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- Senhora.- Sua majestade, a rainha Beatriz, pegou na minha mão com toda a delicadeza e mostrou-me o meu lugar, quando nos encontramos no salão.- Sentis-vos confortável?

A minha cadeira era bastante cómoda, e isso só aumentou com as peles quentes de animais que tinha a cobri-la.

- Estou muito bem, majestade, obrigada pela hospitalidade.- Agradeci e a rainha tomou o lugar a meu lado. Ainda haviam grinaldas de flores, mais verdes do que coloridas pelo Inverno, a decorar o salão.

Inês estava sentada numa outra cadeira, um pouco mais pequena do que a minha, à minha frente, de costas para mim e junto das damas de companhia da rainha. Estava ali toda a corte reunida, menos o meu noivo e o seu amigo.

- Porque estamos aqui?- Ousei perguntar à minha sogra. O rei não estava presente, apesar de estarem ali todos.

D. Beatriz sorriu e com um ligeiro acenar, apareceu um trovador a entoar belas cantigas, contudo nem sinal do príncipe. Entristeci-me um pouco. As festividades são faziam sentido sem ele presente. Nem o meu sogro se tinha dado ao trabalho de aqui estar.

- Apanhei mais do que tu!- Endireitei-me imediatamente quando ouvi gargalhadas altas ao meio da música. Eram Pedro e o amigo que tinham acabado de chegar.

- A minha lebre é muito maior que a tua!- Gabou-se Pedro a André, dando-lhe até um encontrão.

- Quantidade, meu amigo, eu tenho muito mais quanti...

O rei, que tinha chegado com eles, interrompeu a conversa dos dois com uma tosse grossa.

- Reparo que ainda não acabamos os festejos...- Pedro sorriu de forma traquina, ao notar a corte inteira a observá-los, maioritariamente as damas, visto que os cavalheiros saíram para caçar com o rei e o infante. Até a música se silenciara.

Sorri ao admirar os traços do meu príncipe, ele era bonito. Muito bonito.

- Desculpem o atraso, apanhamos chuva pelo caminho e os campos estavam terríveis para a caça.- O rei entregou as luvas de couro sujas de lama, e a capa a um valete, e ainda molhado da chuva, sentou-se ao lado da esposa com um sorriso.

Notei que D. Beatriz lhe lançou um olhar de repreensão muito sério, o que me fez sorrir comigo mesma.

- Talvez, majestade, deva de se ir trocar. Não nos é útil doente.- A rainha sugeriu.

- Não é uma chuva que quebra esta saúde de ferro, esposa.- Declarou  rei, e mordi a língua para não sorrir. Eles estavam claramente a tentar ser discretos e silenciosos, apesar de a conversa ser ao meu lado e escutar tudo, não parecia educado escutar.

- Cheiras a cavalo molhado!- Consegui ouvir baixinho o sermão da rainha e só não ri porque Inês me beliscou o pé com muita força.

D. Afonso gargalhou alto com o comentário, ao que parece, comedido da esposa, e retirou-se para se trocar.

- Homens!- Resmungou zangada.

O espetáculo continuou e só mais tarde é que os homens se juntaram a nós.

- Que frio!- Inês arrepiou-se quando bebeu uma taça de vinho quente.

O espetáculo havia terminado há pouco, e a maioria da corte já dispersara, excetuando aqueles que queriam dirigir-se ao rei.

- Cantam bem.- Comentei com Inês, sem saber o que mais dizer-lhe.

- São trovadores, são pagos para isso.

- Que simpática, Inês.- Aborreci-me com a sua frontalidade e provei uns doces que me serviram. As peles de lobo mantinham-me quente.

- D. Constança... posso chamar-vos Concha?

Pedro e Inês: O amor que se fez lendaOnde histórias criam vida. Descubra agora