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- Ele não é lindo?- Constança suspirava ao observar Pedro na oração da manhã, na capela do palácio.

- Sois a mesma que ontem chorava incomodada?- Admirei-me com a rápida mudança de ideias da minha senhora.

O que faz uma boa noite de sono...

- Shh!- Sibilou uma das damas da rainha e estremeci com o susto. 

O capelão prosseguia a missa como se não tivesse de partir muito em breve, e como se Constança não estivesse em pulgas para um tal encontro com o seu noivo. 

- Inês...

Constança murmurou e aproximei mais o meu ouvido de si. O que seria agora? Encarei Constança e notei que havia um sorriso maroto no seu rosto. Endireitou o véu bordado que lhe cobria o cabelo, e fez-me um subtil sinal com o olhar para trás de mim.

Hum?

Girei a cabeça distraidamente, como se apenas admirasse os belos vitrais de cores vivas, com motivos da Via Sacra, e dei com um par de cavalheiros a encarem-me. Desviei o olhar, atrapalhada, incomodada, envergonhada. As pessoas não têm mais o que fazer de manhã? Nunca viram castelhanos?

- Quereis que os mande embora?- Sussurrei a Constança e vi que trincou os lábios com força.

- Porque me perguntas a mim, se é a ti que observam?- Um subtil sorriso atrevido surgiu-lhe no rosto. Estava bonita, de bochechas rosadas.

- Oras...- Fiquei roxa de embaraço.- A casa de Deus não é para estas coisas...

- Sabes, acho que se hesitares muito em noivar, os homens daqui são capazes de formar uma fila.

- Constança!- Repreendi-a admirada e recebi um olhar terrível da rainha. E se olhares matassem...

Baixei o olhar e permaneci em silêncio até ao fim do sermão. Vez ou outra, distraída, calhei a observar o príncipe. Também teria as suas duvidas quanto a Constança? Ou para os homens a vida é tão fácil, que nem lhe faz diferença? Acha-a bonita? Inteligente? Prefere as suas curvas? Ou o sorriso? 

E se olhar de uma outra perspetiva, tombar a cabeça para o lado direito, levantar o cotovelo, saltar ao pé cochinho e contar até dez, no fundo o príncipe até é... bonito.

- Menina de Castro, não quero arruaceiros no meu palácio, muito menos na hora da missa.- D. Beatriz não tardou a repreender-me, guardada pelo seu séquito de aias.

- Tem toda a razão majestade, eu peço imensa desculpa pelo sucedido.- Reverenciei-me perante a rainha, quando me abordou a mim e Constança após o sermão, no corredor.

Eu estava envergonhada pelo puxão de orelhas, não sou uma menina! Repreendida por futilidades, pela própria rainha.

Apesar de séria, abriu um sorriso gentil para Constança:

- Creio que vós e o meu filho tenham compromissos.

- Sim, majestade.- A minha senhora ficou encarnada e olhou para o chão coberto pela tapeçaria.- Voltaremos a tempo de nos juntarmos a todos, não queremos atrasar o cortejo.

- O príncipe gosta de verde.- D. Beatriz declarou altiva, de sorriso no rosto, e partiu sem mais despedidas.

- Pedro já me viu com todos os vestidos verdes que tenho.- Constança entrou em desespero.

- Tu gostas de cor-de-rosa e nunca vi o infante trajado com tal cor.

- Não sejas rabugenta, Inês.- A minha amiga deu-me um revirar de olhos aborrecido e também eu bufei enfadada.

Tirei o lenço que me cobria os cabelos aborrecida e encarei o som que espreitava entre as nuvens, ali em baixo, no pátio tranquilo. Ainda havia algum tumulto e conversas ao nosso redor, no corredor.

Pedro e Inês: O amor que se fez lendaOnde histórias criam vida. Descubra agora