Capítulo VII

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Em todo o mês que a nova dupla de caminhoneiros estiveram fora, Maria me apresentara a alguns de seus amigos. Estive muito próximo dela. Certo dia ela apresentou-me a uma de suas amigas. Helena era sua melhor amiga, segundo esta e aquela afirmava.

– Olá, Dito, esta é Helena aquela amiga que comentei com tu.

Maria havia, outrora, falado de sua amiga. Uma e outra eram amigas de infância, assim como suas mães foram amigas na meninice.

– Olá, tudo bem? – cumprimentei-a

Neste dia, Maria e sua amiga me chamaram para um pequeno giro na cidade, assim disseram.

Eu aceitei. E fomos explorar toda a cidade; deduzi que Maria estava tentando me aproximar de sua amiga, pois em vários momentos ela encontrava uma forma de deixar-nos sozinhos. Helena era uma mulher linda, cabelos longos e escuros; em seu sorriso ostentavam-se dentes alvos, parelho a neve vista em filmes de Hollywood. Era pequenina e de uma simpatia enorme.

Porém, caros leitores, em meu íntimo, que fique aqui registrado, não se achava espaço para nenhuma outra mulher senão Ana.

Embora eu tenha me aproximado bastante de Maria, ela mal sabia a meu respeito; pouco falei sobre meus pensamentos e sentimentos e menos ainda sobre o que transcorrera antes de eu estar ali. Quanto a Ana, era desconhecida, uma vez que nada falei a seu respeito. Neste dia de passeio, nada ocorreu entre mim e Helena.

Posteriormente, após os horários de trabalho, surgiram mais passeios e noutras vezes foram somente eu e Helena. A amiga de Maria era um tanto erudita, vestia-se sempre bem; sua fala não era um atropelo, comum de várias outras mulheres que conheci em vida. Sua voz assemelhava-se a um canto, um magnífico canto de pássaro. Havia harmonia entre uma palavra e outra; em uma semana conhecia Helena tão bem quanto conhecia Maria.

Helena trabalhava como bibliotecária na singular biblioteca da cidade. Fui convidado pela bibliotecária e amiga de Maria a ir em um evento no qual ela era representante; tratava-se de um grupo de leitores da biblioteca que no final de uma quinzena discutia a respeito de uma determinada obra literária. E a obra escolhida, lembro-me bem, fora "As aventuras de Jay Skovisk" o autor não hei de recordar, mas acredito que morava naquela cidade. A obra relata a vida de um garoto russo brasileiro de 12 anos, Jay Skovisk, que após um acidente de carro envolvendo seus pais, deixa-o órfão. Assim, por esse ocorrido, o menino retorna ao Brasil para viver com sua tia e a avó em uma pequena cidade da Bahia. Sei tudo isso porque li o livro mesmo depois de inteirar-se com o grupo que discutia a obra literária; o exemplar retratava muito sobre preconceito e lembrei que certa vez minha mãe me contara que, quando visitara a capital nacional, sofrera preconceito por ser do nordeste. Por ser caipira.

Em épocas passadas não entendia muito com relação a discriminação ou coisa que o valha. Quando crianças somos muito ingênuos, e isso é o que nos torna crianças.

Em seguida ao findar do debate literário, Helena trouxe-me o exemplar.

– Percebi que tu ficaste bastante compenetrado no que diz respeito ao debate. – Helena parecia um tanto com Ana, toda gramaticada.

– Fiquei deveras interessado na história do garotinho do livro. Fez-me refletir e recordar um fato que ocorreu no passado. – Eu pensava em minha mãe, como disse antes.

– Você pode levar este se se comprometer a trazê-lo na próxima semana. – Disse-me ao entregar-me o exemplar.

– Acredito que consigo terminar de lê-lo até a próxima semana. – Disse-lhe, aceitando o caderninho.

– Concluirá sim! A leitura é agradável e levará pouco tempo para você terminá-lo de ler.

Como a bibliotecária acertara, a leitura fora agradável e levara pouco tempo para terminar de ler As aventuras de Jay Skovisk. Na semana seguinte, na sexta-feira para ser preciso, após finalizar o horário de pico, eu tratei de devolver o volume à Helena.

Minha Bahia: Memórias de um aprendiz de poetaOnde histórias criam vida. Descubra agora