Prólogo

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Prólogo.

Amelia

Sento-me em frente à piscina e encaro a água. Limpa, tranquila e... parada. Exatamente como eu. A água é poderosa, ela sabe que é. No entanto, parada ali, naquele buraco adornado por detalhes perfeitamente alinhados e alto valor, numa simulação de pedras de um rio, que seria seu habitat natural (poderia ser o mar, de qualquer forma), ela ainda está presa e impotente. Assim como eu. Parada, presa à muros invisíveis de valores altíssimos.

Viver um casamento infeliz não é exatamente uma exclusividade. Para ser sincera, boa parte das pessoas - mulheres- vivem em casamentos infelizes. Bem, o que se pode fazer? Separa-se ou lide com isso. Só que às vezes não é tão simples assim. Principalmente quando esse casamento infeliz foi algo que foi tão sonhado e finalmente conquistado. Casar com um homem rico sempre foi o que eu persegui desde que me mudei para Nova Iorque. Pra ser honesta, foi algo que persegui desde que me lembro.

Sempre ouvi que só havia duas oportunidades para uma mulher se tornar rica: ou nascia rica ou se casava com um homem rico. Machista? Bastante. No entanto, não sou o tipo de mulher que quer arregaçar as mangas e passar a vida toda tentando ser melhor que qualquer homem pra tentar receber, ao menos, a mesma quantia, mesmo fazendo três vezes mais do que qualquer homem faria. Não! Eu sou fraca e bonita. Logo... Casar com um homem rico foi o caminho mais fácil.

A infância pobre em Boca Raton é algo que gosto de esquecer. Depois que mamãe morreu, não havia nada pra mim lá naquele lugar repleto de gente se bronzeando na praia durante o dia e se consumindo em drogas ao se afundar na noite.

Trabalhei um verão inteiro numa agência de turismo só para juntar o dinheiro necessário pra me mudar pra sempre daquele lugar. Deixei tudo pra trás. Bem, na verdade eu deixei nada. Pois eu não tinha nada. Nada além de uma tia que vivia trocando de namorado a cada dois meses, ou melhor, traficante. Na verdade, namorado-traficante é a melhor denominação. Deixei uma casa velha com cheiro de mofo e infiltração nas paredes, um cachorro velho que nunca morria, não importa o quanto não cuidássemos dele, ele sempre se mantinha vivo, sabe Deus como. E deixei uma pessoa que era a única coisa que ainda me deixava feliz. Mas não importa, nem isso foi suficiente para me prender àquele lugar, àquela vida. Eu deixei essa pessoa pra trás e nunca mais voltei. Não telefonei, não escrevi e sequer procurei saber como estava durante todos esses anos. O sentimento, no fim, provou não ser tão forte assim, afinal.

Mas naquela manhã, especificamente naquela manhã, quando entrei na cozinha e vi uma das empregadas da casa fungando por alguma novela idiota de um canal latino, eu prestei atenção àquilo. Não sei o motivo de ter parado pra olhar algo tão ridículo na TV, mas eu olhei, e foi como se algo grande piscasse em minha mente. Uma fuga. Uma chance de pelo menos duas semanas fora da prisão invisível de milhões de dólares. Um escape para esquecer, por duas semanas, dessa vida que me faz cada vez mais infeliz, mas não a troco por nada, nem mesmo pelo homem que estou apaixonada.

Eu sei que soa terrível, e talvez seja mesmo terrível, mas a verdade é que não suporto o ônus desse casamento. Hoje sou uma mulher muito rica, é verdade, mas ter que sorrir e fingir à mesa de jantar, por vezes, me causa ânsia.

Levei a mão ao meu telefone e decidi que pra poder finalmente respirar, apenas por duas semanas, eu deveria procurar a pessoa que um dia deixei pra trás. Eu sei que ela deve me odiar, mas tenho uma conta bancária recheada e acho que isso possa resolver alguma crise sentimental.

Com um sorriso confiante, resolvi que deveria procurá-la. E é isso que faria. Após dez anos, eu iria atrás de Elena Parker.

The CounterfeitWhere stories live. Discover now