo que alguns não vissem aqueles artistas com bons olhos e a hostilidade pudesse ser encontrada em qualquer lugar há qualquer momento, elas teriam sempre uma a outra e melhor dos tesouros: a liberdade de serem quem quisessem ser. Como qualquer pessoa merece.
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Ready to Run
FanfictionNa Inglaterra do século XVI, Harriet era apenas uma menina quando foi dada por seu pai em casamento para um duque britânico muito mais velho. A moça extremamente religiosa tem todas as suas crenças e costumes confrontados quando a audaciosa e atrevi...