Três

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Não havia conseguido pregar os olhos pelo resto da noite, pois os pensamentos mais obscuros me assombravam

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Não havia conseguido pregar os olhos pelo resto da noite, pois os pensamentos mais obscuros me assombravam... E se eu tivesse machucado alguém? Já aconteceu antes, digo ferir alguém enquanto estou dormindo, ou melhor, sonâmbula. De acordo com Rayle eu já havia à ameaçado em uma das crises. Certa vez feri uma velha amiga minha em uma festa do pijama, a empurrei escada a baixo. Foi uma dor de cabeça e tanto para meus pais conseguir explicar aos pais dela de que eu não tinha controle algum quando essas coisas aconteciam.
Até um ano atrás eu  estava bem, sem alucinações, sem crises violentas, nada de sonambulismo, havia até parado com os remédios ... Mas ai então veio o acidente e os pesadelos voltaram. As vezes, se eu respirasse bem fundo, ainda conseguia sentir o cheiro das cinzas. Não consigo explicar como aquilo foi acontecer.
Rolo sem parar na cama pelo resto da noite, quando finalmente consigo fechar os olhos o som tilitante do despertador me faz saltar... Terminou a noite e começou o dia.
Faço o possível para cobrir as olheiras com maquiagem, não queria parecer derrotada logo no primeiro dia de aula. Deixo os cabelos claros soltos, descendo como ondas amareladas pelas costas. Rapidamente me apresso para tomar café da manhã, pois minha tia e Rayle já se encontravam na mesa.
- Bom dia, querida – Quase cantarola minha tia, passando geleia em mais uma torrada antes de se levantar prendendo a mesma entre os dentes. Ela estava sempre com pressa, o hospital tomava muito de seu tempo. Ele prende os cabelos castanhos em um rabo de cavalo deixando apenas a franjinha na frente.
- Bom dia Lucinda. Atrasada? – Pergunto me servindo de café. Ela ri da minha pergunta, pois pontualidade não era seu forte e sabíamos disso.
- Sempre estou. – Ela se direciona até Rayle, que até então estava concentrada de mais em sua salada de fruta pra nos dar atenção, puxa seu rosto e lhe deixa um beijo no rosto e sai rindo de seus protestos. Logo ela vem até mim e faz o mesmo gesto.
- Volto mais tarde meninas, se cuidem e por favor não se matem.
- Prometo tentar. – Respondo em brincadeira.
Ouço o som do salto alto diminuir até sumir por completo indicando que tia Lucinda já saiu.
- Então... – Me viro para Rayle em mais uma tentativa de conversar. – Onde foi ontem a noite?
Pergunto, mas para meu descontentamento ela apenas solta uma risada fria.
- Me poupe, você não é a minha mãe. – Diz ela se levantando, apenas com um copo de suco na mão.
- Eu só acho que...
- Eu só acho que você deveria se trancar a noite para dormir... Só Deus sabe o que você pode fazer. – Ela me encara, deixando obvio que me viu ontem a noite.
- Você viu. – Digo em um suspiro, seu sorriso apenas comprova.
- Nem pense em machucar os funcionários da casa ou a tia Lucinda sua aberração! – Suas palavras saiam duramente e me cortavam fundo. Me machucava mas não deixo transparecer. Cerro os punhos sentindo o calor forte da raiva tomar o lugar da tristeza.
- Pirralha! – Esbravejo ao mesmo tempo em que seu copo racha, fazendo-a larga-lo no chão.
- Mas o que... – Antes que ela possa continuar, a buzina de Eve a interrompe. Passo por ela a passos rápidos, querendo deixa-la o mais rápido possível.

                          《~●~》

Não demora muito para chegarmos a escola e cruzarmos o arco da entrada. Eve tagarelava sobre como  este ano precisava ser ótimo e especulava sobre os novos conteúdos.
- Calma, respira, vai acabar tendo um ataque – Digo a ela rindo, parando em frente ao meu armário.
- Desculpe. Mas ano passado foi tão pra baixo, me perdoe por criar esperanças – Ela faz biquinho e logo gargalha.
Puxo alguns livros do armário e bato a porta do mesmo. Consigo ver Tracy se aproximar de nós com seus cabelos negros balançando e um sorriso malicioso nos lábios vermelhos.
- Adivinhem só o que eu descobri?!
- Oi pra você também. – Digo me encostando no armário.
- Um dos caras do futebol dará uma festa hoje a noite, para comemorar as volta as aulas. – Diz Tracy toda animada.
- Quem comemora a volta as aulas? – Pergunto irônica.
Tracy é interrompida quando a figura atlética, de cabelos loiros e o casaco do time se põe entre nós três.
- Não é comemoração, é motivo para bebedeira – Diz Trey, encostando no armário entre nós. Seu sorriso juvenil e bom humor era características típicas do nosso capitão do time, sem falar que ele era com toda certeza mais inteligente que os outros atletas sem cérebros que estavam no time.
- Oi Trey. – Digo com um sorriso que ele retribui.
- Olá Amber. – Responde.
Todas apreciamos a presença de Trey, bom, quase todas. Tracy não era fã numero um do Menino de Ouro, bom acho difícil ser muito amigável com seu ex namorado quando o mesmo já te traiu. Ela apenas da um longo supiro e se desencosta do armário.
- Vejo você na aula do Sr. Grayson. – Diz se pondo de costas, ela dá alguns passos antes de grudar em uma ruiva de óculos a caminho da sala de aula.
- É, ela me odeia – Trey afirma sarcasticamente.
- Dê tempo ao tempo, não pode pedir pra que ela te perdoe da noite pro dia – Aconselha Eve.
- Mas já faz um ano! Não sei como me desculpar por algo que eu realmente não quis fazer. – A expressão incrédula passeia pelo meu rosto e pelo o de Eve – É sério!
- Então você não quis de hipótese alguma beijar a loira mais cobiçada da escola? Ela simplesmente enfiou a língua na sua boca? – O silêncio se inicia quando digo tais palavras. Me lembro o que senti quando Caio me traiu, a fúria foi a última coisa que senti até entrar naquele transe... Antes de incendiar o quintal inteiro.

                          《~●~》

As horas pareciam não passar, era como se cada aula fosse durar a vida inteira, mas finalmente estávamos no último horário e para meu completo horror era aula de educação física. A Sra. Pypper era razoável, o que eu não gostava era da ideia de estar em um campo praticando esportes que eu não entendia, nunca fui muito esportiva e sempre ficava perdida em campo, se passassem a bola para mim com toda certeza perderíamos o jogo. Infelizmente eu não tive escolha, precisei trocar meu confortável jeans por um shortinho legging azul e uma camiseta cinza larga e desproporcional para o meu corpo, nada combinava ou caia legal, com exceção a forma como a roupa caia incrivelmente bem em Sarah Vadia Stacy, não importa o que ela use tudo simplesmente caia bem na garota, a mesma garota que me atormenta desde que me mudei para cá, a mesma garota que beijou Trey na frente de Tracy enquanto eles ainda estavam juntos, a mesma garota que espalhou boatos de que Eve tinha relações sexuais com um antigo professor para conseguir passar de ano, por sorte os boatos foram contidos. Não sei qual o problema da maldita abelha rainha mas tudo que desejo é distância.
Sou tirada de meus pensamentos quando a Sra. Pypper assopra fortemente seu apito, iniciando assim a partida de futebol mista. Meninos e meninas se agitam correndo por todo o campo e cercando quem quer que esteja com a bola enquanto eu tentava ficar fora da vista de todos. A gritaria se torna mais intensa quando a bola é tomada por Sarah, que balança sua cabeleira de um loiro sobrenaturalmente lindo por todos os lados. Tento sair do caminho porém ela corria em minha direção – Droga! – pro meu alívio ela passa por mim, não antes de me dar um esbarrão tão forte que quase vou ao chão. Poucos segundos depois ela faz um gol, e depois outro, e mais outro, outro depois desse. Para uma rainha líder de torcida ela sabia jogar muito bem.
Pro meu alívio era o último tempo e eu havia conseguido fazer exatamente o que queria: Ser invisível. Não toquei na bola uma só vez, mas isto estava prestes a mudar. A Sra. Pypper conversava com dois alunos segundos antes de assoprar seu apito, no outro algum génio havia tocado a bola para mim – Droga ao quadrado! – Começo a chutar sem o mínimo de habilidade, apenas tentando manter a bola em meus pés. Eu devia chutar pra alguém? Provavelmente, mas todos estavam ocupados tentando deixar o caminho aberto para mim. Por alguma razão, minha atenção se volta para o lado, pousando em um garoto que chegava correndo no campo, de alguma forma ele se destacava dos demais, talvez seja por causa de seus hipnotizantes olhos azuis que me tiravam da realidade, eu parecia ter todo o tempo do mundo apenas para olha-lo, talvez eu fizesse isso se não fosse pelos meus pés que se desequilibraram, pisando violentamente na bola fazendo-a parar longe, acabo tropeçando em meus próprios pés e me preparo para cair de cara no chão. Contudo, uma mão se fecha em meu pulso com destreza e velocidade o bastante para me puxar para trás em um só movimento e me fazer bater as costas em seu peitoral.
- Não deveria correr olhando para o lado. – Sua voz grave e firme me causa arrepios, não sei se isso era bom ou ruim. O toque me causava uma sensação de frio e calor ao mesmo tempo, o que era isso?
- Eu tropecei – Digo me esquecendo totalmente do jogo e de que ainda estava com o corpo colado ao dele.
- Eu sei, eu vi. – Não sabia dizer se ele estava sendo grosso ou brincalhão, mas para todo caso me afasto rapidamente e me viro para olha-lo. O reconheço imediatamente daquela noite no Vintage, mas... Era muito mais bonito de perto.
- É sempre arrogante assim?
- só quando me dão a oportunidade de ser. – Agora ele sorria com um ar convencido, se não fosse pelo sorriso perfeito eu poderia soca-lo.
- Então procure alguém pra perturbar – Digo dando as costas.
- Ah não precisa agradecer por eu te salvar de dar de cara com o chão. – Sua voz alta ainda me dava um arrepio, mas ainda sim tinha um toque de intimidade e familiaridade. Desta vez sou eu que sorrio.
- Eu não vou. – Apesar das palavras, meu sorriso era divertido. Não entendo como posso ter dito tantas coisas à um desconhecido, fazer brincadeiras a um cara que nunca vi na vida... Mas ainda sim me parecia familiar... E eu nem sabia seu nome

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Desculpem a demora para publicar, tentarei postar ao menos uma vez por dia daqui por diante. Espero que gostem e que dêem continuidade a história pois ainda áh muito para acontecer, historias e descobertas inimagináveis. Obrigada a todos que já leram até aqui, espero que gostem 💜😊😍

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