Deixava o som das flautas levarem meu corpo em uma dança que me foi ensinada quando ainda era uma pequena mocinha, apresentava-me para uma plateia minúscula, meus pais e os músicos. O passatempo favorito dos meus tão amados progenitores, depois de me medirem em uma parede no canto do quarto de estudos, era me ver dançar. Aprendi com minha mãe, a doce levada dos toques musicais.
- Ela é perfeita, não é Edgar? – Minha mãe virava o rosto para encarar o semblante serio de meu pai.
- Coloque uma espada em sua mão e com esses movimentos poderá tirar a vida de qualquer pessoa que entrar em seu caminho- Meu pai cortava os sonhos de minha mãe.
Era engraçado ver de um lado a leveza na mulher que me criou com tanto amor, e do outro lado a dureza na imagem que me ensinou a lutar. Meus pais eram a personificação da diferença. Não que eu não fosse amada, ambos me cobriam de tal sentimento dos pés a cabeça, mas sentia que no fundo existia algo a mais. Minha vida poderia ser resumida em longas horas de estudo, incluindo o ensino das línguas, as culturas de nosso povo, a etiqueta de uma rainha, a leveza de um pássaro. Alguns minutos de caminhadas, dentro das proximidades do castelo, é claro. Treinamentos com espada com meu pai, dança com espada com Aria, criação das espadas com Befim. As historias das guerras ficavam com minha mãe, junto com as historias dos casamentos, as prometidas, os filhos das prometidas.
- Catania, Edgar e Katherine... – Meus pensamentos e minha dança eram interrompidos pelo carrasco elegante de meu primo Sven. – Vim apenas para me despedir. Voltarei para casa no próximo barco a sair do porto.
Sven era lindo, meu coração palpitava ao ver seus olhos azuis como o mar, seus cabelos não tão longos mas sempre trançados. Tal sentimento era cultivado pelos olhares que aquele infante sem juízo colocava sobre as minhas vestes não tão apropriadas para tal encontro.
- Meu sobrinho! Sabe que pode ficar em Arbolon por quanto tempo quiser. – Minha mãe falava ao se levantar para abraçar o garoto que já ultrapassava sua altura.
- Sei que sou bem-vindo e agradeço, mas todos sabem que tenho uma mãe que não se contenta com 6 filhos, precisa do sétimo, o mais lindo de todos presente. – Ele falava ao cumprimentar meu pai apenas com um aperto de mãos.
- Engana-se ao pensar que é o mais belo, Alyna vence essa batalha com facilidade – Falei apenas para provocar.
- Quem consegue ganhar daqueles cabelos loiros, olhos azuis, e bochechas vermelhas do tamanho de maças. – Ele me respondia com uma falsa pergunta, ele sabia que todos idolatravam a única menina da família, Alyna era a mais nova de sete irmãos, seis homens e apenas ela de menina, e que doce e adorável menina.
O rapaz se aproximava, e se curvava em minha direção, estendia sua mão, e eu a toquei. Sua formalidade direcionada a minha pessoa era uma brincadeira de infância. Eu como rainha deveria tocar a mão de meus súditos, e Sven brincava ser meu súdito mais fiel.
-Até breve – O menino se despedia saindo do local.
Talvez fosse o destino ter meu amor não correspondido por Sven, ele seria prometido a uma prima diferente, se casaria e então eu seria prometida a um príncipe de primeira linhagem e me casaria. Mas era do meu gosto poder desfrutar alguns momentos com Sven.
- Mamãe, Papai... acho que devo me retirar para meu repouso. Estou cansada, o dia de hoje foi longo o suficiente para me tirar todas as energias. – Falei já dando as costas para ambos.
- Alguma criada irá preparar um banho para você, então não caia no sono assim que se sentar sobre a cama. – Minha mãe falava com minhas costas.
Isso pode esperar alguns minutos, a desculpa do meu cansaço sempre cairia como uma luva sobre meus pais.
-AH!- Um grito agudo saiu de minha garganta quando fui agarrada pela cintura. – Sven!

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Maldito Seja
FantasiExistem lendas que contam guerras que não presenciamos guerreiros que não sabemos se realmente existiram, tempestades devastadoras e seus sobreviventes, sabemos o que foi escrito pelos primeiros mestres e cantado nas fogueiras, sabemos do céu e sua...