Nove

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Olhava pelo espelho retrovisor a cada instante, em um irritante nervoso

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Olhava pelo espelho retrovisor a cada instante, em um irritante nervoso. Temia que eles estivessem atrás de mim, temia que não fosse real e ao mesmo tempo eu...
- Calma, vai ficar tudo bem, você esta bem – Digo para mim mesma enquanto fito meus olhos vermelhos no espelho – Você está bem.
Insisto batendo a mão no volante, não conseguindo tirar os minutos anteriores de minha mente...
- Não é possível... Isso não é real – Digo com os dedos das mãos trêmulos em volta do girassol apontado para o nada em minha frente. Por um instante aquela sala de aula vazia rodou em minha mente, me deixando tonta e meio nauseada, é o que sentimos quando estamos em choque?
- Bom... – Começa Trevor – Ao meu ver você tem duas saídas... A primeira é simples, aceitar que esta é a realidade e o mundo que você acha que conhece é uma mentira, uma máscara usada para encobrir a verdade sombria... Vocês não estão exatamente no topo da cadeia alimentar sabe. Ou...
- Ou você pode simplesmente acreditar que as novas medicações não estão funcionando, que seu quadro mental esta se agravando tanto que o tratamento não esta mais tendo efeito, acreditar que ir se tratar no hospital psiquiátrico mais próximo é a opção mais segura para você, sua irmã e sua tia. – Ao ouvir a resposta de Jack derrubo meu olhar sob ele, minhas bochechas coradas não eram de raiva e sim de vergonha, meu olhar não era de medo e sim de espanto. Como ele poderia saber tudo aquilo de mim? Isto só prova que ele... Que eles não são normais.
A muito tempo não me sinto capaz de nada,  muito tempo as únicas forças que tenho junto para sair da cama todos os dias, mas naquele momento, me senti eletrocutada, carregada de uma força que a tempos não sentia, talvez seja pela dor de suas palavras frias ou simplesmente por que ficar calada não está no meu sangue.
- Vai pro inferno, Jackson! – Esbravejo o empurrando para trás com certa força, mas o mesmo quase não se move. Me viro para Trevor, que parecia estar segurando uma risada, o que com toda certeza me deixa com ainda mais raiva. Cerro os punhos e preparo o golpe, mas o mesmo sai tão desajeitado que Trevor não tem a menor dificuldade em agarra-lo e o levar para baixo com certa força, apertando meu pulso o bastante para deixar marcas.
- Solta ela Trevor! – Ordena Jack, se pondo entre nós encarando o amigo, que logo o obedece.
- Desculpe, só estava impedindo que sua namorada me queime... De novo!
Franzo o cenho não entendendo bem, pois não havia o queimado ainda,mas não iria ficar para entender. Aproveito a situação para despedaçar o girassol em minhas mãos, planejando minha última chance de fugir daquela loucura e ficar a sós comigo e meus pensamentos.
- Olha Amber, eu posso garantir que nós... Argh! – Não o deixo terminar, a esta altura já assoprei as pétalas e as folhas do girassol no rosto de ambos e aproveitei para fugir. A partir dai entrei no modo automático, me direcionei a saída dos fundos da biblioteca, entrei no carro, dirigi feito louca até estacionar de qual quer jeito na garagem de casa.
Subo as escadas como se chegar ao quarto fosse a única coisa que importasse naquele momento, como se lá dentro houvesse a solução para todos os meus problemas. Ah! Como queria que fosse simples assim.
Ao cruzar a entrada do meu pequeno porto seguro, desabo ali mesmo, deixo que o nó na garganta se disfarça em lágrimas solitárias que rolava pouco a pouco. O mundo que conheço acabou de ser transformado para sempre e eu tive uma queda de cinco minutos pelo um dos motivos desta transformação... Por um monstro. Mesmo com todos os motivos para estar apavorada, uma centelha de esperança se ascendia em mim, como uma chama que se recusava a se dar por vencida mesmo com a tempestade cruel e assustadora lá fora.
E se for real? E se de fato, tudo que me aconteceu... For real? O acidente que tirou meus pais de mim... A culpa avassaladora que me devora dia após dias, me comendo viva, eu poderia enfim me libertar dela se for... Real.
- Amber...? – Salto na cama ao me assustar com Rayle na porta. Ela me analisava com os olhos arregalados – O que aconteceu? Você está bem?
- Eu só... Eu estou bem – Limpo as lágrimas e forço um sorriso nada convincente. Sem que eu peça, ela se aproxima da minha cama e se senta ao meu lado, e ali ela fica, me encarando por alguns instantes antes de me abraçar.
E assim ficamos... Sem dizer uma só palavra até adormecermos uma ao lado da outra, exatamente igual a quando éramos crianças e inocentes. É engraçado como um segundo pode mudar tudo ao nosso redor. A dois anos Rayle guardava suas economias em um cofrinho de borboleta achando que conseguiria ir pra Disney com elas. Rebeca sonhava dia e noite em ser aceita na faculdade, era a a mais inteligente de nós porém a mais insegura, igualzinha a Eve. Já eu... Bom, estava sendo uma típica adolescente fútil onde o mundo todo se resumia ao Caio e alcançar a liderança das líderes de torcida.
Dois anos depois acho que as coisas não saíram exatamente como queríamos... Rayle não foi para Disney, ao invés disso o luto a levou fazer coisas que matou de vez a inocência daquela garota com cofrinho de borboleta, Rebeca não esta mais entre nós... Não chego nem a descobrir que havia sido aceita em Havard. Já eu, bem, não restou nada de mim.

                            《~●~》

Já era tarde, havia vindo para cama logo depois do jantar. Não estava muito afim de explicar a Lucinda o por quê de ter saído tão cedo da escola hoje.
Fito o teto mais uma vez esperando pelo sono que se recusava a chegar.
Aperto o coberto contra o corpo ao sentir a ventania invadir o quarto.
- Droga.
Murmuro me levantando para ir fechar a janela, jurava que havia fechado antes de me deitar. Com um pouco de esforço consigo fecha-la, não antes dela dar seu último sopro congelante e abanar minha fina camisola.
Ao me virar de costas quase desmaio ao ver uma sombra formada na escuridão no formato de um homem.
- Mas que diabos...
Sinto o coração palpitar em sincronia com minha respiração acelerada pelo susto. Apoio as mãos na janela recuando a medida que a sombra se aproxima, contudo, um suspiro de alívio escapa de meus lábios quando consigo distinguir o rosto entre as sombras que manchava sua face pálida, dando mais uma vez o show de contraste entre a face palida e as sombras que tentavam apagar a luminosidade de seu rosto
- O que faz aqui?! Como entrou aqui?! – Faço o possível para controlar a voz e falar mais alto que o necessário.
- Achei que estivesse pronta para conversar agora, de forma mais civilizada.
Sua calma seguida de sarcasmo era ao mesmo tempo tranquilizadora e muito irritante, ele tinha um olhar capaz de me convencer do que quisesse... E eu não poderia evita-lo para sempre.
Me aproximo o bastante para acender a luminária, assim podia vê-lo melhor. Cabelos penteados mas com alguns fios salientes que insistiam em não estar no lugar, uma camiseta branca servindo de fundo para o casaco azul escuro caríssimo... Tudo isso servia para me distrair do meu foco, servia para me fazer ceder...
- Estou ouvindo. – Cruzo os braços, não podia me deixar levar pelos encantos do garoto, ainda mais sabendo o que ele era.
- Aqui não, vem comigo. – Antes que eu possa protestar, ele junta nossos corpos com apenas um abraço firme. Minha cabeça batia em seu ombro e não posso evitar sentir o perfume maravilhoso que ele exalava, tudo era irritantemente bom. Mas parando para analisar, acho que nunca estivemos tão colados.
- Jack!
- Tá tudo bem, confie em mim – Seu olhos encontram os meus brevemente acompanhados de um sorrisinho um tanto convincente segundos antes dele correr e nos atirar janela a baixo.
Sou obrigada a apertar meu corpo ainda mais contra o dele quando um frio avassalador nos envolve por inteiros, um vento que eu não tinha ideia de onde vinha era tão intenso que não me permitia até mesmo de ver o chão. Com certeza aquele era meu fim. Escondo o rosto no peito de Jack e espero sentir o chão logo em seguida, mas isto não acontece.
- Viu, eu disse que ficaria tudo bem – Responde Jack, claramente se divertindo com a minha expressão de completo horror.
Tudo que senti após pular foi um frio eminente enquanto Jack espalhavas ondas de calor a medida que me apertava em seus braços, e em seguida o chão firme sob meus pés.
- Como isto é possível?
- Ahn...
- É mais um truque adquirido pela morte. – Reconheço imediatamente o tom de voz carregado de ironia de Trevor, que se encontrava encostado em uma árvore. – Querem um minuto a sós?
Só depois deste comentário percebo que ainda estava agarrada a Jack, mas não demoro a recuar.
- Legal né? Poder estar a onde quiser magicamente.
- Não sei se eu usaria esta palavra. Não poderia ter me dado um minuto para me trocar? – Cruzo os braços na altura dos seios afim de cobrir o decote da camisola.
Trevor lança um breve olhar para Jack e prossegue com suas piadas inapropriadas.
- Ficaria surpresa com a minha definição de indecência.
- Ninguém quer saber o quão pervertido você é Trevor, podemos ir? – Responde Jack que em seguida tira seu casaco e o entrega para mim sem ao menos me olhar. Suspiro apreensiva e indiferente mas acabo aceitando o favor no fim.
- A onde vamos? – Pergunto.
- Achei que quisesse respostas. Vou contar tudo a você... É o mínimo que posso fazer depois do desastre que esta vida se tornou com você vivendo no escuro todos estes anos.
Minha cabeça dá voltas com o que ele diz, me fazendo começar a concluir coisas que sinceramente já são loucuras de mais para serem aceitas
- Esta vida? Existiram outras por acaso?
Ambos se viram para mim, mas desta vez é Trevor quem responde.
- Não achou que aquela noite no Vintage foi a primeira vez que nos encontramos, achou?
Meu coração palpita mais forte a cada palavra. Não sabia bem o que iria descobrir, mas precisava descobrir.
Vejo a mão estendida de Jack, era como um convite... Um convite vindo da morte. O que eu escolhesse agora mudaria tudo, nada mais seria igual. Eu poderia achar na morte um motivo para continuar viva ou passar o resto dos meus dias morta por dentro vivendo uma ilusão.
Por fim, seguro a mão dele e o sigo, sigo para onde ele queira me levar.

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