Capítulo 4

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Capítulo 4

Elena.

Alguns dias se passaram nessa rotina. Ficava sozinha em casa na maioria dos dias, exceto nas vezes em que Vivienne não saía para seu compromisso misterioso. No entanto, quando ficava, conversava poucas vezes comigo. Christopher chegava a noite e jantávamos todos naquele clima silencioso e totalmente desconfortável pra mim.

A única coisa que havia mudado era em relação às crianças. Eles chegavam às três e meia e já corriam pro meu quarto. Assistíamos filmes ou séries, ficava à escolha deles. Kai já conversava mais comigo, e disse que desde que mandou os meninos idiotas à merda, eles apenas ficaram chocados – crianças de rico são tão idiotas – e não lhe perturbaram mais.

Dakota estava se soltando aos poucos comigo. Ainda parecia sentir pisar em terreno estranho, mas se sentia mais à vontade pra não interpretar o papel de menina certinha que a família impunha a ela.

- Eu amo o cabelo azul dela. – Dakota comentou sobre uma personagem de um filme que estávamos assistindo.

- Eu acho bem legal o cabelo assim também. – concordei. Olhei para o lado e vi seus olhinhos brilhando para a TV. – Você pintaria seu cabelo assim?

Ela pareceu sair de seu transe.

- Meu pai nunca permitiria. – respondeu deixando seus ombros caírem. – Nem minha avó. – olhou meio incerta. – Nem você? – soou mais como uma pergunta.

- Eu acho que você ficaria linda com o cabelo azul, ou pra começar, umas mexas azuis. – vejo seus olhinhos crescerem com esperança. – Mas não iria combinar nada com essas roupas que você usa. – apontei para seu corpo. – Certinha demais. Você teria que ter um estilo mais despojado, sabe.

- Sim. Eu sei. – ela parecia querer me abraçar.

- O que acha de irmos ao shopping, Kai? – me virei para o menininho que estava concentrado em seu biscoito.

- Hum, tá bom. – aceitou sem se atentar muito à pergunta.

- Eu também estou precisando muito comprar umas roupas. – aponto pra mim mesma. – Minhas roupas de ficar em casa me fazem parecer que todos os dias estou gravando um comercial de margarina. – brinquei e as crianças riram.

- Mellie, você é tão legal. – Dakota segurou minha mão. – Por que não era assim antes?

Sua pergunta foi sem qualquer maldade ou dúvida, mas acendeu uma lâmpada vermelha em minha mente. Se as crianças percebiam a mudança, será que os adultos também estavam percebendo?

Talvez eu devesse me aproximar mais deles, para sondar como estão as coisas.

- Ok então, crianças. Amanhã nós vamos no shopping. – decido. – Agora, vão tomar seus banhos porque daqui a pouco o pai de vocês estará em casa e o jantar será servido. – faço um gesto exageradamente esnobe e eles riem enquanto se levantam de minha cama, e se encaminham pra porta.

***

Após o jantar, as crianças foram para o quarto e Vivienne se recolheu ao seu também. Christopher sumiu tão logo terminou sua refeição. Me vi sozinha naquela casa enorme e me senti um tanto quanto incomodada com aquilo. Talvez eu pudesse entender um pouco o que levou Amelia a me fazer aquela proposta louca.

No entanto, ela havia procurado aquilo. Perseguiu o sonho da riqueza com tanto afinco, que aceitou a primeira oportunidade sem pesar as consequências.

Estava na cara que não amava o marido. Não se aproximou da menina, já que foi basicamente por isso que Christopher a pediu em casamento, pelo que entendi, e até agora não entendo por qual motivo foi até a Etiópia e adotou o pequeno Kai.

The CounterfeitWhere stories live. Discover now