Cinco

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         Não demoramos muito mais tempo naquela festa depois do infeliz encontro com Sarah

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Não demoramos muito mais tempo naquela festa depois do infeliz encontro com Sarah. Tracy havia sumido minutos depois de Trevor falhar miseravelmente em mentir que ia ao banheiro, mas todos sabemos que pelos olhares trocados com Tracy – Era quase uma conversa silenciosa – Eles iriam na verdade se encontrar.
Eve faz a gentileza de me deixar em casa, passamos o trajeto todo fazendo teorias sobre o que poderia acontecer depois dessa ida ao “banheiro" de Trevor.
Ao chegar encontro as luzes apagadas, tendo o pensamento de que provavelmente todos já estavam dormindo, resolvo ligar a lanterna do celular e deslizar para o meu quarto sem emitir som algum. Ao me aproximar da entrada da cozinha, percebo uma luz vindo da mesma. Não tinha certeza se queria saber o que tinha lá, ando instável esses dias e eu poderia muito bem estar alucinando agora.
- Não é real... Você não é louca – Repito para mim mesma o velho mantra que recitava na infância. Tomo coragem e caminho até a cozinha, vendo o contraste de luz e sombra dançarem. Ao finalmente chegar solto um suspiro de alivio quando vejo a tia Lucinda – Ainda de jaleco – Tirando um pedaço de torta de maçã da geladeira e fatiando um pedaço generoso. Ao notar minha presença ela faz a típica cara de quem foi pego no flagra, não me restava muita reação a não ser rir.
- É muito feio espionaras pessoas – Diz ela limpando o glacê de bolo, o que me faz rir ainda mais.
- Desculpe. Parece uma delícia.
- É uma tentação, quer um pedaço? – Pergunta ela, puxando mais um pires de porcelana azul.
- Não, não. Tudo que consigo pensar agora é na minha cama. – Digo recuando – Boa noite Lucinda.
- Boa noite Amber.
Apesar dos risos, eu realmente parecia estar se tornando uma maluca paranoica com medo da própria sombra... As vezes as coisas são o que são, nem sempre é mais uma brincadeira cruel que o meu subconsciente problemático está me mostrando.
Ao passar pelo quarto de Rayle vejo a mesma debrussada na cama, de pijama e fones de ouvido. É um milagre ela não sair escondida para sabe sei lá onde ela vai todas as noites.
Ao finalmente cruzar meu paraíso pessoal que chamo de quarto, substituo o jeans que usava para minha confortável camisola rosa extremamente delicada... Tudo para agradar a tia Lucinda e não ser um peso para a única “mãe” que me resta.
Sem que eu queira, o dia de hoje começa a vim como ondas em minha mente, se quebrando a cada momento... Nada mau para o primeiro dia. Tivemos os infames episódios de Sarah Vadia Stacy, mais um capítulo das Crônicas de Tracy e Trey: Eles se odeiam ou se amam?
Tivemos também o show de comentários de genialidade e perfeccionismo de Eve Becker... E não posso esquecer – Nem se eu quisesse – Do momento na quadra, quando Jack me salvou de uma vergonha logo no primeiro dia. Ele pareceu não se importar com o jeito íntimo que eu o tratei... Ele me é tão familiar, consigo falar livremente com ele, sem bloqueios ou vergonha... O mesmo acontece com seu amigo Trevor. Eu geralmente senssuraria alguém tão inconveniente, mas suas atitudes são tão naturais, tão espontâneas... Como se eu esperasse isso dele.
Não queria me deter à aqueles pensamentos, não queria fechar ao olhos e ver as fagulhas azuis forjarem seus olhos, e aos poucos ver o rosto dele ganhando vida em minha mente... Algo ainda me dizia para tomar cuidado, era como se eu estivesse prestes a mergulhar em um mar profundo e desconhecido e meu corpo todo gelava só de imaginar... O que me fazia sentir isso?

                          《~●~》

O corredor em que caminhava era escuro e carregava consigo no ar um cheiro adocicado de damas da noite, que entravam junto com a brisa pela enorme janela de pedra, emoldurada em um arco de madeira. Sentia o frio do chão em meus pés descalços enquanto puxava a barra do vestido de tule para cima, afim de apressar o paço.
Estavam aqui, estavam atrás de mim e iriam me encontrar. Não havia perdão para o que eu tinha feito, seria decapitada por isso... Talvez pior.
Sigo o caminho marcado com giz, eu não tinha tempo para isso mas precisava ao menos me despedir... Não podia partir sem vê-lo, eu sabia que nunca mais o veria depois disso... Era o certo a se fazer.
Antes de dobrar o próximo corredor, ouço o som da madeira ranger a cada bota que lhe tocava.
- Pare! – Grita severamente o capitão da guarda pessoal da rainha.
- Não podem me punir por um ato que eu não tomo conhecimento – Digo erguendo as mãos vendo-os empunhar suas espadas. Eu sabia que não era inocente, os corpos, o sangue, os desastres... Eu podia não me lembrar disso e nem se quer saber por que fui amaldiçoada pelo Diabo para fazer atrocidade... Mas isto não diminuia minha culpa.
- Você é uma assassina, uma herege, uma pecadora, uma serva do demônio. Ira queimar por seus pecados! – Ele esbraveja, certamente a mando da rainha. O capitão de cabelos grisalhos a minha frente corta a conversa, simplesmente gesticula para que seus homens avançassem.
- Por favor, não quero machuca-los.
Apesar de meus pedidos eles avançam rápido. “Não sou um monstro”, “Eu não sou louca” é o que repito para mim mesmo...
- Que Deus me perdoe – Digo com grande pesar e sem ter outra escolha, puxo meu punhal da bainha escondida sob o tule azulado do vestido. Paro o golpe de um dos guardas e preciso jogar todo o peso contra ele, o afastando. Levo uma goronhada de outro guarda, forte o bastante para me deixar tonta. Sabendo que não tinha outro jeito, apenas me viro com o punhal, o atravessando em seu pescoço. O puxo de volta rapidamente e desta vez me abaixo para desviar de outra goronhada. Consigo acertar mais um dos homens, cortando-lhe a garganta.
Sinto braços grossos agarrarem os meus atrás das costas, os entortando tanto que sou forçada a ceder para que meus ossos não se esmaguem. Eu parecia uma criança ao lado daqueles homens enormes e robustos, me dando poucas vantagens.
Sou praticamente tirada do chão, pois mau conseguia toca-los enquanto me arrastam pela escuridão que nos engolia no corredor. Eu sabia que meu fim estava próximo, eu seria decapitada... Queimada talvez. Mas o pior de tudo era saber que ele me esperava, meu amor devia estar pensando que partir sem me despedir, deve estar imaginando por que eu faria isso... Meu coração doía só de imaginar como o destruirei quando o sol nascer e revelar a todos o meu corpo carbonizado ou uma cabeça em uma estaca na entrada do palácio ou em alguma praça pública.
O sentimento queimava dentro de mim, era doloroso, era poderoso, o sentia trovejar, como se uma tempestade começasse a se formar e em minhas veias raios e fogo dançassem, fazendo sua energia pulsar para fora de minha pele. A risada cortante e cruel em minha mente indicava que o fim daqueles homens havia chegado, eu não respondia só por mim agora.
- Diga para sua rainha, que eu mesma arrancarei a cabeça dela – Sem nenhum movimento meu, o corpo do homem que me imobilizava se choca violentamente contra a parede, seus guardas se apressam para ajudar, mas basta um olhar para que caiam agonizantes no chão, seu sangue fervia o cozinhando de dentro para fora. Um a um todos caíram, todos sempre caem. Passo por cada um deles sem saber para onde iria desta vez.
- Amber... – Ouvia uma voz firme sussurrar meu nome, mas era incapaz de decifrar de onde vinha – Amber! Abra seus olhos! – Desta vez ele falava alto, parecia desesperado.
- Amber! – Em um pequeno pulinho na cama, acabo acordando. Apesar da escuridão conseguia ver o rosto dele perfeitamente, ali, parado próximo a janela. Era incapaz de ver sua expressão mas eu sabia que era ele.
- Jack. – Digo seu nome e me apresso em acender o abajur afim de saber o que ele fazia ali e como entrou em meu quarto. Porém ao acender, minha única e decepcionante visão são da cortina dançando suavemente com a brisa que a fazia se balançar... Nada de Jack.
Deus eu estou enlouquecendo. Passo aos mãos pelo rosto e as deslizo até o couro cabeludo. Só então percebo o quão suada eu estava. Minha fina camisola estava encharcada, porém meu corpo estava frio como gelo.
Tento dizer a mim mesma que podia ser pior, ao menos desta vez foi um pesadelo seguido de uma alucinação fora do comum e não uma crise de sonambulismo.
Procuro o frasco de remédios na escrivaninha, pois não queria arriscar outro surto psicótico. Contudo, para o meu desespero, tudo que encontro é um frasco vazio, não havia nem sequer uma pílula. Eu tenho certeza de que até ontem a noite este pote estava cheio de comprimidos odiosos, como estão vazios agora? Isso não é possível eu nunca os deixava esvaziar.
Deito-me com tudo contra a cama, frustrada, confusa e repassando a ultima vez que tomei o remédio em minha mente, e sim, tenho certeza que ele estava cheio.
- O que esta acontecendo comigo? – Sussurro lutando bravamente contra o nó na garganta e impedindo a todo custo que lágrimas escorressem.

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