Sete

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  Os momentos desesperadores naquele cubículo de tábuas e poeira insistiam em voltar a minha mente

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  Os momentos desesperadores naquele cubículo de tábuas e poeira insistiam em voltar a minha mente. Tudo se passava como o trailer de um filme. Eu via e revia as imagens mas ainda não fazia sentido.
Um pequeno tornado dentro do armário? Não era só loucura também era impossível, tudo que aconteceu era impossível.
O anel entre meus dedos era pesado, rústico e até que bem cuidado para a idade que eu acho que deva ter. Tento manter meu foco nele enquanto minha tia tentava explicar pela milésima vez aos policias que tudo não passou de um mau entendido.
Graças a Sra. Papper, que chamou a polícia, estamos aqui na delegacia dando depoimento. Minha pobre tia foi obrigada a deixar o plantão para tirar uma de suas sobrinhas da delegacia. De inicio ela pensou que se tratava de Rayle, pois não seria a primeira vez que aquela delinquente ia parar aqui. Mas ao chegar e se deparar comigo algemada a uma cadeira de frente para um policial com cara de mau, a decepção foi evidente em seus olhos.
Eu estava ao lado de fora da salinha, com uma mão algemada a cadeira e torcendo pra minha tia conseguir nos tirar dali rápido.
Volto atenção para aquele misterioso anel que magicamente apareceu naquele armário.
Era até bonito, tinha uns detalhes em espirais e uma pedra azulada no topo, era meio quadrada e estava praticamente enterrada no anel que parecia ter sido feito a mão. Ao olhar mais de perto, consigo ver mais desenhos na parte interna do anel. Era tão pequeno e cheio de linhas. Passo o indicador por cima, tentando identificar do que se tratava pelo tato, mas apenas tive certeza de uma coisa: Não eram desenhos, e sim palavras. Palavras que eu não conseguia enxergar direito e muito menos ler.
- Ótimo – Bufo baixo. Quem escreve em um anel?
Algum desastrado que não olha por onde anda esbarra fortemente em meu joelho, balançando sem aviso prévio minha mão que repousava em cima do mesmo, fazendo o anel saltar longe.
- Droga! – Resmungo quando não consigo pegar o bendito anel.
- Me desculpe, to me acostumando com os óculos ainda – Diz o desastrado, se abaixando para pegar o que derrubou.
- Roubou isso de qual museu? – Brinca o analisando de perto. Era uma cena engraçada, parecia até mesmo um detetive. Ele ajeitava os óculos e fitava o anel, porém não se demora e me devolve.
- Obrigada – Respondo quando me devolve. Ele curva os lábios em um breve sorriso segundos antes de afundar suas mãos nos bolsos de seu moletom verde, o casaco fechado até a metade ainda me permitia ver sua camiseta da netflix que servia de fundo.
- Me chamo Henry, Henry McTails – Ele se apresenta, estendendo a mão para mim. Me estico o máximo que consigo estando presa na cadeira.
- Amber Milles. – Retribuo o comprimento. – A Sra. Papper fez todos da turma dar um depoimento? Minha fama de maluca ira se espalhar feito doença contagiosa.
Dou um sorrisinho tentando brincar, porém esta era a pura verdade. Consigo arrancar sorrisos dele também fazendo nosso olhar se encontrar.
- Bom, digamos que nem todos te culpam pelo o que houve. Na verdade você nos livrou da aula de educação física então agora é a heroína dos nerds. – O apelido me faz gargalhar. Um sorriso também se abre em seus lábios, deixando seu rosto bronzeado com um ar inocente.
Antes que eu pudesse dar alguma resposta, um policial nos interrompe apenas tirando minhas algemas.
- Isto aqui não é mais necessário. Sua tia está assinando a papelada, depois disso estará livre para ir.
- Obrigada – Digo mas não obtenho resposta, pois o policial some na mesma velocidade que apareceu. Me levanto da cadeira aliviada por esticar as pernas e massageio o pulso avermelhado pela algema.
- Enfim livre – Digo a Henry com um sorriso. Ele acena com a cabeça e logo seus olhos escuros voltam para os meus, dando um belo contraste do azul profundo e cheio de cicatrizes do passado aterrorizantes para o seu abismo profundo e carregados de uma estranha inocência, algo que eu havia perdido.
Um silêncio se segue entre nós até meus dedos tocarem o metal do anel em meu bolso, me fazendo lembrar de onde eu poderia conseguir respostas.
- Sabe onde posso encontrar o Senhor Grayson? – Pergunto quebrando o silêncio.
- Da última vez que eu o vi ele estava lutando contra a maquina de doces e sendo atacado pela Sarah.
Ele nem precisa dizer para eu saber que tipo de ataque o pobre do senhor Grayson esta sofrendo daquela megera.
- Obrigada.
Me deslizo pelo corredor deixando minha pressa eminente acelerar as minhas pernas, não ligando para os olhares de alguns alunos que se dissipam pelo corredor.
Não demora muito para meus olhos avistarem o professor ao fim do corredor, e ao seu lado a loira maluca metida a rainha.
O senhor Grayson se encontrava sentado com um pacote nas mãos e Sarah em pé a sua frente, encostada na parede. O professor parecia não ligar para a garota oferecida, pois ele me parecia mais concentrado em seu chocolate.
Ambos me olham a medida que eu me aproximava.
- Olha se não é surtada do armário. Valeu por acabar com a aula, não estava mesmo afim de correr feito louca. – Diz Sarah, esta provavelmente foi a coisa menos violenta que ela já me disse na vida.
- Ahm... De nada? – Digo sem saber o que responder. Ela bufa aparentemente incrédula com minha resposta e revira os olhos se apressando para sair.
- Otaria. – Resmunga baixo passando por mim, o batuque de seu salto e o perfume doce se dissipava a medida que ela se afastava.
O senhor Grayson olhava tudo sem se intrometer, comentando apenas depois que a megera some.
- Essa dai é fogo – Diz, me fazendo rir, fogo não é a palavra que eu usaria.
- nem me fale.
Me sento ao seu lado e ele empurra a sacolinha de doces em minha direção, me oferecendo.
- Delegacias me deixam nervoso, e consequentemente me dão fome de açúcar.
- Obrigada – Pego um por educação.
- Então... Em que posso ajuda-la? Não acho que tenha vindo aqui apenas pelo meus doces, ou veio? – Coloco uma mexa de cabelo atrás da orelha formulando a pergunta.
- Bom... No armário eu encontrei uma coisa, um anel. – Puxo o objeto circular do bolso deixando os olhos do professor se cair sob ele – Notei que tem algo escrito, mas me parece estar em outra língua... Queria saber se o senhor poderia...
- Traduzir? – Me interrompe – Será um prazer, fico feliz que tenha me procurado e que confie em mim para isso. – Ele abre o mais sincero dos sorrisos, algo que o fazia parecer ter aproximadamente a minha idade.
-Obrigada, senhor Grayson. – Entrego o anel. Ele ajeita seus óculos o analisando de perto.
- Não estamos na escola Amber, me chame de Gregg.
Apenas aceno com a cabeça enquanto observo seus olhos hábeis passearem por todo o contorno do anel. Ele força a visão e então resolve fotografar o anel e utilizar o zoom para aproximar a imagem.
- Esperto.
- Obrigado.
Alguns longos minutos se passam até que ele traduza a ultima palavra.
- Sabe o que é engraçado? Está escrito em latim mas o verso fala de uma criatura celta. – Ele me lança um olhar cheio de significado esperando que eu entenda, quando percebe que não entendi ele prossegue.
- "Quando o encapuzado a mão lhe estender
A lâmina ceifeira irar de te perecer.
Ambos escravos da morte
Um pelo destino outro pela fome.
Quando o Anko nesta terra ceifar
Sua maldição eterna ira lhe assombrar". Quem escreve um verso tão macabro em um anel? Estamos em Código Da'Vinci agora?
Sorrio sem muito humor, o verso era de fato perturbador.
- O que é um Anko?
- Na mitologia celta um Anko seria o espirito da ultima pessoa que a Morte levou, este espirito o acompanharia. Mas existem várias interpretações para o mito, e pelo o que eu posso ver aqui – Ele aponta para o anel ainda em suas mãos – O dono disto aqui defende a teoria de que o Anko e a Morte sejam a mesma... Coisa. A quem diga que o Anko seria apenas um estado anterior da Morte, que um dia de alguma forma ela iria evoluir até se torna... A Morte.
- Como uma lagarta antes de se tornar uma borboleta – Digo tentando entender.
- Exatamente. Mas isto... Esta incompleto, o verso esta pela metade. – Seu suspiro indicava frustração – Gostaria de poder ajudar mais...
Ele me devolve o anel. Por que alguém escreveria aquilo ali? Não fazia sentido algum... Morte? Anko? A ideia me causava um calafrio cortante que me subia pela espinha.
- Tudo bem Senhor... Digo, Gragg. É só uma velharia que alguém perdeu, mas como dizem: Achado não é roubado. – Abro um convincente sorriso e lhe dou uma piscadela. Ele ri parecendo se divertir. Volto o anel ao bolso e me levanto, pois a esta altura Lucinda já estaria me procurando.
- Amber, te enviarei um livro em Pdf por e-mail sobre isso, caso tenha alguma curiosidade – Sorrio em concordância.
- Obrigada professor.
É tudo que digo antes de praticamente correr até minha tia.

                             《~●~》

Tia Lucinda não tiraria os olhos de mim tão cedo, nem ela e nem o Dr. Darlin.
Passei por uma serie exames e teste que iam do alucinógeno para o alcoólico. E é claro, os remédios, novos comprimidos, novas receitas, mais dosagens, mais vezes ao dia. Era como usar drogas só que sem a parte divertida.
- Tudo bem, terminamos – Não consigo conter o suspiro de alívio por aquela tortura finalmente ter um fim.
Me retiro da sala assim que sou liberada, só queria me mandar dali e ficar sozinha, me livrar da tensão de maluca que me cercava, dos julgamentos silenciosos, da solidão mesmo estando cercada... Precisava de cinco minutos de descanso.
Subo as escadas com velocidade, contudo acabo esbarrando em Rayle, nossos corpos se colidem ao mesmo tempo em que ela descia com a mesma pressa em que eu subia.
A julgar como minha irmã tem me tratado no último ano, me preparei para o impacto de sua resposta nada amigável, já estava com os punhos cerrados para revidar. No entanto, tenho uma surpresa. Ela se impulsiona para frente, joga seus braços em volta de mim e me abraça, um abraço terno e maternal, daqueles que nos fazem se sentir protegidas. Não sei dizer por que ela fez isso, talvez a culpa tenha batido em sua porta, talvez seu coração de pedra finalmente se amoleceu ao ver o cansaço e a dor deste dia sangrar fundo em mim, transbordando ao ponto de escorrer como lágrimas em meus olhos, eu não saberia dizer...
- Eu... Sinto muito.
É tudo que ela diz. Nada respondo, eu não conseguiria dizer uma só palavra. Queria desabar em minha irmã, contar a ela tudo que vem me aterrorizando, chorar pela saudade que nossos pais e Rebeca nos causa, abrir feridas mau costuradas e deixar sangrar para que as curemos juntas, do jeito que deveria ser... Mas eu não podia, não podia fraquejar agora.
Seja forte! É o pensamento que me ocorre
Seja forte por Lucinda, seja forte por você mesma!
Junto minhas forças para não desabar e solto minha irmã, indo como um raio em direção ao meu porto seguro chamado de quarto.
Jogo a mochila em cima da cama e me afundo na cadeira do notebook. Enxugo as lágrimas que marcavam quente o meu rosto e abro meu e-mail, em seguida o link do livro do Sr. Grayson.
Não sabia por que um pedaço de metal circular me era tão importante e familiar, apenas sabia que eu precisava descobrir o que ele significava e algo me dizia que eu estava no caminho certo.

 

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Desculpem a demora para postar, não desistam de mim rs ^-^.
Estive mega corrida estes tempos, mas agora me dedicarei mais. Ainda à muito para acontecer.
Enfim espero que gostem♥️😊

Meia Noite Onde histórias criam vida. Descubra agora