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- Inês, meu bom Deus! - Constança irrompeu pelos meus aposentos como um furacão.

A Matilde estava comigo, estávamos a conversar. A aia da rainha, Brísida, foi muito gentil em encaminhar-me até Matilde. Foi um susto tão grande, que eu ainda não estava bem. 

Matilde mandou servirem-me um copo de vinho quente com mel, como eu tanto gostava, e junto da lareira, recuperei a compostura depressa.

- Soube o que aconteceu, tu estás bem? Ainda bem que Pedro lá estava, Nosso Senhor Jesus Cristo.- Benzeu-se algumas vezes seguidas e não soube o que responder-lhe.

Estava a sentir-me assoberbada pela rapidez das palavras da minha senhora. Eu estava bem, queria dizer-lhe, porém toda a sua aflição, deixou-me aflita de novo. Não era nada tão grave para tanto pranto. Eu estava bem, sem um único arranhão.

- Quero os responsáveis punidos!

- Constança!- Elevei o tom, consternada. Só queria sossego, ficar sozinha.

- Eu vou andando.- Matilde deu-me duas chapadinhas calorosas e amigáveis nas costas da mão e sorri-lhe antes de sair.

- Desculpa.- Admiti por ter gritado com ela e enrolei-me mais na manta de lã.- Por favor, eu estou bem. Só quero silêncio, Constança.

- Tudo bem. Não te quero incomodar. Só queria ter a certeza de que estavas bem.- Pressionou os lábios numa linha fina e entristeci-me por lhe causar tamanha preocupação.

- Estou. Obrigada.

E Constança entendeu, contrariada, no entanto. Mais logo falaria com ela, quando a fosse ajudar a deitar. Estaria de certeza nervosa por amanhã e eu já estaria melhor. Não me sinto prestes a desmaiar de susto e tudo mais... mas estou estranha. Tenho uma sensação estranha.

💛💚💙💜

- Foi um dia grande.- Constança comentou, enquanto lhe escovava os cabelos castanhos ondulados com cuidado, frente ao pequeno espelho que empunhava e usava para me encarar numa inquietação silenciosa.

- Sim.- Concordei.- Grande demais.- Murmurei e dei de ombros, concentrada nas suas madeixas castanhas.

- Pedro é boa pessoa, sinto até um remorso por tê-lo achado retardado.- Segredou-me, numa confissão que não teria nem com o capelão.

Parei de escovar o seu cabelo por meros instantes e então prossegui. Pedro era inteligente e ágil, gaguejava e parecia desautorizado pelo rei, mas isso não fazia de si parvo.

- Quer exagero, Constança.- Pousei a escova.- A gaguez, talvez não o faça o mais atraente dos homens, até porque não pode declarar-te poemas ou cantigas de amor... 

A minha amiga corou e baixou o olhar, ao mesmo tempo que pousou o espelho:

- O problema dele incomoda-me.- Assumiu pela primeira vez e escondeu o rosto entre as mãos.

- Constança.- Lamentei a sua desilusão e acarinhei-lhe o ombro.

Ela tinha todo o direito em incomodar-se, em revoltar-se com a sina que lhe calhou. É terrível partir rumo ao desconhecido para aterrar nos braços de um estranho que viverá connosco pelo resto da nossa vida. Ainda para mais, quando não foram francos com Constança; eu não fazia ideia de que não lhe tinham falado sobre a gaguez do infante.

- Ele é gentil e corajoso e tem sentido de humor e é tão vivo, mas...- Chorou com a culpa que lhe pesava no peito.- Ele não é o que eu esperava.- Voltou-se para mim, envergonhada, à procura de uma repreensão, de um castigo que a obrigasse a amá-lo.

Pedro e Inês: O amor que se fez lendaOnde histórias criam vida. Descubra agora