Um dia especial

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           A rua estava mais movimentada que o normal, e isso complicaria as coisas, mas Rennet não estava acovardada, na verdade tinha entre os lábios um sorriso sombrio, por saber que logo acabaria o que foi ali fazer. 

          Olhou para o relógio pela quarta vez, até isso ela planejou.

-só mais uma olhada no relógio e ele estará aqui-ela disse para si mesma.
          As pessoas corriam aquela parte da cidade, a parte histórica da cidade pra ser mais exata, ou como Rennet dizia "a parte velha da cidade". Uma pessoa ou outra reparavam ela ali, geralmente homens, que não evitavam sua rica beleza. E hoje ela estava vestida de maneira especial, pois era um dia especial, não era? Seus cabelos loiros caidos sobre os ombros esguios, dando quase transparencia a sua pele branca, hoje seus olhos azuis estavam agitados, como o mar quando bate na areia, o batom vermelho, esse era o detalhe favorito dela, não queria que mais nada chamasse atenção, se não sua boca. Olhou para o relógio, sorriu, e olhou para o inicio da rua. E lá vinha ele, alto, magro, moreno, seus olhos como safiras. Ele não combinava com aquele cenário, suas roupas modernas, e seu andar. Ele à avistou, e abriu o sorriso que Rennet tanto elogiava, e ela absorvia cada detalhe, ele estava radiante, saberia ele que era um dia especial? Rennet abriu seu sorriso, e a cada passo dele seu coração acelerava, ele dizia que isso era música para os ouvidos dele, e ela alargou mais ainda seu sorriso ao lembrar disso.

-você está radiante Rennet-ele disse ao chegar até ela, a elançando em seus braços.
-você me inspira Northan-ela fitou seus olhos, querendo mergulhar neles.
-tenho uma poeta em braços, socorro, ou como vocês dizem aqui na Inglaterra?-ele brincou.
-help-me-ela riu, ela adorava o jeito do interior dele, adorava a simplicidade que emanava dele, ele era diferente de qualquer outra pessoa, era a melhor de todas, e isso a trouxe aqui hoje.
-o que planeja hoje?-ele perguntou, enquanto inalava o cheiro de seu perfume.
-quero ser tua, e que seja meu-ela disse com naturalidade, havia ensaiado aquilo.
Ele fitou seus olhos, algo novo neles, ele queria, ela sempre soube.
-não é cedo?-ele respondeu com curiosidade.
-na verdade são 15:37-ela sorriu.
-acho que vamos para minha casa então-ele sorriu de volta, ele amava a forma com que ela era leve, era engraçada. A conheceu após ter sido roubada, ela dizia que tinha emprestado a bolsa ao ladrão, e que rezava pra que ele usasse pra tomar um banho, Northan não resistiu cair em risos, lhe ofereceu carona, ela levantou o vestido e disse "tenho boas pernas", Northan riu tanto que não soube se estava vermelho de vergonha ou de tanto rir. Depois os encontros foram sendo mais frequentes, e logo eram propositais, e ali estavam eles, dando outro passo.
-acho ótimo-ela lhe abraçou mais uma vez, sendo sua vez de inalar aquele perfume agradavel.
Os dois caminharam pela rua de mãos dadas, rindo como crianças. Northan parou em frente a um casarão, era a primeira vez que ela ia na casa dele, e isso fez seu queixo cair, aquilo não combinava com ele, era luxo demais. Ele abriu a porta, ela entrou. Era ainda mais bonito por dentro.
-gostou?-ele franziu as sombrancelhas vendo sua expressão.
-tudo muito bonito-ela lhe encarou em busca de respostas.
-era do meu pai-ele sorriu, se encaminhou até ela e a abraçou.
-o que aconteceu com ele?-ela se atreveu perguntar.
-foi assassinado-ele respondeu, e ao que parecia a ferida ja tinha sido fechada.
-sinto muito-ela disse com um nó da garganta. De repente não queria estar ali.
-tudo bem, ele amou a mulher errada-ele a beijou com urgência, aproximando cada vez mais seus corpos. Ela não tentou para-lo, e o abraçou pelo pescoço. Hoje é um dia especial, colocou em mente. Ele a pegou no colo, e a carregou escada acima, ela ria, não era o tipo de garota que gostava do clichê, porém amava o homem mais clichê do mundo, um homem saido de livros sobre principes. E por isso ela estava ali, não era?
Chegaram ao quarto, ele à despiu de forma carinhosa, beijando-a, acariciando-a, dizendo palavras de amor. Ela só fechou os olhos, e absorveu tudo aquilo, sentiu a satisfação de estar com ele, mas havia algo novo dentro de si, algo que nunca havia sentido. De repente ela quis mudar os planos, e tê-lo pra ela, protege-lo ela mesma. Mas nada nem ninguém pode contra o mundo. As lagrimas corriam seu rosto, e ele beijava cada uma delas. E assim se passou o restante da tarde. Ele veio a adormecer, e ela sabia que estava na hora. Levantou-se, foi até as escadas, deixando de absorver detalhes, procurando a cozinha. Remexeu as gavetas, colocou o café para esquentar, e torradas para torrar. Voltou para o quarto, ele continuava dormindo, mas tinha um sorriso angelical nos labios, ele sabia que o momento especial chegou. Ela soluçava em silencio, preferia que ele não visse seus olhos. Deitou-se ao lado dele, e então finalmente cravou-lhe um punhal no coração, houve um movimento nele, seus olhos abriram em interrogação, e então se fecharam. Não houve mais nada se não o som do choro de Rennet.
-o mundo te mataria se não fosse eu. Você não merece viver em um mundo imundo desses, eu te amo, amo muito, mas você pertence a livros e histórias-ela soluçou as palavras, beijou-lhe os labios, e partiu daquela casa.
Os anos se passaram, e ela nunca foi descoberta, sabiam que havia sido uma mulher loira, mas ninguém lembrava de seu rosto, apenas do seu batom vermelho. Rennet casou, teve filhos. Porém um dia bateram a sua porta. Uma encomenda, ou melhor um livro. Sem remetente, sem nada sobre quem lhe havia dado, porém ao ler as paginas, não teve duvida, era Northan, ali estava a história de Rennet, ali haviam os mais ricos detalhes. Não sentiu medo, apenas satisfação, Northan, estava de volta ao livro.  

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