Capítulo III

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Dormi! Sem sonhos ou pesadelos. Dormi feito pedra; despertei horas e horas depois, ao escutar uma sonância: "bem-vindos a Itamaraju, essa linda cidade do extremo sul. Onde todos esses modestos habitantes vivem em harmonia constante. " Fiquei admirado. Ficariam admirados. A Bahia é mesmo linda, desde então não conhecia os segredos que guardavam o extremo sul.

– Cidade agradável, não é mesmo? – Reparou o caminhoneiro.

– De fato – proferiu Simão. – Qual é a explicação para esse nome?

– O nome da cidade? – Não compreendeu o caminhoneiro.

– Sim – confirmou Simão, balançando a cabeça.

– Olha, falando a verdade, nem sei. Mas dizem que tem a ver com a Pedra – apontou para um pequeno e lindo monte.

– Tem nome ou algum significado? – E antes que o caminhoneiro não compreendesse de novo, Simão acrescentou – o monte.

– Ah, sim. Tem, sim! É... – Pensou um instante – Pedra Monte Pascoal. Não, não! Pedra Monte do Pescoço. Sim! Monte do Pescoço. Eu confundo Pascoal com Pescoço. Você deve conhecer a história dos portugueses que avistaram o monte, monte era o Monte Pascoal; dizem por aí que nossa cidade é a guardiã do Monte Pascoal.

A explicação daquele sujeito era tão desarranjada que preferi não prestar atenção em sua prosa. Em vez disso, fiquei a admirar os montes e as belas matas; minha melhor escolha por sinal.

– Eu não compreendo muito da história daqui, entende? Além do mais não moro exatamente aqui. – Explicou-se.

– E mora onde mesmo? – Questionou seu parceiro de conversa.

– Moro na estrada, a estrada é minha casa. Aqui é uma segunda casa, entende? É meu ninho, meu lugar de folgar. Gosto muito de vim aqui também em época de São João. A melhor festa junina da região é aqui. Já ouviu falar?

– Não, não conheço muito dessas bandas para cá.

– Também tem o pessoal, já conheço todos aqui. Se você perguntar por Jão caminhoneiro todos vão saber quem é – continuou o caminhoneiro, sem se importar com o escasso conhecimento de seu parceiro a respeito da cidade.

– Seu nome é João?

– Ah, sim. Desculpe minha falta de cordialidade. Meu nome é João, mas pode chamar de Jão. Ou até mesmo por Jão caminhoneiro sem o "o", entende? Aqui todos me têm por conhecido dessa forma.

– Entendo sim, Jão – ironizou meu amigo – em minha terra alguns me conhecem por Simão do Bonfim e outros por Sima, Sima do Bonfim. E assim por diante.

– Satisfação, Simão do Bonfim – estendeu a mão ao seu novo camarada.

– Satisfação, Jão caminhoneiro – aceitou o cumprimento.

Por um breve momento a conversa parecia ter esfriado; e eu compreendi ser até bom, pois estava cansado de ouvi-los. Entretanto, o caminhoneiro retomou a conversa:

– Seu nome me faz lembrar Salvador.

– Vai ver é por causa da famosa igreja Senhor do Bonfim, – disse-lhe Simão – só lembro dessa referência

– Verdade. É a igreja que distribui as fitinhas do Bonfim, tinha me esquecido.

– Pois é. Visitei aquele templo ano retrasado.

– Tenho vontade de visitar aquele santuário.

– Lá é muito lindo. Fui em uma caravana.

A falta de cordialidade daquele caminhoneiro não era típica de um caminhoneiro, quiçá fora o cansaço.

Minha Bahia: Memórias de um aprendiz de poetaOnde histórias criam vida. Descubra agora