Naquela noite Donna chegou em casa de mau humor e bateu a porta. Tirou os saltos de qualquer jeito e os jogou em algum canto aleatório com mais força que o necessário.
— Uau. — Sheila disse sentada no sofá da ruiva, segurando uma taça de vinho. Donna parou e virou-se para ela com uma expressão de poucos amigos. — Para quem impressionou uma das produtoras mais influentes de Hollywood logo de cara e conseguiu o papel principal em um filme você deveria estar mais feliz.
— Por que eu te dei a chave do meu apartamento mesmo? — Donna ironizou e colocou a bolsa em cima da mesa antes de se juntar à Sheila. Uma outra taça de vinho estava na mesinha de centro a sua espera.
— Por isso, querida. — Sheila sorriu apontando para a taça com a cabeça enquanto Donna a pegava. — Como foi com Thomas?
— Como se você já não soubesse. — Donna suspirou e bebeu o conteúdo da taça quase todo de uma vez e apontou para o objeto com a outra mão logo em seguida. — Só isso não vai resolver.
— Eu sei. E é por isso que tem mais na cozinha. — Sheila riu. — Vamos, me conta.
Donna passou a mão nos cabelos ruivos e respirou fundo.
— É claro que ele não aceitou isso. Nem um parabéns eu ganhei. — Ela bufou e revirou os olhos antes de dar mais um gole na taça. — Ele disse que eu não precisava disso na minha vida quando eu falei que isso era uma grande oportunidade para mim. Que eu estava muito bem como estava. — Os olhos de Donna começaram a encher com lágrimas de frustração e sua voz falhou ao dizer a última frase. — When I said I wanted something more, ele falou que eu não sabia o que estava dizendo e que você que colocou essas coisas na minha cabeça... Então nós brigamos. Outra vez.
— That son of a bitch! — Sheila gritou com raiva, derrubando a taça ao batê-la com força na mesinha.
— Sheila! — Donna disse olhando os cacos de vidro.
— I'm sorry, Donna, é que... Ugh, eu não entendo como você continua com esse cara! Olha as coisas que ele te falou! Ele não apoia sua carreira, nunca fica feliz pelo seu crescimento e ainda diz que você é influenciada por mim! — Sheila disse inconformada. — Às vezes queria eu que você fosse, pelo menos um pouquinho do que ele diz que você é, porque assim esse namoro já teria terminado há muito tempo. — Donna abriu a boca para falar, mas Sheila levantou um dedo, impedindo-a. — Não. Nem tente justificar essas atitudes dele outra vez. Olha como você chegou em casa! Isso não é um relacionamento saudável! Tudo o que vocês fazem é brigar o tempo todo. Você merece muito mais que isso, Donna. Você não precisa dele.
— Eu sei. — Ela suspirou. — Eu sei. — E realmente sabia, mas por algum motivo não conseguia terminar com ele. — Olha, você sabe que eu aprecio sua preocupação, mas eu vou ficar bem. Eu sempre fico. — Donna deu um pequeno sorriso para a agente e Sheila sacudiu a cabeça, exausta daquele assunto sempre acabar da mesma forma.
— Pelo menos ele assinou o contrato? — Sheila perguntou ao ver Donna se levantar. Todos que sabiam do segredo da fake relationship precisavam assinar um contrato de sigilo. Assim que Donna contou para Jessica sobre seu namorado, ela rapidamente providenciou um para que Thomas assinasse também. O que menos queria era seu filme prejudicado.
— Sim, depois de muita resistência. — Donna entregou o contrato para ela e foi até a cozinha pegar a garrafa de vinho que Sheila havia separado.
— Menos um problema. — Sheila murmurou e viu a ruiva caminhar até o banheiro com a garrafa de vinho. Sacudiu a cabeça em negação mais uma vez.
Era sempre a mesma coisa.
Donna e Thomas discutiam.
Donna pegava uma bebida e ficava horas na banheira repassando a briga mentalmente. Depois disso, se enrolava no seu cobertor. No dia seguinte acordava com Thomas em sua porta pedindo desculpas e ela, como sempre, perdoava. Até que poucos dias depois tudo isso se repetia.Donna estava presa num ciclo vicioso.
♡
Algumas semanas depois tiveram a primeira table read.
Donna conheceu o restante de seus colegas de elenco quando chegou ao estúdio e na mesma hora sentiu uma conexão com Rachel, que interpretaria o empecilho no romance de Laura e Christian. As duas estavam conversando como se fossem melhores amigas há anos quando a ruiva viu Harvey indo na direção delas.
— Hey, Rachel. — Harvey chamou ao se aproximar e a morena virou para trás. — Eu estava falando com Mike e Scottie agora e eles pediram para que eu chamasse você.
— Uh, ok. — Rachel respondeu e voltou a atenção para Donna, entregando-lhe seu celular. Harvey continuava parado ali. — Coloca seu número aqui para terminarmos de combinar sobre esse fim de semana mais tarde!
— Claro. — Donna sorriu e pegou o aparelho. Após digitar seu telefone, Rachel se despediu da nova amiga e saiu.
— Sabe, eu estava aqui pensando e acho que você deveria me dar o seu número também. — Harvey chegou um pouco mais perto de Donna com o mesmo sorriso de sempre no rosto.
— Ah, é? E por que eu faria isso? — Donna perguntou cruzando os braços enquanto sorria de leve sem mostrar os dentes, se esforçando para permanecer séria. O sorriso de Harvey a contagiava por mais que ela tentasse ignorar.
— Nunca se sabe. — Ele deu de ombros, fingindo inocência. — Talvez a gente precise combinar de trabalhar a química entre a gente... You know, para as cenas.
— Nós já temos química. — Donna disparou e seu rosto corou levemente quando percebeu como aquilo havia soado.
— Está dando em cima de mim, Paulsen? — Harvey também cruzou os braços com uma diversão estampada em seu rosto enquanto via Donna ficar sem graça. — Ao menos me leve para jantar primeiro.
— Você entendeu o que eu quis dizer... — Ela revirou os olhos e se mexeu de maneira desconfortável enquanto tentava argumentar. — Não precisamos trabalhar química nenhuma... A gente... Ai, foi aquilo lá que Jessica falou. — Ela bufou e desviou o olhar.
— Entendi. I was just messing with you. — Harvey riu, achando sua reação fofa. — Mas falando sério, você podia me dar seu número. Em alguma hora isso vai acabar acontecendo, afinal somos co-stars e você vai ser minha namorada... — Donna ergueu uma sobrancelha. — De mentira. Namorada de mentira. — Ele acrescentou rapidamente e deu um de seus sorrisos, tentando disfarçar. — E que tipo de fake couple nós seríamos se não tivéssemos o número um do outro, né?
Donna suspirou derrotada e esticou a mão enquanto reprimia um sorriso.
— Fine. Me dê seu celular. — Harvey lhe entregou o aparelho e ampliava seu sorriso conforme observava Donna digitando seu número. — Mas nada de mensagens inúteis, correntinhas ou emojis em excesso. — Ela disse enquanto devolvia o celular.
— Donna, Harvey. — Katrina os chamou. — Desculpa interromper, mas vocês precisam ir para a sala agora. A leitura do roteiro já vai começar. — Os dois assentiram e começaram a andar.
— Ainda bem que você não disse nada sobre selfies. — Harvey disse enquanto caminhava ao lado dela. — Adoro ilustrar minhas mensagens para que a pessoa veja exatamente minha reação no momento.
— Ah, não. Isso entra em "mensagens inúteis". — Donna provocou e deu uma risada.
— Excuse me? — Harvey fingiu indignação e apontou para si mesmo. — Olha bem para esse rostinho aqui. Como você tem coragem de falar que isso é conteúdo inútil?
— Você que está dizendo. — Donna levantou as mãos em rendição. — Eu não disse nada sobre isso — ela apontou para o rosto dele — ser conteúdo inútil. Eu falei que mandar fotos nas mensagens entrava nessa categoria.
— Hmm, então você está dizendo que eu sou bonito? — Harvey deu um sorriso convencido, provocando-a, e parou para segurar a porta da sala, gesticulando para que Donna entrasse primeiro.
— E você mais uma vez colocando palavras na minha boca. — Ela parou na frente dele - perto, muito perto - e sacudiu a cabeça, também sorrindo, antes de entrar na sala. Ela não negou.
Sim, o achava bonito. Muito bonito.
E a cada dia que passava parecia que essa beleza ficava cada vez mais evidente diante de seus olhos.
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Personal
Romance[AU INCOMPLETA] "That was about business, this is personal" • Harvey e Donna são atores de um filme;