A Promessa - Sobrevivendo Abaixo de Zero - Livro II

Capítulo 51 - Final

Recomendo lerem o Capítulo 2 do primeiro livro...

— É logo ali. — disse ao meu pai, apontando para a cabana que estava a alguns metros de nós.

Ao descermos do veículo emprestado por Rachel, ficamos frente a frente com a antiga cabana de Allan. Aquele lugar me fazia sentir novamente como uma criança e por um momento senti falta do meu pequeno urso de pelúcia. Já fazia anos desde a primeira vez que havia estado ali, e depois da morte de Allan não tive forças para ir até aquele lugar que me proporcionava tantas lembranças.

A antiga cabana estava bastante diferente da primeira vez que a tinha visto. A porta havia sido arrombada, provavelmente por algum sobrevivente ou saqueador em busca de suprimentos. Ao entrar nela, percebi que toda a cabana havia sido revirada e tudo estava extremamente bagunçado. A pessoa que tinha passado por ali parecia estar com muita pressa e não fazia ideia da história daquele lugar.

Tirando minha mochila das costas e a colocando no chão, retirei de dentro dela um antigo porta-retratos que havia guardado comigo. Era de um casal de idosos, que segundo Allan, seriam provavelmente os donos daquela cabana muito antes do apocalipse acontecer. Aproveitando um prego que já estava na parede, pendurei a foto continuando a me perguntar se ainda estariam vivos hoje.

Mesmo em meio a toda bagunça deixada por quem havia estado ali, consegui distinguir uma pequena lata aberta de sopa jogada em um dos cantos da cabana. Era a mesma sopa que Allan havia me dado na minha primeira noite com ele. Aos poucos, começava a relembrar aquele momento, e uma das primeiras perguntas que havia feito para ele.

— Não Allan, você não era um homem mau. — disse para mim mesma, enquanto soltava um leve sorriso. — Só estava tão assustado quanto eu, mas mesmo assim foi forte.

Quando conheci Allan o via como um cara durão, mas com o tempo fui descobrindo que ele tinha um coração formidável. Durante nossa caminhada juntos ele fez de tudo para me poupar dos horrores do apocalipse. E mesmo que no início tivesse me sentido uma completa estranha perto dele, não demorou muito para que me sentisse como se fosse sua filha.

Com meu pai e Amy me esperando do lado de fora, saí e caminhamos até a parte de trás da cabana. Esse era o mesmo lugar que evitava olhar todas as vezes que subia com Noah em algum lugar alto para vermos os arredores. Aquele lugar ainda me machucava muito, mas sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentá-lo. Ao chegarmos lá, me abaixei e comecei a retirar com as mãos a neve que encobria parte da placa de madeira que estava presa ao chão.

— Pai, esse é o Allan. — disse, enquanto apontava para o local onde ele estava enterrado. — Foi ele quem cuidou de mim depois que a mamãe morreu. Se não fosse por ele, eu não estaria aqui hoje. Allan morreu salvando minha vida.

— Não só sua vida, Joy. — interveio Amy, com um semblante triste. — Ele salvou também a minha vida e a de várias outras pessoas. Não é só você que carrega esse fardo.

Meu pai olhou com surpresa para mim e em seguida para o túmulo de Allan. Eu já havia contado para ele sobre Allan, mas não havia mencionado que estava morto. Se abaixando, meu pai tocou na superfície do túmulo enquanto Amy se segurava o máximo para não chorar. Ele ficou ali, mudo por alguns segundos, até finalmente falar:

— Eu não te conhecia da mesma forma que você não conhecia Joy quando a ajudou. Se tive a oportunidade de rever minha filha é graças a você, Allan. Sua atitude me mostra que foi um grande homem! Todas as vezes que abraçar Joy serei grato por a ter mantido a salvo.

— Quando te vi pela primeira vez, pensei que fosse um completo idiota. Com o passar do tempo fui vendo que realmente era um, e dos grandes! Era um idiota com um bom coração mas tinha que ter ido até aquele telhado sozinho, não é? Você não se perdoaria se alguma coisa acontecesse conosco. — falou Amy, encarando o túmulo de Allan com um leve sorriso seguido algumas lágrimas que escorriam em seu rosto. — Você me lembra a Samantha, são dois cabeças duras... e não fazem ideia a falta que fazem.