Capítulo 37

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Descobrir que Gregory havia mentido sobre a escassez de suprimentos, me fazia perceber o quão doentio ele era. Além de matar vários moradores, com a desculpa de que estava fazendo aquilo para o bem coletivo, Gregory havia expulsado boa parte das pessoas da Colônia, sobre o pretexto de que os suprimentos não seriam suficientes para todos.

Saber que todo o conflito entre as comunidades partiu de uma mentira, me deixava extremamente abismada. Pessoas haviam sido mortas, simplesmente para que Gregory pudesse colocar em prática seu plano de assumir a liderança da Colônia. Alguma coisa precisava ser feita, e Gregory tinha que ser desmascarado. Porém, não tinha como levar Kohana até a Resistência e ao mesmo tempo voltar para Colônia.

— Noah, você precisa voltar a Colônia para avisar Rachel e o restante do grupo! — disse, vendo a relutância nos olhos dele.

— Não posso simplesmente deixar vocês irem sozinhas até a Resistência! — protestou Noah. — E se Cochise não cumprir com sua palavra? E se tudo isso for apenas uma armadilha?

— Meu pai sempre mantém sua palavra. — interrompeu Kohana. — Joy está certa, você precisa avisá-los. Se alguma coisa acontecer conosco no caminho, ao menos alguém poderá fazer alguma coisa para impedir Gregory.

— Sem chances, é muito perigoso... — respondeu Noah.

— Noah, eu amo o fato de se preocupar comigo. — disse, me aproximando e tocando seu rosto. — Eu sou a pessoa mais sortuda desse apocalipse, pois sempre tive alguém que se preocupasse comigo. Minha mãe, Allan, e agora você. Mas eu estou crescendo, e acho que está na hora de aprender a cuidar de mim mesma.

Era visível que Noah entendia o que eu havia dito, mas mesmo assim era difícil para ele aceitar que nem sempre poderia cuidar de mim. Isso não queria dizer que não precisava dele, ao contrário, eu sabia que sempre ira precisar dele ao meu lado, porque Noah era meu alicerce. Talvez esse seja o significado de amar.

— Você me faz sentir falta dele. — disse Noah, se referindo a Allan. — Talvez se ele estivesse aqui, tudo isso seria mais fácil.

— Não sei se tudo ficaria mais fácil, mas também sinto falta dele. — respondi, sentindo uma leve tristeza no coração. — O tempo todo. Mas essa tristeza me faz lembrar todos os dias, tudo o que ele me ensinou.

— O que vai fazer? — perguntou Noah.

— Vou fazer exatamente o que ele faria nessa situação. — respondi. — Vou lutar pelo meu pai, lutar por nosso grupo, por todas aquelas pessoas, da mesma forma que ele lutou por mim.

Kohana me olhava com uma certa admiração. Talvez naquele instante ela estivesse pensando que talvez eu não fosse como todas as outras pessoas, e isso me alegrava. Noah, antes de voltar até a Colônia, segurou minhas mãos, e nossos olhares se alinharam por alguns segundos.

Podia ver em seu olhar que ele estava orgulhoso de mim. Naquele momento, também pude perceber alguns pequenos fios loiros crescendo em seu rosto, e isso me lembrava que mesmo não contando mais o tempo, ele ainda passava como se não se importasse com nada. O tempo não havia se ajoelhado perante o apocalipse, e estávamos cada dia mais, crescendo.

— Allan não está aqui para te dizer isso, mas irei dizer por nós dois. — falou Noah, quebrando o silêncio. — Estou orgulhoso de você, garotinha. — completou Noah, imitando Allan.

— Não quero ser estraga prazeres, mas precisamos ir! — alertou Kohana, enquanto se certificava de que não havia ninguém em volta.

Antes de ir, Noah me puxou para perto de seu corpo e me deu um longo beijo, que me deixou totalmente sem reação. A atitude dele me deixou confusa, já que até então, ele estava bastante chateado comigo por ter escondido dele que iria até a Resistência.

A Promessa - Sobrevivendo Abaixo de Zero - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora