Capítulo 2.
Elena
Posso ouvir algum som ao fundo. Não é alto e tampouco irritante, arrisco até a dizer que é reconfortante. É rítmico até. Posso contar em minha mente, e antecipo o momento em que apita novamente. Essa brincadeira é boa. Emitir um sinal sonoro mental que acompanhe o sinal sonoro real que toca em algum lugar.
Me distraio com a brincadeira recém descoberta, e engasgo com minha própria saliva - ou a escassez da mesma - e minha tosse sai baixa, porém ardida como o inferno.
- Amelia? – ouço uma voz masculina chamar o nome com delicadeza.
Abro os olhos bem devagar, não por vontade própria, mas foi essa a maior velocidade que consegui.
Isso se parece um quarto de hospital. Agora eu entendi qual é a do sinal sonoro que eu brincava. Se eu ainda não tivesse percebido que era um quarto de hospital, o homem com jaleco branco e um estetoscópio ao redor do pescoço seria um bom sinal. Tão clichê o estetoscópio.
- Senhora Donnovan, que bom que acordou. – o médico se aproximou com sorrisos simpáticos, trocando olhares entre eu e a máquina que até pouco tempo atrás era minha amiga de brincadeiras com seu sinal sonoro. – Como se sente?
Ele não era bonito, sequer era charmoso. Como um médico não era bonito e nem charmoso? Grey's Anatomy é uma mentira sem fim, estou vendo agora. Shonda eu teu odeio com todas as forças sua mentirosa hipócrita. Esse cara à minha frente não se parece com nenhum dos médicos do seu elenco de homens gostosos e charmosos.
- Senhora Donnovan? – seu cenho se franze, e o homem que estava mais atrás, quieto em sua roupa social contida, se aproxima.
- Amelia? Está se sentindo bem? – parece realmente preocupado.
Por que esses caras estão me chamando de Amélia ou de senhora Donnovan? Meu nome é Elena Parker e...
Minha linha de raciocínio se perde quando tudo volta com força à minha mente. Minha irmã voltando após dez anos, o acordo, a viagem para Hamptons que acabou com um helicóptero destruído no meio de uma floresta, todos os corpos ao meu redor... a cabeça de Oliver.
Não consigo conter... Eu choro. Não presto atenção aos homens à minha frente. Sequer dou um segundo pensamento ao desespero que parece ter se instalado no quarto. Eu apenas choro porque aquela foi a merda da pior cena que já presenciei em minha vida. Nunca senti tanto medo como quando estava sozinha na floresta com quatro corpos sem vida ao meu redor. E a explosão...
Vejo vultos ao meu redor por conta do choro convulsivo. O médico parece mexer em algo que está ligado à uma agulha espetada em meu braço, e logo percebo que meu corpo não corresponde mais às minhas vontades. Estou ficando inerte. O choro diminui contra minha vontade, meu queixo não treme mais e minha pálpebras pesam além da vida. Ele me sedou. É óbvio. Não sei exatamente se me sinto agradecida, mas isso me ajuda a pensar melhor. Chorar e se desesperar agora não adianta nada.
Deixo meus olhos se fecharam por completo e ao contrário do que podem pensar os homens no quarto, não durmo, eu apenas penso.
Amelia está morta, ou melhor dizendo, a Amelia se passando por Elena está morta. E o que tudo indica, é que as pessoas realmente pensam que Elena está morta, porque se não fosse isso, esses homens não estariam me chamando de Amelia.
Mas em que merda eu fui me enfiar? Como desfaço isso agora? Será que eu poderia ser presa? O que fazer? Malditas perguntas rondando minha cabeça.
Eu pedi demissão do meu antigo emprego, estou provavelmente morta para todos os efeitos e não recebi a porra do dinheiro que seria entregue ao fim das duas semanas na merda daquele resort. Eu estou muito fodida. Como toda essa situação iria se parecer para a justiça, afinal? Eu não tenho a merda de dinheiro algum para ter um advogado para me aconselhar. Pense Elena...
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The Counterfeit
RomanceElena Parker, definitivamente, não é uma boa moça. Após se envolver em uma grande confusão, com nada para deixar para trás, não hesita ao tomar a decisão que mudará sua vida para sempre.